Issey Miyake morre aos 84 anos
Conhecido pelo plissado, estilista Issey Miyake deixou uma marca no mundo da moda, com beleza, movimento e inspiração
Morreu aos 84 anos, o estilista japonês Issey Miyake. Conhecido pelo plissado que nunca amassa e o icônico suéter preto de gola alta de Steve Jobs, Miyake deixou uma marca no mundo da moda.
De dançarino à atleta, foi com as revistas de moda da irmã que o estilista encontrou a vocação e inspiração para mudar de rumo. Mas, se na moda Miyake deixou beleza e encanto, na vida real, o estilista precisou enfrentar muitas batalhas.
Miyake nasceu em Hiroshima. Aos sete anos, quando estava em uma sala de aula, a bomba atômica foi lançada sobre a cidade. Desde então, ele foi relutante em falar sobre o assunto e não queria ser visto como "o designer que sobreviveu" à bomba.
Uma das frases mais emblemáticas do estilista, define o que o próprio sentiu: "Quando fecho os olhos, ainda vejo coisas que ninguém deveria experimentar", escreveu ao "New York Times".
E assim, no lugar da tragédia, o estilista escolheu a beleza e a alegria para conduzir os rumos da própria vida. "Tentei, embora sem sucesso, deixá-los para trás, preferindo pensar em coisas que podem ser criadas, não destruídas, e que trazem beleza e alegria. Isso é moderno e otimista", disse.
Conheça a trajetória de Issey Miyake:
'Uma vida' ou 'Três casas'
O nome do estilista assume diferentes significados. Em italiano, por exemplo, "Issey" é traduzido como "uma vida" e Miyake como "três casas". O nome é uma representação do estilo de vida único, de uma trajetória marcada pela infinidade criativa.
Caminho até a moda
Inicialmente, Issey Miyake se formou na Tama Art University, em 1964, com uma licenciatura em Design Gráfico. Depois, o estilista se mudou para Paris. Lá, estudou na tradicional École de la Chambre Syndicale de la Couture Parisienne. Ele foi aprendiz de grandes designers como Hubert de Givenchy, Guy Laroche e depois, já em Nova York, de Geoffrey Beene.
Novo começo
Depois de estudar em Paris, Miyake escolheu voltar para o Japão, em 1970, para fundar o próprio estúdio. Em Tóquio, o estilista começou a criar roupas experimentais, seguindo a filosofia de que suas criações são 80% dele e 20% de quem as usa, responsável por compor a última palavra sobre a roupa.
Ícone fashion
Os desenhos de Miyake ganharam vida e fama, libertando-se das formas tradicionais. O objetivo do estilista era a análise do espaço entre o corpo humano e os tecidos. As peças romperam com as linhas de modelagem tradicionais.
O conceito ultrapassou as barreiras das práticas de alfaiataria ocidentais. E assim como os conterrâneos Rei Kawakubo, Yohji Yamamoto e Kenzo Takeda, as proporções exageradas e as peças unissex o tornaram famoso. Juntos, eles marcaram para sempre a era da vanguarda japonesa.
A primeira coleção de Issey Miyake foi lançada em 1971, em Nova York. O foco das peças foram as camisas pintadas à mão e confeccionadas com técnicas tradicionais da tatuagem japonesa.
Para além da moda
Em 1992, Issey Miyake lançou o primeiro perfume. Intitulada "L'EAU D'ISSEY", a fragrância tinha como inspiração e principal componente a água, o que o tornou uma grande influência no mundo da perfumaria.
Colaboração com Irving Penn
O famoso fotógrafo fez uma das mais antigas colaborações de moda com o designer japonês. A cada temporada há 14 anos, a estilista Midori Kitamura viaja com uma mala cheia de roupas Miyake e o fotógrafo captura as imagens mais inspiradoras das peças. O resultado das fotos já viajaram pelo mundo, mostrando o talento inato de dois grandes nomes da indústria.
O plissé
Issey Miyake ficou conhecido mundialmente como o gênio do plissado. Para ele, nenhum material é inútil. E em 1993, ele trouxe de volta uma técnica do século 20 para tecidos plissados. A proposta da coleção, ainda atual, foi a manipulação de materiais como o poliéster muito fino. Usando modelagem têxtil e técnicas de desgaste, as peças foram costuradas e cortadas, depois plissadas e dobradas permanentemente com uma prensa térmica.
Sustentável
Já em 1997, Miyake pensava em sustentabilidade na moda muito antes de assunto virar pauta. O designer, junto com o engenheiro têxtil Dai Fujiwara, desenvolveram uma forma inovadora de criar um único fio de fio. O processo A-POC (um pedaço de tecido) consiste em cortar as peças de vestuário a partir de um rolo de tecido tubular no qual é gravado diretamente um motivo proporcional à forma do cliente.
Sem a necessidade de adicionar costuras para os acabamentos, este sistema inovador revolucionou a indústria têxtil, tornando Fujiwara e Miyake pioneiros no assunto.
O adeus ao gênio
Em 1998, Issey Miyake se aposentou como diretor criativo. O estilista passou a se concentrar em projetos de pesquisa e experimentação de materiais. Depois dele, o designer Naoki Takizawa foi chamado para chefiar a Maison como diretor criativo em 1999.
E na última sexta-feira, 5 de agosto, Miyake deu o último adeus. O estilista morreu, vítima de um câncer no fígado, segundo a agência de notícias Kyodo.
Issey Miyake deixa um legado na moda, que certamente, será visto e lembrado por gerações.