Moda

Moda aposta no maximalismo para reagir!

Enquanto a realidade é cada vez menos, a moda tenta compensar apostando sem medo na ideia do mais é mais

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“Reage, mulher”, diz o meme que tem gastado seus quinze segundos de fama nas redes. A frase reflete bem o estado de espírito da moda internacional que vai mirando o terceiro ano de pandemia com as apresentações das coleções de verão e resort 2022. Depois de passar pela fase do pânico, a fase do luto e a fase do “vai ficar tudo bem”, agora os criadores parecem ter entrado em uma ideia de “se a realidade está uma chatice sem fim, pelo menos nossas roupas podem ser um alento de pequenas fugas”.

É uma resposta diferente do escapismo que vimos um ano antes. Então, as passarelas tentaram se tornar um contraponto fantasioso ao mundo aqui fora, exercitando a poesia e o drama. Agora, esforçam-se para formatar qual será (afinal) a estética dessa década de 2020, que foi atropelada antes mesmo de começar. Ação e reação: se as novas variantes do vírus deixam a existência cada vez menos, o guarda-roupa pode mirar no “mais é melhor”. Mais o quê? Tanto faz. As abas de referências, como manda o hoje, é aquele vale (quase) tudo. Os anos 1970 convivem com o Y2K, franjas e texturas se mesclam cadenciadas, o oversized do street e da alfaiataria anda com a informalidade ultrassensual da pele à mostra. Um olho está nas refs do Tumblr de ontem, outro tenta captar o instantâneo do TikTok de amanhã. Até quem é minimalista ganha seus tons de excesso.

Com esse pensamento, parte dos criadores vai navegando entre o irreal e o super-real, propondo shapes dramáticos, cores fortes, volumes extravagantes e estampas ao sabor do vento. Aqueles exageros de passarela, que antes eram licença poética para chamar atenção das lentes dos fotógrafos, agora podem entrar na mira do closet trivial. Enquanto Demna cobre de máxis sua Balenciaga, Saint Laurent caminha no limiar da censura dos algoritmos e a Valentino leva vestidos de festa para um scroll no café. A mesma prateleira abre espaço para o kitsch romântico de JW Anderson e para o pós-kitch da Gucci.

A vontade que fica é: para que focar em uma personalidade se você pode ser qualquer coisa o tempo todo, dentro do seu próprio multiverso? Para ser feliz em 2022, talvez seja hora de mergulhar de cabeça nesse novo (a)normal.

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