Fuso Romano: os requintados relógios da Fendi
Em Roma, os suspiros são uma parte da rotina. Não só pelas construções históricas, pelo pôr do sol cor de rosa ou pela dolce vita, que é tão admirada mundo afora, mas também por um toque peculiar: os romanos têm uma relação inerente com a estética. E, não à toa, vemos a preocupação dos próprios em restaurar monumentos e estátuas que datam de poucos dígitos após Cristo.
Na moda e na joalheria, as marcas Made in Rome também seguem tais parâmetros. Não basta ter somente tecnologia e conforto, precisa ser belo. Para a Fendi, grife fundada na cidade em 1925 por Adele e Edoardo Fendi, os seus quase 100 anos foram em torno do belo – nos casacos tradicionais de pele ou, no decorrer das décadas, nas roupas, nos acessórios e hoje, com maior destaque, na relojoaria. Nesse universo tão luxuoso e talvez distante para algumas labels nascidas em confecções, a neta do casal, Silvia Venturini Fendi, parece investir na relação entre as propostas que estão nas passarelas – e, naturalmente, se tornam desejo – e a precisão. “Vivemos nesse segmento há muito tempo e acredito que estamos crescendo. As peças vão se tornando verdadeiros itens statement. Além da funcionalidade, resolvi trabalhar com força na estética de cada timepiece, com destaque para o logo. Até porque os relógios precisam seguir as nossas propostas de moda”, conta Silvia.
Segundo ela, desde que começaram a fortalecer a imagem do logo double F, tanto nos acessórios quanto nas roupas, sentiram que precisavam fazer o mesmo nos relógios. “Nós temos encontros com as equipes que desenvolvem relógios e tentamos trazer toda a informação do que está acontecendo nas coleções de moda. Nessas reuniões, as pessoas costumam ver tudo que colocamos nas roupas. Costumamos sugerir formas de traduzir o que está em uma bolsa para o relógio”, fala Silvia. Para ela, tudo está cada vez mais conectado. “A diferença é que os relógios costumam ter uma atemporalidade fora de tendências. Você não pode mudá-lo de acordo com a estação.”
Durante a última apresentação dos lançamentos da Fendi em Roma, em março, uma série de linhas foi apresentada no Palazzo della Civiltà Romana, o headquarters da marca e um dos prédios icônicos da capital italiana – ele também é chamado de Coliseu Quadrado. Em uma das salas do piso térreo, os relógios estavam separados em diferentes espaços. Um dos principais é o Forever Fendi, considerado o modelo que expressa a elegância atemporal. A sua pulseira tem o logotipo double F distribuído por toda a sua superfície, com uma brincadeira de contraste de cores. “Eu gosto muito da combinação de dourado e preto porque lembra o mix do nosso icônico canvas tabaco e preto das bolsas”, diz Silvia. Há também opções com o uso de diamantes, madrepérola e pedras preciosas, como a turquesa, que se unem e dão um novo ar ao sofisticado relógio. Cada um deles é feito na Suíça, mas com o toque de artesãos italianos na hora de montar – desde recortar e lixar a madrepérola que decora o mostrador à finalização da caixa. É um trabalho feito um a um, e sem previsão para acabar.
Outro queridinho de Silvia é o Policromia, que foi desenvolvido pela primeira vez em 2016, com a colaboração da sua filha, a designer de joias Delfina Delettrez. “Ele é, de verdade, uma peça da joalheria. Você consegue ver o quanto, de fato, foi inspirado pelo Palazzo della Civiltà Italiana. Os arcos e a diferença de pedras dizem tudo. Você deve ter visto que em cada andar há uma cor diferente de mármore no piso, e é por isso que o relógio tem uma espécie de mosaico ou patchwork”, diz Silvia, que considera essa estética “algo genuinamente romano”, quando encontramos essa combinação de diferentes materiais, alguns do passado e outros que chegaram depois. “Eu gosto da mistura de diferentes metais e ela usou essas variações num formato geométrico. Quando apresentou a peça, eu disse tinha muito das visitas que fez ao prédio”, conta. Outra particularidade da peça é o serviço “made to order”. É possível criar mais de 100 mil combinações de materiais e cores distintas. “Eu adoro a ideia de saber que todos podem ter o mesmo modelo de relógio que você, mas também que ele seja só seu e que ninguém mais tenha”, diz Silvia. Segundo ela, é exatamente esse conceito de estudo que foi feito quando lançaram a Baguette, em 1997. “Eu sempre digo que ela é uma espécie de manifesto sobre a individualidade porque surgiu após a época do minimalismo, quando todos usavam bolsas de náilon preta. Nós sentimos que era tempo de mudar e que as pessoas precisavam se expressar de algum jeito.”
No caso dos relógios, a teoria também se aplica. “Apesar de o aspecto funcional de ver a hora ser importante (e temos o celular para isso também), o que queremos é um tipo diferente de relógio, da mesma forma que procuramos por um bracelete encantador. É por isso que ele é menor e delicado. Algo que você consegue misturar com suas pulseiras”, conta. Silvia acredita que a categoria de relógios hoje não tem mais apenas um apelo técnico, como na década de 1990. Hoje é mais uma joia do que um relógio. Assim como tudo que leva o seu logo. Não é?