Moda

Celine e Saint Laurent mostram nova fase de estilo

Celine e Saint Laurent decolam ao adotar o estilo casual chique da parisienne como identidade

Celine e Saint Laurent
Celine e Saint Laurent

Celine e Saint Laurent fazem um duelo à francesa. Como você já deve saber, a ditadura das tendências na moda acabou. Tem para todo mundo e para todos os gostos. Esqueça a necessidade de vestir isso ou aquilo para provar que você está antenada e sabe das coisas. É libertador, certo? Mas como fazer para manter a relevância de uma marca em um cenário onde vale tudo, no qual a maior influência vem das ruas, e não mais das passarelas? 

Celine e Saint Laurent
A cantora Jane Birkin, inspiração para a coleção atual da Celine. Foto: Watford/ Mirrorpix/ Mirrorpix via Getty Images

A resposta é: identidade. A Saint Laurent (primeiro com Hedi Slimane e agora com Anthony Vaccarello) e a Celine (em nova fase sob a batuta justamente de Slimane) se apropriaram de uma estética que é objeto de fascínio desde os anos 1960 e estão atualizando a fórmula para os dias atuais com maestria. A nonchalance elegante da mulher francesa, em especial da parisiense, com seus cabelos cuidadosamente desalinhados e uma habilidade rara em transformar peças básicas em ícones de estilo, é uma marca registrada que muitas perseguem. Roupas cool, atemporais, para usar no cotidiano, no trabalho, no fim de semana ou na balada é tudo o que você precisa hoje. Parece simples, mas não é. Celine e Saint Laurent oferecem o melhor repertório se a intenção é imitar musas como Jane Birkin ou sua filha Charlotte Gainsbourg – uma com DNA mais diurno, outra com uma declarada predileção pela noite. Um delicioso duelo com sotaque francês. Em que time você está?

Celine e Saint Laurent
A modelo e musa de Yves Saint Laurent Betty Catroux. Foto: Beverley Goodway/ Mirrorpix/ Getty Images

Celine

Hedi Slimane adora as décadas de 1960 e 70. Era a estética meio hippie chic, meio rocker da época que guiava suas criações na Saint Laurent e que agora dá as cartas nas coleções que desenvolve para a Celine. Para o verão 2020, ele mergulha nas preferências BCBG (iniciais de “ bon chic, bon genre”, expressão associada a uma elite bem educada, bem relacionada e um tanto aristocrata de Paris) para criar um guarda-roupa essencial do verão. Pense nas cantoras Jane Birkin e Françoise Hardy em seus tempos áureos. Muito jeans em saias retalhadas, calças desbotadas e de boca larga ou em camisas usadas por baixo de blazers folgados a la boy friend. Jaquetas de couro, casaquetos de pele e vestidos românticos, quase boho, completam o repertório. Para arrematar, óculos aviador, chapéu de abas largas e botas altas. É a roupa da mulher bem-nascida, segura de si, que não precisa de produções lacradoras para se fazer notar. Um charme intelectual construído com peças atemporais e um estilo burguês com tempero boêmio que pode ser reproduzido nas ruas até por quem não frequenta a alta-roda, mas tem boa noção de styling. Se você queria uma moda influente de verdade, aí está. E olha que não era uma missão fácil para o francês. Sucessor de Phoebe Philo, dona de um fã-clube exigente e fiel, ele promove – a exemplo do que fez na Saint Laurent – um verdadeiro rebranding na marca toda. Tirou o acento do nome, lançou a linha masculina e deu uma guinada na imagem feminina. A boa moça de Philo foi dar um “walk on the wild side”, botou as pernas de fora, vestiu sua jaqueta de couro e caiu na noite para encontrar a companheira da Rive Gauche. Narizes se torceram, claro. Mais do mesmo, disseram. Mas aí, num plot twist inesperado, Slimane volta nessa temporada as suas atenções para as décadas douradas da Celine, quando ainda era “apenas” uma loja apreciada por mulheres cultas e abastadas, e não um fenômeno de passarela. A nova mulher acalma os ânimos, ganha em sofisticação e mostra uma bem-vinda versatilidade do diretor criativo. As mudanças não param por aí. As lojas da grife estão virando verdadeiros museus contemporâneos, com uma curadoria afiada do próprio Slimane. Esculturas de artistas como James Balmforth, Theaster Gates e Virginia Overton se misturam no décor das lojas de Manhattan e Paris. Na linha masculina de verão 2020, Slimane trabalhou com cinco artistas da nova geração, de estilos diferentes, para decorar jaquetas e camisetas. Pois bem, se na Saint Laurent o combustível era a música, a nova Celine parece movida a arte.

1 / 2
Celine
Celine

Saint Laurent

A passagem de Hedi Slimane pela tradicional maison francesa foi polêmica. Ele mudou o nome da marca e apostou na estética rock ’n’roll para adicionar um glamour noturno a releituras de peças-ícones da casa. Choveram críticas por uma suposta falta de sofisticação e por aproximar demais a imagem do que se via na passarela das araras das grandes redes de fast fashion. O fato é que deu certo, os números das vendas explodiram e a grife, que antes respirava por aparelhos, voltou ao tabuleiro dos grandes players do mercado de luxo. Anthony Vaccarello recuperou o bastão e segue na mesma toada ao investir no repertório que injeta sex appeal no closet da mulher que adora a nightlife. Muito preto, brilhos a go go, pernas de fora e transparências dominam as ações. Mas o verão 2020 vai além do Le Smoking e revisita as referências russas que Yves Saint Laurent levou às ruas em 1976. Podemos facilmente imaginar a atriz e cantora Charlotte Gainsbourg vestindo as criações de Vaccarello (não à toa ela é amiga da casa) ou viajar no tempo e encarnar a modelo Betty Catroux, ícone fashion que foi musa de Yves décadas atrás – ela apareceu na campanha de inverno 2018, num claro movimento de consolidação de identidade. Mas a mira aponta, mesmo, é para as novas gerações, para os Millennials, para as redes sociais – os shows são sempre altamente instagramáveis – e para o empoderamento feminino. Seguras de si, as mulheres de Vaccarello marcham altivas, não têm medo de ser sexy e muito menos de tomar emprestadas as peças de alfaiataria do guarda-roupa do namorado, sempre mais acanhado perto delas. E tome hit. Os shorts curtíssimos, os tubinhos pretos embalados a vácuo e as releituras paetizadas de smokings na nova coleção devem causar furor nas lojas. Se o antecessor já havia turbinado os números da casa, Vaccarello não faz por menos. Em seu primeiro ano no comando, o belga elevou as vendas em mais de 27%. Três anos após ter assumido o posto, já é possível dizer que criou seu próprio universo, sem se assustar com o peso da maison e nem com a missão de manter o alto retorno comercial da era anterior. Vaccarello tem a mão mais feminina e sofisticada do que Slimane no que faz para a Saint Laurent: mais Paris e menos Los Angeles. Ambos têm em comum o faro fino para entregar ao público o que ele quer consumir, ao mesmo tempo que insistem em uma imagem que já virou assinatura. Não é esse o segredo do sucesso de uma grife hoje em dia?

1 / 6
Saint Laurent
Saint Laurent
Saint Laurent
Saint Laurent
Saint Laurent
Saint Laurent

Tags

Posts recomendados