Pedro Carvalho: versatilidade e alma em cena agora no teatro
Pedro Carvalho fala com a L’Officiel Hommes Brasil sobre sua estreia no teatro brasileiro e sua paixão pela arte em todas as formas
Pedro Carvalho é um ator português que conquistou o público tanto em seu país de origem quanto no Brasil, destacando-se por sua versatilidade e carisma em cena. Com uma carreira que já soma mais de 20 anos, Pedro iniciou sua trajetória artística ainda jovem, estudando teatro e, desde então, tem acumulado sucessos na televisão, cinema e, agora, no teatro. No Brasil, ele ficou conhecido por interpretar personagens icônicos como Amaro, em "O Outro Lado do Paraíso", e Abel, em "A Dona do Pedaço", ambos na TV Globo, além de continuar a expandir sua carreira internacionalmente.
Atualmente, Pedro Carvalho mergulha em um novo desafio com sua estreia no teatro brasileiro, na peça "Pandemônio", em cartaz no Rio de Janeiro. O espetáculo, escrito por Alessandro Marson e dirigido por Breno Sanches, aborda questões contemporâneas como o fundamentalismo religioso e a política. Em uma conversa exclusiva com a L'Officiel Hommes Brasil, Pedro fala sobre sua experiência entre Portugal e Brasil, os desafios de interpretar personagens tão distintos e seus novos projetos, que prometem surpreender o público.
L'Officiel Hommes: Pedro, você tem uma carreira sólida tanto em Portugal quanto no Brasil. Como é para você transitar entre essas duas culturas tão diferentes? Quais são os maiores desafios?
Pedro Carvalho: Sou português de raiz, mas sou brasileiro de alma. Amo o Brasil, amo trabalhar aqui, viver aqui. E gosto demais dessa minha vida de “caixeiro-viajante”, gravando um projeto aqui e outro lá em Portugal. Em Portugal eu cresci, literalmente, na TV; o público me viu crescer como homem e como artista. Comecei muito novo, e já são quase 20 anos de carreira, 18 novelas, filmes, séries, peças de teatro. Aqui no Brasil, já são quase 10 anos, com 4 novelas, 1 série, e 2 longas, e agora essa peça de teatro em um teatro que, quando cheguei ao Brasil, em 2015, para fazer o meu primeiro projeto aqui, sempre desejei trabalhar: o Teatro Poeira.
L'Officiel Hommes: Interpretar o Amaro em "O Outro Lado do Paraíso" trouxe grande notoriedade no Brasil. Como esse papel impactou sua carreira e sua visão sobre a teledramaturgia brasileira?
Pedro Carvalho: Foi o meu primeiro personagem na Globo, numa novela das 21h, e foi uma novela que teve uma audiência incrível. O “Amaro” tinha muitas nuances. Foi realmente um presente. Trabalhar numa novela do Walcyr Carrasco, que é considerado um dos grandes gênios da teledramaturgia brasileira, e num elenco tão talentoso e de artistas tão consagrados foi, de fato, uma conquista que me deixou muito feliz e com um senso de responsabilidade muito grande em querer fazer mais e melhor. Depois teve a virada do personagem, que foi incrível; o fato de ele ficar cego, de toda essa construção e composição. Foi, de fato, um projeto muito feliz.
L'Officiel Hommes Brasil: O personagem Abel, de "A Dona do Pedaço", cativou o público com sua simplicidade. Como foi para você dar vida a um papel tão diferente de Amaro e trabalhar com grandes nomes como Juliana Paes?
Pedro Carvalho: Em 20 anos de carreira, entre Portugal e Brasil, posso dizer seguramente que esse foi o personagem que eu mais gostei de fazer, o projeto mais especial. O “Abel” foi uma surpresa; ninguém sabia que iria ser aquele sucesso, e ainda hoje é. Eu me divertia muito fazendo o personagem, em cena, isso era notório até para quem assistia. Os meus colegas de cena e equipe técnica sempre me permitiam criar muito, e a Juliana Paes foi uma das atrizes mais generosas e talentosas com quem já trabalhei. Acho que ela merece todo o sucesso que tem; é, de fato, uma pessoa linda e com quem espero voltar a trabalhar em breve.
L'Officiel Hommes Brasil: "Pandemônio" aborda temas como fundamentalismo religioso e política, questões extremamente atuais. Como você se preparou para interpretar um pastor em um contexto tão denso?
Pedro Carvalho: Sim, na peça “Pandemônio” interpreto um pastor evangélico que se refugia em um bunker com uma atriz ativista durante um ano, durante um golpe de Estado/guerra. A dificuldade em conseguirem alimento e a diferença dos ideais que defendem vai colocar suas emoções em choque a maior parte do tempo, e é aí, quando estão mais frágeis e expostos, que as verdades surgem. É um personagem bem controverso; o processo de ensaios foi um desafio maravilhoso, que me provocou em lugares muito bons e que me levaram à construção deste “pastor Anton”. Sim, este personagem é um grande desafio e totalmente diferente de mim. E isso é incrível!
