Papa Bento: descubra suas últimas palavras e leia seu testamento
O texto foi divulgado na íntegra pelo Vaticano, que aproveitou para afirmar que o testamento do papa emérito é uma pequena aula de Teologia.
O papa Bento 16, que morreu no último dia do ano de 2022, teve seu testamento revelado. No documento, escrito em agosto de 2006, Bento solicita que os católicos "permaneçam firmes na fé" e pede perdão para aqueles que eventualmente prejudicou de alguma forma em vida.
O texto foi divulgado na íntegra pelo Vaticano, que aproveitou para afirmar que o testamento do papa emérito é uma pequena aula de Teologia. Entre as diversas afirmações do religioso, Bento disse que a ciência é passível de erro e tem uma certeza: "Jesus Cristo é realmente o caminho, a verdade e a vida — e a Igreja, com todas as suas insuficiências, é realmente o Seu corpo".
A instituição católica também contou quais foram as últimas palavras proferidas por um dos homens mais importantes da igreja. “Por volta das 3h da madrugada de 31 de dezembro, algumas horas antes de morrer. Quem as ouviu foi o enfermeiro de turno, que naquele momento estava a sós com o Papa emérito e referiu as palavras ao secretário, o bispo Georg Gänswein. Com um fio de voz, mas de modo distinguível, disse em italiano: ‘Senhor, te amo!’’, afirmou o Vaticano através de suas redes sociais.
Testamento Espiritual de Bento XVI
Ao olhar para esta hora tardia da minha vida depois das décadas que percorri, a primeira coisa que vejo é quantos motivos tenho para ser grato. Agradeço antes de tudo ao próprio Deus, doador de todo o bem, que me deu a vida e me guiou em vários momentos de confusão; me amparando toda vez que eu começava a escorregar e sempre me dando a luz de seu rosto novamente. Retrospectivamente, vejo e entendo que mesmo os trechos escuros e cansativos desse caminho foram para minha salvação e que foi justamente neles que Ele me guiou bem.
Agradeço aos meus pais, que me deram a vida em um tempo difícil e que, à custa de grandes sacrifícios, com seu amor prepararam para mim um lar magnífico que, como uma luz clara, ilumina todos os meus dias até hoje. A fé lúcida de meu pai ensinou a nós, filhos, a acreditar, e como um marco sempre esteve firme em meio a todas as minhas aquisições científicas; a profunda devoção e a grande bondade de minha mãe são uma herança pela qual nunca poderei agradecer o suficiente. Minha irmã me ajudou por décadas de forma abnegada e com carinho; meu irmão, com a lucidez de seus julgamentos, sua convicção vigorosa e serenidade de coração, sempre me aplainou o caminho; sem a sua contínua ajuda, me precedendo e me acompanhando, eu não teria conseguido encontrar o caminho certo.
De coração, agradeço a Deus pelos muitos amigos, homens e mulheres, que Ele sempre colocou ao meu lado; pelos colaboradores em todas as etapas da minha jornada; pelos professores e alunos que Ele me deu. Confio-os todos com gratidão à Sua bondade. E quero agradecer ao Senhor por minha bela pátria no sopé dos Alpes da Baviera, na qual sempre vi brilhar o esplendor do próprio Criador. Agradeço ao povo da minha pátria porque nele sempre pude experimentar de novo a beleza da fé. Rezo para que nossa terra continue sendo uma terra de fé e, imploro, queridos compatriotas: não vos deixeis desviar da fé. E, finalmente, agradeço a Deus por toda a beleza que pude experimentar em todas as etapas da minha jornada, especialmente em Roma e na Itália que se tornou minha segunda pátria.
A todos aqueles a quem prejudiquei de alguma forma, peço sinceramente perdão.
O que antes dizia aos meus compatriotas, digo agora a todos os que na Igreja foram confiados ao meu serviço: permaneçam firmes na fé! Não se deixem confundir! Muitas vezes parece que a ciência - as ciências naturais por um lado e a pesquisa histórica (em particular a exegese da Sagrada Escritura) por outro - são capazes de oferecer resultados irrefutáveis em contraste com a fé católica. Tenho acompanhado as transformações das ciências naturais desde tempos remotos e pude ver como, ao contrário, desapareceram as certezas aparentes contra a fé, revelando-se não serem de fato ciência, mas interpretações filosóficas apenas aparentemente devidas à ciência; aliás, é no diálogo com as ciências naturais que também a fé aprendeu a compreender melhor o limite do alcance das suas afirmações e, portanto, a sua especificidade. São mais de sessenta anos acompanhando o caminho da teologia, especialmente das ciências bíblicas, e com a sucessão de diferentes gerações vi desmoronar teses que pareciam inabaláveis, revelando-se meras hipóteses: a geração liberal (Harnack, Jülicher, etc. ), a geração existencialista (Bultmann etc.), a geração marxista. Vi e continuo vendo a razoabilidade da fé emergindo continuamente deste emaranhado de hipóteses. Jesus Cristo é verdadeiramente o caminho, a verdade e a vida - e a Igreja, com todas as suas deficiências, é verdadeiramente o Seu corpo.
Por fim, peço humildemente: rezem por mim, para que o Senhor, apesar de todos os meus pecados e faltas, me acolha nas moradas eternas. E a todos aqueles a mim confiados, dia após dia, recebam de coração as minhas orações.