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Galeria Galatea é o novo fervo de Salvador com muito há ser visto

A galeria Galatea, do trio Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo comprova que ainda há muito para ser visto fora do eixo Rio-São Paulo

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Exposição coletiva na Galatea Salvador, aberta este ano, e obra Bisão, 2023, acrílica e óleo sobre linho de Daniel Lannes - Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

Novo fervo em Salvador, a galeria Galatea, do trio Antonia Bergamin, Conrado Mesquita e Tomás Toledo comprova que ainda há muito para ser visto fora do eixo Rio-São Paulo. Confira! 

Conhecida pela turma das artes apenas como Galatea, a galeria batizada com o nome da amada do Pigmaleão da mitologia grega, logo que abriu em 2022, em plena rua Oscar Freire, nos Jardins, entrou com tudo na cena paulistana. E continua causando. Este ano, Galatea fincou seu novo endereço no centro histórico de Salvador, na rua Chile, em prédio modernista com painel externo assinado por Caribé, o mais baiano dos artistas argentinos. Trabalhando um portfólio com fricção entre o antigo e o novo, o erudito e o informal, Galatea é pilotada por seus jovens sócios: Antonia Bergamin toca a gestão e as vendas; Conrado Mesquita concentra-se na captação de obras e nas oportunidades de negócios; e o nosso entrevistado, Tomás Toledo, 37 anos, que com seu misto de obsessão, paixão e rigor, atua na direção artística e na curadoria de exposições. GALATEA.ART

 

L’OFFICIEL HOMMES Você sempre gostou de arte? 

TOMÁS TOLEDO Sempre! E tive o privilégio de ser estimulado a gostar desde criança por minha mãe, que me apoiou. Isso foi fundamental para a minha formação. A minha avó materna também foi uma figura importante, pois nutria um interesse cultural amplo, e quando viveu nos anos 1960 com o meu avô no Zaire, atual República Democrática do Congo, no continente africano, entrou em contato com a produção artística local e trouxe para o Brasil pinturas, desenhos e artefatos locais que moldaram o meu olhar.

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Exposição do artista e ferreiro baiano José Adário, que inaugurou a Galatea São Paulo - Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

L’OFF Este ano a Galatea abriu uma nova sede. Por que escolheram Salvador? 

TT Salvador vem da relação da Galatea com o artista José Adário, o ferreiro de candomblé mais antigo em atividade, com quem montamos uma exposição individual na galeria de São Paulo. A partir daí, iniciou-se uma relação de troca com o artista e o seu contexto que nos fez pensar em um projeto pontual em solo soteropolitano. Fomos seduzidos pela cena artística da cidade e pelo imóvel incrível em que agora está a Galatea Salvador. Para nós, a ideia de uma sede fora do Sudeste fazia sentido, vai ao encontro com o programa da galeria, que além de trabalhar com grandes nomes da arte brasileira do século 20 e com arte contemporânea, tem um de seus pilares focado em produções fora do cânone, re posicionando artistas à margem do mercado e da arte.

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Biquiba, 1971, óleo sobre tela colada em madeira de Miguel dos Santos - Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

L’OFF Vamos ao MASP. Você trabalhou oito anos com o Adriano Pedrosa, como foi essa experiência? 

TT Foi uma grande escola, admiro muito o que ele desenvolve à frente do MASP. O Adriano me convidou para trabalhar com ele quando assumiu a direção artística, em 2014, e reformulou o programa do museu. Fui de assistente de curadoria a curador-chefe. Foram anos de realizações incríveis! Como o museu estava em processo de renovação institucional, iniciado pelo Heitor Martins (presidente do MASP), foi possível fazer coisas novas e radicais, como a retomada dos icônicos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi e a criação de um programa de exposições conectado com as urgências da contemporaneidade e não mais ensimesmado em discussões da história da arte.

 

L’OFF Você esteve na atual Bienal de Veneza na qual Adriano Pedrosa atua como curador-chefe? 

TT Estive na abertura para ver a curadoria do Adriano, que está fantástica e apresenta diversos pontos de contato com o programa das “histórias” desenvolvido por ele no MASP.

 

L’OFF Antes disso, já havia estado em alguma edição da Bienal de Veneza? 

TT A minha primeira experiência foi a do Massimiliano Gioni, em 2013. De lá para cá visitei todas as edições. É o meu programa artístico preferido, além de ser apaixonado pela cidade. 

 

L’OFF E antes do MASP, você se dedicava a quê? 

TT Na adolescência fui assistente no ateliê do artista Celso Orsini, meu professor de Artes na Escola Viva. Mas, vi que a minha atuação seria no campo teórico e não no prático, então cursei Filosofia com o objetivo de ter uma formação crítica para atuar como curador. Trabalhei com a Isabella Prata na coordenação de cursos da Escola São Paulo, um lugar fantástico, onde tive as minhas vivências iniciais com exposições e depois tornei-me curador independente.

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Obra Bisão, 2023, acrílica e óleo sobre linho de Daniel Lannes - Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

L’OFF O que guia o seu olhar? 

TT Capto o que vejo de interessante, arquivando internamente e processando relações, diálogos e cruzamentos com essas imagens, conteúdos e existência. O meu processo curatorial parte disso, desse meu colecionismo imaterial e vivencial, que mistura memória com a urgência do hoje.

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Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

L’OFF Em uma coleção particular, qual deve ser o fio condutor? 

TT A força motriz de uma coleção de arte deve ser o universo pessoal do colecionador. Às vezes ela é um escape do mundo cotidiano e do trabalho do colecionador, outras vezes é uma mistura transbordante da própria vida do sujeito. De qualquer forma, o grande segredo é a genuinidade no colecionar.

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Retrato do curador Tomas Toledo e obra Tocaia na Terra de Ouro, 2024, acrílica sobre tela de Bruno Novelli - Foto: Ding Musa / Cortesia Galatea.

L’OFF No momento, onde rola a cena das artes plásticas mais interessante do Brasil?

TT Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza.

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