Samuel de Assis fala sobre moda, carreira e representatividade
Samuel de Assis fala com exclusividade à L’Officiel Hommes Brasil sobre estilo, carreira e a importância da representatividade na indústria
Na reta final de "Mania de Você", Samuel de Assis está se despedindo de mais um personagem marcante em sua carreira e abre o jogo, em uma entrevista exclusiva à L’Officiel Hommes Brasil, sobre sua trajetória, desafios e conquistas. Ator, apaixonado por moda e dono de uma presença magnética dentro e fora das telas, ele reflete sobre como a arte o encontrou em um grupo espírita, moldando sua visão de mundo e impulsionando sua entrega nos palcos e na TV. Entre reviravoltas na dramaturgia e momentos inesquecíveis no Carnaval onde foi campeão com a Beija- flor em 2025, ele traça um percurso onde talento e paixão caminham lado a lado, fazendo dele um dos grandes nomes da nova geração.
Da explosão de popularidade em “Vai na Fé" ao triângulo amoroso arrebatador de sua atual novela, Samuel não teme desafios e segue conquistando o público com atuações intensas e uma postura inspiradora. Seu amor pelo teatro, sua relação com a moda e a representatividade negra na mídia são alguns dos temas que ele aborda com a autenticidade de quem entende a importância de ocupar espaços. Com carisma e discurso afiado, ele revela bastidores, relembra momentos marcantes e dá um gostinho do que vem por aí em sua carreira.
L’Officiel Hommes- Samuel, seu primeiro contato com a atuação foi em um grupo espírita. Como essa experiência te moldou como ator e o que ela representou na sua vida? Você já fez de tudo um pouco na arte. Onde se sente mais em casa?
Samuel- Ah, foi o pontapé inicial, né! Foi o que fez o bichinho da arte me picar. Eu sou muito grato a essa descoberta porque ao mesmo tempo que me despertou, me fez ter a maturidade e a consciência de esperar o momento certo. Eu ainda quero explorar mais de tudo! O palco é o meu lugar no mundo. Minha fé, minha saúde e meu amor. Mas amo todas as expressões de arte que posso experimentar.
L’Officiel Hommes- Em Vai na Fé, seu personagem passou por grandes reviravoltas e conquistou o público. Qual foi o maior desafio de interpretar o Ben? Alguma cena ficou marcada para sempre? O que mais te orgulha nessa trajetória? E teve algum retorno dos fãs que te emocionou?
Samuel- Sim. O Ben era um cara muito autocentrado e seguro de si, coisa que eu não era. Então, acho que essa foi uma grande dificuldade. A cena em que conto à Sol que ela sofreu um estupro, com certeza, foi muito marcante. Pela nossa entrega, pelo texto, por tudo! E o momento mais marcante da relação com o público foi com as crianças na porta do Museu do Samba, na Mangueira. Eram quase 100 crianças me agarrando, rasgando minha roupa e querendo um abraço. Foi Lindo Demais! Choro até hoje, só de lembrar.
L’Officiel Hommes- Em Mania de Você, você vive um triângulo amoroso intenso. Se dependesse de você, Michele ficaria com Daniel ou com Cristiano? O que pode adiantar sobre o desfecho da novela? E, no último dia de gravação, qual foi o sentimento ao se despedir do personagem?
Samuel- Eu acho que tinha que ficar com o Daniel. Eles têm uma química forte e desejos em comum, se amam de verdade. E, com o Cristiano, ela tem gratidão, não acho que seja amor de verdade. Tomara que o João pense a mesma coisa que eu (risos). Eu amei fazer o Daniel e ter uma história à parte de toda a novela. Foi muito interessante isso.
L’Officiel Hommes- Desfilar pela Beija-Flor e ver a escola levar o título foi um momento especial. Como foi o convite e essa experiência para você? O que o Carnaval significa na sua vida?
Samuel- O convite veio para ser protagonista do enredo do Carnaval 2024 e a minha resposta foi: só aceito se for para nunca mais sair, afinal, eu estou na minha escola de coração! E aí, este ano fui surpreendido com o convite para vir de Destaque, no Chão, e ainda representando a energia que cultuo que é a energia de Orixá, honra máxima! Carnaval pra mim é coisa seríssima. Eu amo a festa e tenho o máximo respeito por ela ser resultado de muita resistência e resiliência do meu povo preto! Eu amo a Beija-Flor, tenho projetos muito queridos para colocar em prática, lá dentro.
L’Officiel Hommes- Com novelas, teatro e gravações, como você equilibra trabalho e vida pessoal? Consegue se desligar dos personagens ou algum já te perseguiu fora de cena?
Samuel- Não faço a menor ideia de como equilibrar tudo isso. Acho bem difícil. E sim, minha mãe já me deu várias broncas do tipo: escute Lulu Santos “não leve o personagem pra cama, pode acabar sendo fatal…”, aí acordo pra vida e volto a separar as coisas. É complicado!
L’Officiel Hommes- Você é apaixonado por moda e se considera mais básico ou ousado? Alguma peça ou tendência que é sua marca registrada? E quando falamos de representatividade, sente que a moda masculina está mais inclusiva para homens negros? Tem alguma marca ou designer que te inspira?
