Moda

Vicenta Perrota - A voz da Moda disruptiva para ficar de olho

Conheça melhor Vicenta Perrota, artista, estilista e ativista trans que tem trabalhado para ressignificar o universo fashion

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Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite / Vicenta Perrota na Casa de Criadores N. 51

Desconstruir os estereótipos padrão. Esse é um dos pilares que guiam o trabalho de Vicenta Perrotta na moda. Seu raciocínio afiado e sua mente criativa têm buscado alternativas para que o segmento seja mais inclusivo, mais acessível, mais colaborativo. “Entendo que a moda tradicional carrega fissuras, como o padrão cisgênero-patriarcal-europeu e o mecanismo de inacessibilidade e exclusividade para criar o desejo e alimentar o consumismo”, diz Perrotta. “Quando se enxerga essa problemática, de que só pessoas magras ou com muito dinheiro têm acesso a essa moda, a gente percebe o que está faltando. Não existe lugar na moda atual para travestis, gordas, negras, PcDs (pessoas com deficiência), velhas... Todos os corpos que não são lidos como padrão, que não são representados, que não são vistos como um corpo possível de comprar uma roupa, de usar um determinado modelo, são ignorados pela indústria”, completa.

Atenta ao lixo criado pela indústria da moda, com todo o descarte têxtil (restos de tecidos, retalhos, roupas velhas...), a artista e estilista encontrou, ali, tudo o que precisava para suas criações. “Eu usei o lixo, que é lido como algo pejorativo, e o corpo da travesti, que é lido como corpo abjeto e pejorativo, para desenvolver minha moda e transformar isso em potência”, conta. Atualmente com dois ateliês, o TRANSmoras, em Campinas, interior de São Paulo, e o ATM Lab, na capital paulista, Perrotta vem multiplicando seu conhecimento e ensinando sua técnica, que chama de transmutação têxtil, de transformar o lixo da moda em moda inclusiva, colaborativa e sustentável.

“No momento em que descobri e construí moda, e fiz do descarte meu sustento, entendi que não podia guardar isso só para mim. Tinha que repassar, de trans para trans.”

Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite / Desfile Vicenta Perrota na Casa de Criadores N. 51

L’Officiel: Para quem você cria?

Vicenta Perrota: Quando me potencializei com o lixo, fui procurando ocupar espaços que a moda não incluía: uma pessoa gorda vai encontrar roupa estilosa nas nossas araras, uma PcD também, uma travesti vai desfilar nossas coleções... Todas essas pessoas, todos os corpos, passam a ser representados. Porque quem é a protagonista da moda tradicional hoje? Continua sendo a mulher europeia que, na grande maioria, tem um corpo alto e magro. A corporeidade brasileira, com toda sua diversidade, não tem espaço até hoje.

L’O: Como você vê o ativismo na moda?

VP: Quando a gente fala da indústria da moda, não está falando apenas de roupa. Moda é um trabalho. Mas a mulher trans não está nesse lugar. Você não vê pessoas trans trabalhando na indústria de costura, você não vê pessoas trans trabalhando nas lojas de shopping, nas revistas de moda, desfilando nas passarelas... Procurar mudar isso é um ativismo. Estamos fazendo uma moda que busca desconstruir os estereótipos padrão. Estamos buscando ressignificar a moda, ressignificando esse lugar de morte para trazer para um corpo vivo, presente, no meio ambiente. Porque meio ambiente não é só a floresta, é a rua, são os lugares públicos. Cadê os travestis nesses lugares?

L’O: Que outros lugares você acha que a moda pode ocupar?

VP: Você pode usar a moda como um processo pedagógico. Por exemplo, uma travesti fez uma roupa e vendeu para uma pessoa cisgênero. Quando você compra uma roupa da travesti que fez a peça a partir do descarte, você está contribuindo com uma rede de pessoas que está propondo uma outra visão de consumo, outra consciência de consumo. Você também pode usar a moda como política. Como as deputadas travestis se vestem, o que escolhem para usar? Isso pode ser um caminho de inclusão, entende? A própria Janja, quando usou uma roupa de uma comunidade, estava dando esse exemplo. A moda nasceu para ser inclusiva. Para ser usada por todos os corpos.

Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite / Desfile Vicenta Perrota na Casa de Criadores N. 51
Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite / Desfile Vicenta Perrota na Casa de Criadores N. 51

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