L'Officiel Hommes Brasil: Você já tem uma vasta experiência em novelas, mas "Pandemônio" marca sua estreia no teatro brasileiro. Quais são as principais diferenças que você sente entre atuar no teatro e na televisão?
Pedro Carvalho: Já há muito tempo queria fazer teatro no Brasil. Em Portugal já fiz muitas peças ao longo dos meus quase 20 anos de carreira, e desde que cheguei ao Rio, em 2015, para fazer o meu primeiro projeto aqui, já havia recebido alguns convites para fazer algumas peças, mas ainda nenhum texto me tinha seduzido tanto como “Pandemônio”. O autor Alessandro Marson me ligou e perguntou se poderia me enviar um texto que tinha escrito para dois atores. Assim que recebi o texto, não consegui parar de ler. É um suspense que aborda questões muito polêmicas e necessárias a serem faladas e discutidas, mas que as pessoas se incomodam em colocar em cima da mesa. É uma peça/filme com ritmo acelerado, quase um murro no estômago. E, a juntar a tudo isto, o fato de ser no Teatro Poeira, que sempre foi um dos teatros de paixão aqui no Rio. A equipe que está conosco é uma equipe dos sonhos, desde a direção do Breno Sanches, luz, cenografia, preparação vocal e de corpo, figurino…
Televisão e teatro são duas áreas que complementam qualquer ator. Embora a TV tenha um ritmo mais acelerado de gravação, requer mais perspicácia; o teatro é mais trabalhado, de uma forma mais minuciosa, e tem a magia do público. Todos os dias o mesmo texto é diferente porque temos o fator público, que nos traz sempre uma energia totalmente diferente. E isso é muito mágico.
L'Officiel Hommes Brasil: Você começou sua carreira ainda jovem, estudando teatro. Como foi essa jornada inicial e o que te motivou a seguir essa profissão? Você teve alguma inspiração em particular?
Pedro Carvalho: Eu comecei estudando teatro escondido dos meus pais. Não tenho nenhum artista na família; eu sou o único, em várias gerações, até os dias de hoje. Desde criança pinto, desenho, faço teatro, canto… a arte sempre fez parte da minha essência, mas nunca bebi dessa referência de ninguém. Nasceu comigo simplesmente, e eu fui alimentando-a com a minha personalidade.
Comecei a estudar teatro muito novo e, quando fui prestar provas para a faculdade, entrei na faculdade de Arquitetura (onde sou mestre) e, ao mesmo tempo, sem que os meus pais soubessem, fiz artes cênicas na escola de teatro em Lisboa. Cursava os dois cursos em simultâneo, um de dia e outro de noite. Os meus pais só descobriram quando me viram na TV no meu primeiro papel como mocinho da nossa “Malhação”, que em Portugal se chama “Morangos com Açúcar”.
Eu sempre amei arte, sempre respirei arte. As minhas primeiras memórias são de desenhar ou pintar, inventar histórias no papel e depois passá-las para a ação. Ver personagens na TV e me vestir como eles, imitar os seus gestos e trejeitos à mesa, maneira de falar, andar… De a minha mãe me levar, com uns 9 anos, ao Museu do Louvre, em Paris, e eu ficar horas a olhar para cada quadro minuciosamente, a tentar entender o traço de cada artista, aquela tela, aquela história ali desenhada, pintada, enquanto os meus irmãos choravam porque queriam ir embora brincar num parquinho. Então, acho que, de fato, a arte nasceu comigo.
L'Officiel Hommes Brasil: Como é o seu processo criativo na construção de um personagem tão multifacetado como o pastor em "Pandemônio"? Você costuma trazer referências pessoais ou prefere uma abordagem mais técnica?
Pedro Carvalho: O processo de ensaios foi muito intenso, e o Breno Sanches, o diretor da peça, soube nos conduzir de forma a que eu e a Jessica, que interpreta a ‘Kika’, chegássemos a esse lugar. Um pastor e uma atriz prostituta que são obrigados a conviver em um bunker durante um ano, com ideais completamente opostos, sonhos, ambições, ideais. Numa narrativa que vai de trás para frente, quase em flashback, de forma muito poética e intensa, do início ao fim. Para a construção do ‘Anton’, este pastor evangélico, assisti a vários documentários sobre extremistas partidários, gurus de seitas religiosas e, principalmente, trabalhei muito a minha relação com a Jessica em cena, já que o jogo é de nós dois ali, o tempo todo, passando a bola um para o outro. E esse é o barato da peça. Tivemos o acompanhamento de uma equipe técnica incrível, desde o cenário, luz, figurino, preparação vocal, preparação de corpo… trabalhar com esta equipe tão talentosa sob um texto tão denso e com tantas camadas, como o do Alessandro Marson, é, de fato, um privilégio. Estamos lotando as cadeiras, e isso é muito gratificante. O espetáculo está, de fato, muito lindo.
