Iris Apfel: confira a trajetória do ícone da moda
Aos 102 anos, designer deixou legado sobre imagem, ousadia e originalidade estética
Óculos redondos, cabelos curtos, colares e pulseiras enormes além de muitas estampas, texturas e tudo o que as roupas têm direito. Em poucas palavras, talvez seja complexa a definição do estilo de Iris Apfel, designer que morreu no último dia 1º de março aos 102 anos de vida (e de moda!).
Apaixonada por estética, ela deixou um legado por meio de uma imagem forte que traduziu sua personalidade e suas escolhas que vão além das tendências das passarelas, do streetstyle ou do look do dia. Segundo a própria Iris, identidade e estilo caminham juntos. “Acredito que você permanece original sendo você mesmo, não caindo na armadilha de seguir tendências e tentar ser como todo mundo, parecendo com todo mundo e dizendo o que todo mundo está dizendo. Se você se conhece e permanece fiel a si mesmo – acho que essa é a resposta”, disse ela em entrevista ao portal Refinery29 em 2022.
Trajetória
Nascida em 1921 em Nova York e filha única de uma família judia, é bem provável que a convivência familiar tenha sido sua primeira referência visual, uma vez que seu pai importava antiguidades alemãs e, mais tarde, liderou uma empresa de espelhos de época. Sua mãe, ainda grávida, desistiu da faculdade e abriu uma boutique na mesma época.
Iris Apfel estudou História da Arte pela Universidade de Nova York e também na Universidade de Wisconsin, em Madison, nos Estados Unidos. Devido à paixão pela moda, ela quis trabalhar com jornalismo para se tornar uma editora de sucesso. Seus primeiros passos ocorreram quando se tornou uma office girl no jornal americano Women’s Wear Daily (WWD), um dos maiores veículos da época.
Ao lado de Robert Goodman, atuou como assistente de ilustração de moda e chegou a conhecer Elinor Johnson, designer de interiores com quem trabalhou anos mais tarde. Ainda que não tenha trilhado uma carreira meteórica na moda, a paixão pelas roupas e o olhar apurado fizeram dela uma referência devido à rebeldia de seu visual na profusão de estampas, texturas e acessórios. Um mix and match valioso aos olhos de muitos.
Em seus primeiros anos, Iris também atuou como designer de interiores e especialista têxtil. Em 1948, depois de se casar com Carl Apfel, o casal fundou a Old World Weavers, empresa têxtil que tinha uma lista de clientes como Greta Garbo, Estée Lauder e Marjorie Merriweather Post, segundo o jornal americano The New York Times. O casal fez restaurações na Casa Branca para nove presidentes em exercício, embora tenha ficado em segundo plano na empresa quando a Stark Carpet assumiu o controle dos negócios. O marido de Iris morreu aos 100 anos em 2015.
Fashionista de alma
Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, Iris Apfel confessou que gostaria de ser lembrada como a “adolescente viva mais velha do mundo”. E realmente foi. A partir dos anos da década de 2000, ela começou a ser verdadeiramente reconhecida pela sua propensão para a moda. Depois de décadas colecionando peças garimpadas de mercados e de outros lugares, seu acervo foi exposto no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. Intitulada Rara Avis: Selections from the Iris Apfel Collection, a exposição foi inaugurada em 2005 apresentando os acessórios de Apfel, além de looks estilizados que havia usado. Na abertura da mostra, ela disse, em tom de brincadeira, ao The New York Times: "Isso não é uma coleção. É uma invasão ao meu armário", e ainda acrescentou: "Sempre pensei que, para expor no Met, você tinha que estar morta".
Em 2014, Iris Apfel também foi tema de um documentário chamado Iris dirigido pelo cineasta americano Albert Maysles, e trabalhou como professora na Universidade do Texas mostrando aos alunos que moda nem sempre é glamourosa. “Eu os exponho a trabalhos importantes em licenciamento, estilismo, museus e assim por diante”, disse Apfel em entrevista à imprensa internacional na época. "Foi simplesmente incompreensível para eles. Simplesmente enlouqueceram e eu aprendi muito”, declarou ela.
Ao longo da carreira, a fashionista também foi autora dos livros: Iris Apfel: Accidental Icon (2018), Rare Bird of Fashion (2007), Dragon Threads (1992) e Zandra Rhodes: 50 Fabulous Years in Fashion (2019).
Mais é mais
O estilo de Iris Apfel é reconhecível à primeira vista. Para além de seus óculos característicos, os colares e as pulseiras maximalistas traduzem – de forma única - sua extravagância e ousadia facilmente instagramável hoje. Não é à toa que Iris mantinha um perfil oficial no Instagram com mais de 3 milhões de seguidores e mais de 1500 publicações em um feed repleto de imagens que exploram cenários, estampas, cores e centenas de acessórios. “O mundo pode ser um lugar cinza, então cores, padrões e texturas são uma forma de dar vida à diversão. O mesmo acontece com a maquiagem - quero que meus batons sejam os mais brilhantes e ousados possível”, disse Iris à People em agosto de 2022. Reverenciada no mundo fashion, sua forma de se vestir se tornou uma referência e, consecutivamente, sua marca registrada. Uma extravagância com assinatura.
Em 2018, a Mattel, gigante do mercado de brinquedos, criou a Barbie Iris Apfel com roupas e acessórios característicos. Aos 97 anos, Iris se tornou modelo da agência IMG Models, a mesma que representa as irmãs Hadid — e também é a mulher mais velha do mundo a estampar uma capa de revista de moda. Além das várias campanhas publicitárias que estrelou, ela lançou uma linha de óculos com a Zenni Eyewear com mais de 100 peças assinadas por ela.
Uma de suas últimas parcerias foi com a marca sueca H&M. Em 2021, segundo a imprensa internacional, “a coleção incluía roupas e acessórios coloridos, ternos florais, vestidos de babados em camadas e peças estampadas super brilhantes. Todos os materiais usados neste projeto são reciclados ou de origem sustentável, e cada peça foi feita ‘com a circularidade em mente”.
No palco brasileiro
Devido a tanto estilo e ousadia, Iris Apfel também foi tema do monólogo estrelado pela atriz brasileira Nathalia Timberg. Em 2018, o espetáculo Através da Iris ficou em cartaz no Teatro Maison de France, no centro do Rio de Janeiro.
Com texto de Cacau Higino e direção de Maria Maya, o monólogo apresentou uma espécie de documentário cênico no qual a personagem concedeu uma entrevista e opinou sobre vários assuntos. "As pessoas se surpreendem muito com a maneira como ela enxerga o mundo, por meio de uma visão prática, e com o entusiasmo que ela tem pela vida. Essa mulher tem 97 anos!", enfatizou Nathalia Timberg, em entrevista à revista Ela em 2018.
Quando a peça estreou na capital carioca, Iris fez um post e agradeceu pela homenagem no teatro em seu perfil oficial no Instagram. “É realmente algo importante ver a sua vida retratada. Obrigado à equipe brasileira que trabalhou arduamente para fazer tudo isso acontecer”, diz a legenda cuja imagem é composta pela justaposição de Iris e Nathalia Timberg caracterizada para o espetáculo.
Lição de vida (fashion!)
De tudo o que Iris Apfel realizou na carreira, a fashionista deixou uma mensagem sobre a quebra dos padrões e das convencionalidades. Seja pela idade ou pelo estilo hiperbólico e inovador, a entusiasta da moda deixou um legado de originalidade estética e que reflete a forma como encarou a vida ao longo dos anos. “A vida é muito séria e difícil, pelo menos com a moda podemos nos divertir”, disse Apfel em seu documentário.
