"Pai cuidar do filho não pode ser uma novidade em 2019", conta Isis Valverde
Isis Valverde é assim, doce e forte, suave e intensa. Mãe de Rael, assumiu as dores e as delícias da maternidade real. Entre elas, a crise entre retomar o trabalho que ama e deixar a cria em casa – ou com o pai, como foi o caso quando ela viajou a Paris para acompanhar a semana de moda a convite de Dior.
Isis enfrentou com a coragem de uma mulher de seu tempo as críticas dos internautas e segue livre, linda, mãe e atriz. Ela traduz o momento em turbilhão na entrevista exclusiva. Confira um preview a seguir:
L’OFFICIEL Como o feminismo faz parte da sua rotina?
ISIS VALVERDE Fui criada numa família de mulheres muito fortes. Minha avó e minha mãe sempre foram à frente do tempo delas e me ensinaram desde pequena a ser independente, lutar por direitos iguais e a não aceitar calada nenhum tipo de opressão vindo da estrutura machista em que sempre vivemos. Tenho um filho homem que pretendo educar, ao lado do André (Resende), da melhor forma possível, ensinando desde pequeno o que é a equidade entre homens e mulheres e a respeitar as diferenças. Vou dar o melhor de mim.
L’OFFICIEL Como você vê esse discurso de sororidade, com menos julgamentos?
IV Eu acho maravilhoso. Mulheres parando de se julgar e se unindo. É um movimento muito poderoso e potente. Acho lindo e fico contente em fazer parte desse tempo e espaço de transformação.
L’OFFICIEL Fale um pouco da nova maternidade, mais real, menos idealizada…
IV Olha, eu acho fundamental a gente falar disso. Porque eu mesma fui uma vítima dessa romantização da maternidade. Ter meu filho foi a coisa mais maravilhosa e transformadora que já vivi, mas nada prepara você para isso. Você sente insegurança, medo de não dar conta, de não estar fazendo o melhor ou o certo. Ficamos com medo às vezes até de pedir ajuda para não sermos julgadas. Porque nessa idealização de maternidade você vira vítima de um julgamento constante e a gente tem que desconstruir isso. Eu gosto de contar minha experiência e minha forma de maternar sem pular os perrengues. Porque acho que isso pode ajudar muita gente.
L’OFFICIEL Como ela mudou a sua vida, emocional e profissionalmente?
IV Acho que depois de ter um filho nada mais volta para o mesmo lugar. Você se transforma de uma maneira... Não tem mais como voltar a ser o que era. Eu me sinto mais forte, mas também mais sensível. Mais atenta ao outro e ao meu redor. Porque filho nos ensina muito isso: se doar, ser menos egoísta, se preocupar constantemente com o bem-estar daquele serzinho. E isso muda nossa relação com o mundo. Isso não quer dizer que temos que perder nossa identidade, mas nos redescobrirmos incluindo a maternidade e equilibrando todo o resto: profissional, relacionamento (casamento), vida social e autocuidado.
L’OFFICIEL Como foi voltar a trabalhar depois de Rael?
IV Eu nunca pensei em parar de trabalhar, mas fiz tudo respeitando o nosso tempo. Eu me entreguei de corpo e
alma à maternidade, mas já me sentia pronta para voltar ao batente. Eu me nutro muito do meu trabalho, e preciso atuar para me sentir completa e plena. Ele está maior, tem um pai incrível que divide comigo essa tarefa e temos uma rede de apoio. Eu converso muito com o Rael mesmo sendo tão pequeno. Acho que em algum nível ele entende quando eu digo que vou trabalhar, mas volto logo.
L’OFFICIEL A maternidade mudou sua forma de aceitação do corpo?
IV Eu acho que você fica impressionada como corpo pode ser tão potente e perfeito. Gerar uma vida me fez descobrir uma força que eu nem sabia que tinha. Isso muda a forma como passei a me enxergar e também meu corpo.
L’OFFICIEL Você foi viajar e deixou o bebê com o pai. Recebeu críticas nas redes sociais?
IV Eu recebi muito apoio na verdade. Porque isso virou uma manchete e nem deveria ser, já que dizer que um pai está cuidando do próprio filho não pode ser uma novidade em 2019. E muitas, muitas pessoas, especialmente mulheres, se indignaram por isso ter virado uma notícia. Mas achei bom ter ocorrido porque abriu espaço para um debate amplo e acho que fez muita gente refletir e repensar conceitos machistas. André é meu sócio na nossa família, meu parceiro na criação do nosso filho e a responsabilidade de cuidar dele é de nós dois.