L'Officiel Hommes Brasil: A moda é uma parte importante da sua vida? Como você descreve seu estilo pessoal no dia a dia e no trabalho? Moda, para você, é uma forma de expressão artística, como a atuação?
Pedro Carvalho: Adoro moda, desde as peças mais práticas e simples, como uns jeans e uma camiseta preta ou branca e tênis, até uma roupa de alta costura. No dia a dia sou bem prático, mas quem me conhece percebe que tenho o meu estilo, a minha personalidade impressa no que visto, seja num detalhe como uma bolsa, uma calça de alfaiataria mais larga, um óculos de sol...
A moda, para mim, é, sem dúvida, uma forma de expressão artística, mas, principalmente, uma forma de expressão pessoal. A forma como a pessoa se veste diz muito sobre a sua personalidade.
L'Officiel Hommes Brasil: Sendo uma figura pública, como é sua relação com as redes sociais? Como você lida com a exposição e o feedback dos fãs?
Pedro Carvalho: Sou bem ativo na única rede social que administro, o meu Instagram; todas as outras são administradas pela minha equipe. De um ano para cá, contratei uma pessoa para construir comigo a minha identidade no meu Instagram e, hoje, eu seria meu seguidor. Gosto e me identifico com o conteúdo que posto; acho relevante e interessante. Falo de arte, de arquitetura, de moda, de livros, de cultura portuguesa, de cultura brasileira; falo com os dois países que fazem parte da minha história e da minha existência: Portugal e Brasil. Falo sobre o meu trabalho e os processos artísticos de construção de personagens, falo sobre viagens... e divulgo meu trabalho.
Não sou aquele tipo de artista que acorda e dá bom dia ao público e fica postando o dia todo a sua rotina. Encontrei uma forma de me comunicar com a qual me identifico, através destes reels e conteúdos pensados e que têm tudo a ver comigo.
Eu mesmo respondo aos fãs/seguidores. E, muitas vezes, as coisas que eles me trazem, eu uso para criar conteúdo em cima disso. Isso me permite ter um diálogo mais direto com eles.
L'Officiel Hommes Brasil: Você já conquistou muito tanto em Portugal quanto no Brasil. Existe alguma diferença na forma como o público dos dois países te recebe? Como você sente essa recepção em cada lugar?
Pedro Carvalho: Sou muito acarinhado nos dois países; me sinto completamente e igualmente em casa.
L'Officiel Hommes Brasil: Família é uma parte importante da sua vida? Como você equilibra sua carreira internacional com a vida pessoal? Você é casado com João Henrique; existe algum plano de aumentar a família?
Pedro Carvalho: Estou acostumado a fazer esse equilíbrio desde muito novo; para mim e para os meus já é muito natural e orgânico a forma como fazemos esse equilíbrio. A minha vida é e será sempre essa, se Deus quiser, sempre pelo mundo, e eu gosto assim. Eu e o João temos planos de ser pais muito em breve.
L'Officiel Hommes Brasil: Além de atuar, você também tem experiência como modelo. Como essa faceta da sua carreira influencia sua presença em cena e sua relação com a moda?
Pedro Carvalho: Principalmente a ter verdadeira noção do meu corpo, de como me posicionar diante de uma lente, diante da luz, diante da câmera.
L'Officiel Hommes Brasil: Por fim, o que os fãs podem esperar de Pedro Carvalho nos próximos anos? Você tem alguma meta pessoal ou profissional que ainda quer alcançar?
Pedro Carvalho: Um clichê, mas que é a mais pura das verdades: espero continuar a ter bons desafios profissionais e estar rodeado das pessoas que mais amo, fazendo o que mais amo, com saúde física, mental e espiritual, num mundo mais empático.
Bate-bola
L'Officiel Hommes Brasil: Um filme favorito?
Pedro Carvalho: "Close."
L'Officiel Hommes Brasil: Ator ou atriz que mais te inspira?
Pedro Carvalho: Jake Gyllenhaal.
L'Officiel Hommes Brasil: Teatro ou TV?
Pedro Carvalho: Os dois.
L'Officiel Hommes Brasil: Sua peça de roupa preferida?
Pedro Carvalho: Camiseta preta básica.
L'Officiel Hommes Brasil: Sua comida brasileira favorita?
Pedro Carvalho: Doce de leite.
L'Officiel Hommes Brasil: Uma cidade no Brasil para viver?
Pedro Carvalho: Rio de Janeiro.
L'Officiel Hommes Brasil: Um hábito de que não abre mão?
Pedro Carvalho: Praticar esporte todos os dias da semana, principalmente boxe.
L'Officiel Hommes Brasil: Eu amo o Brasil porquê...
Pedro Carvalho: Amo tudo no Brasil: a cultura, as pessoas, o clima, a doceria, a música, a paixão, a natureza, o pôr do sol.