Samuel- Aí você tocou no meu assunto do momento. Estou apaixonado por moda! Eu não me acho nem básico nem ousado, eu me acho seguro. E a responsável por essa segurança é minha sócia, parceira e figurinista, Carla Garan. Não tenho uma marca ou tendência que é minha marca registrada, o que eu tenho é uma parceria com marcas ou estilistas que eu acredito e confio e que nós - eu e Carla -, fizemos um trabalho massivo para chegar ao lugar de parceiros dessas marcas. Eu acho que a moda é inclusiva porque ela é um reflexo da sua identidade, é uma das formas mais bonitas de se expressar e de gritar ao mundo sua vontade, de como quer ser visto. Você não precisa estar em contato com roupas ou marcas caríssimas para estar bem vestido, você só precisa achar a sua onda e continuar surfando nela. Uma hora, quem se identifica com você, vai te procurar, te acompanhar e provavelmente vocês criarão histórias.
Eu sou apaixonado e tenho um amor profundo pelos meus parceiros: Handred, do André Namitala; Lino Villaventura, meu mestre; Lili, da Viert Ateliê; O Mago das Pedrarias, Victor Hugo Mattos; O apaixonante Luís, do Apartamento 03; A incrível Twodenin; Uma marca que conheci há pouco tempo, de Salvador, chamada Inttuí, do Washington, acho maravilhosa! Enfim, por isso, disse que é o meu assunto do momento, estou muito apaixonado pela moda e amando descobrir essas marcas e descobrir o Samuel através do que elas têm feito para mim. Só tenho a agradecer à Carlinha, por me ensinar tanto.
L’Officiel Hommes- Seu amor por Geraldo Azevedo já ficou claro algumas vezes. Se tivesse que escolher a trilha sonora perfeita para um dia na sua vida, qual seria?
Samuel- Geraldo é a minha maior paixão e inspiração musical do mundo. Eu jamais seria capaz de escolher uma música dele. Eu tenho umas 300 preferidas (risos). Mas, para começar, Estrela Guia é a música de ninar meu coração e minhas crianças; Arte Longa é a melhor definição do que é arte e o amor por ela; Tanto Querer, representa as minhas saudades. Sétimo Céu me traz a adolescência à tona. E por aí vai.
L’Officiel Hommes- Você já revelou que só passou a se achar bonito depois de Vai na Fé, mas seus seguidores sempre te enchem de elogios. O que mudou do Samuel de antes para o de agora? O que te fez se reconhecer como um homem bonito?
Samuel- Tudo Mudou! Minha vida inteirinha. Quando fiz o Meu Santo na Minha Religião eu precisei “me aceitar” de verdade. E toda entrega para Orixá mudou a minha forma de pensar e de lidar com o mundo.
L’Officiel Hommes- Quando chegou a São Paulo, foi aí que se reconheceu como um homem negro. Como esse processo aconteceu para você? Com o aumento de papéis de destaque para atores negros, sente que a dramaturgia está passando por mudanças significativas? Em que momento você pode ver que sua trajetória pode inspirar outras pessoas?
Samuel- Sim, foi muito difícil me perceber no mundo tão tardiamente. É muito cruel! Acho que a dramaturgia anda a passos lentos, mas evolui sim. Acredito que contar bastante a minha história e galgar personagens e trabalhos que alavanquem pessoas como eu faz com que essas pessoas cresçam com o sentimento de “eu posso”, sentimento esse que eu nunca tive até a fase adulta.
L’Officiel Hommes- Considerando a questão da hipersexualização dos corpos negros, como enxerga isso hoje, especialmente sendo um ator também visto como símbolo de beleza? E com um físico que chama atenção, sua rotina de treino e alimentação é mais voltada para disciplina ou prazer? O que te motiva a manter o foco nessa área?
Samuel- Acho que a vaidade, se bem dosada, é um prato cheio para quem é ator. Me cuido sim, mas nada exagerado. Vivo para o prazer, mas o prazer também exige disciplina. Eu treino para ter um corpo disponível ao meu trabalho, não para ficar sarado. E o que tento fazer é combater a hipersexualização, mostrando talento em tudo que posso. Tomara que eu esteja conseguindo! E, qualquer situação de constrangimento, eu faço questão de deixar claro que a pessoa que causou isso é quem tem que ficar constrangida, não eu.
L’Officiel Hommes- E 2025, já tem algum projeto novo que pode dar um spoiler? Tem algum papel dos sonhos que ainda quer viver?
Samuel- Eu tenho muitos papéis que ainda quero viver. Inclusive, um deles é o que tentarei fazer em uma peça nova. Surpresaaaaaaaa…
Bate-bola rápido com Samuel de Assis
L’Officiel Hommes- Momento que você nunca vai esquecer na avenida?
Samuel- Quando passei de Xangô pela minha Mãe de Santo (é o Santo Dela) e bati cabeça para ela.
L’Officiel Hommes- Peça de roupa que não pode faltar no seu guarda-roupa?
Samuel- Um conjunto, camisa e bermuda de linho. Serve pra tudo e é lindo e chic.
L’Officiel Hommes- Cuidado essencial na sua rotina de beleza?
Samuel- Manter a pele limpa, sempre, e o corpo disponível para possibilidades de mudanças aos personagens.
L’Officiel Hommes- Personagem que te desafiou como nunca?
Samuel- O Lucas, paciente de uma clínica psiquiátrica na Série Insânia, da Star+.
L’Officiel Hommes- Ator ou atriz que você admira?
Samuel- Neusa Borges, Elisa Lucinda, Zezé Mota, Tony Ramos, Glória Pires… se deixar não paro nunca mais.
L’Officiel Hommes- O que ainda falta para os homens negros na TV e no cinema?
Samuel- Falta mais cinema e televisão para atores pretos!
L’Officiel Hommes- Um lema que você leva para tudo?
Samuel- A frase que uma professora da EAD-USP me disse uma vez que vem de um livro infantil: “Dúvida é uma coisa que a gente inventa quando sabe o que quer, mas tem medo de querer!”.