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Ana Hikari sobre sua vilã na TV: “Estão amando odiar minha Mila”

Ana Hikari foi a primeira protagonista asiática da televisão brasileira, e em entrevista exclusiva, fala sobre sua vilã na novela ‘Família é Tudo’ e muito mais

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Ana Hikari leva a sério o seu papel como vilã! A atriz, que vive a “malvadona” Mila em ‘Família é Tudo’, conta em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil, como começou a sua carreira em ‘Malhação’ e ‘As Five’ – série com a primeira protagonista asiática da televisão brasileira. 

   

Quando perguntada sobre a sua mais nova experiência vilanesca na novela das 19h da TV Globo, Ana declara que viver a Mila tem sido especial e que o público aceitou a sua personagem muito bem: “Felizmente, o público recebeu minha malvadona muito bem. Eles estão amando odiar a minha Mila. Outro dia fui ao mercado e o moço do caixa me olhou torto e disse: “Você é muito ruim, hein!”, e rimos muito. 

   

Preparando-se também para lançar a série ‘Amor da Minha Vida’ com Bruna Marquezine, Ana Hikari fala sobre como foi gravar a obra, abre o jogo sobre bissexualidade, relacionamento aberto, racialização, autoestima da mulher amarela e muito mais! Confira agora:

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Você está vivendo a sua primeira vilã na televisão! Conta pra gente como tem sido interpretar a Mila em ‘Família é Tudo’ e como tem lidado com o baita sucesso que a personagem está fazendo? 

Interpretar a Mila tem sido ir para o trabalho todo dia com um sorriso no rosto, com a certeza de que vou me divertir muito trabalhando. A cada cena da Mila que leio, dou um pulo de alegria e bate uma ansiedade ao saber que irei interpretar algo tão legal, podendo criar e me jogar. É muito divertido fazer vilã, porque posso brincar mais e fazer mil coisas que nunca escolheria fazer na vida como Ana. Acho que quando vamos com tanta paixão assim pelo trabalho isso acaba transparecendo para o público e faz com que eles também se apaixonem como a gente. Felizmente, o público recebeu minha malvadona muito bem. Eles estão amando odiar a minha Mila. Outro dia fui ao mercado e o moço do caixa me olhou torto e disse: “Você é muito ruim, hein!”, e rimos muito. 

     

‘Malhação’ foi uma porta de entrada para você na televisão, e de lá, surgiu um projeto lindo que foi ‘As Five’. Como foi se despedir de sua personagem Tina após 7 anos a interpretando? 

Me sinto extremamente orgulhosa desse trabalho, porque foi um processo lindo de amadurecimento da Tina e meu também, enquanto atriz. A Tina me ensinou muito sobre meu ofício e sobre ser mulher. Ela me deu a coragem de falar sobre tantas pautas raciais que trago abertamente na internet, simplesmente por ter consigo a responsabilidade de ser a primeira protagonista asiática da TV Globo. Senti a importância de ser uma protagonista com tanta representatividade e minha resposta a isso foi estudar muito e aprender a me posicionar publicamente sobre esses temas tão relevantes. E encerrar esse ciclo com a temporada 3 foi um presente. A Tina chegou em um estágio da vida super delicado e profundo, que exigiu muito de mim enquanto atriz. Falar sobre a dependência química nessa temporada foi um desafio que abracei pra retratar esse tema com respeito. Dei o meu melhor nessa temporada final para me despedir com dignidade dessa personagem tão importante na minha vida. Mas confesso que sempre bate aquele medinho da despedida e a verdade é que eu não deixo ela ir embora por completo, não, ela continua aqui pertinho de mim.

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Incrivelmente você deu adeus à série ‘As Five’, mas embarcou em uma nova jornada ao lado da Daphne Bozaski, que interpreta a Benê na série e a Lupita em ‘Família é Tudo’. Como funciona a parceria de vocês duas durante as gravações? Ainda rola a mesma sintonia da série?

A nossa relação é muito bonita e, felizmente, vai para além das telas. Outro dia eu até levei o Caetano (filho da Daph) para cortar o cabelo no salão pela primeira vez! É muito bom quando entramos em um trabalho novo, mas já sabemos que tem alguém ali que confiamos, que pode nos dar suporte, ser uma escuta para os desabafos e angústias, ser uma garantia de descontração. A nossa relação profissional nos dá aquela segurança em cena de saber que se precisar de algo, ela vai me dar e vice e versa. Confio muito em nossa amizade. Nossa dinâmica em cena funciona demais, porque com uma troca de olhares sabemos o que a outra está pensando e precisando. 

   

O que a personagem “Mila” significa para a Ana Hikari? 

A Mila significa um grande reconhecimento para mim. Sempre batalhei muito para ser vista como atriz e ponto. Porque o que acontece com atores e atrizes racializados (sejam pessoas negras, amarelas ou indígenas) é que somos sempre chamados para cumprir papéis estereotipados e racializados. Geralmente atores racializados só são chamados para testes se está brifado no texto a raça da personagem. E isso é muito triste, porque é como se não pudéssemos atuar fazendo uma personagem comum, fora dos estigmas raciais que esperam de nós. Felizmente essa realidade está sendo questionada pelos movimentos e está mudando o panorama do mercado. A Mila é uma personagem que veio até mim sem relação com estereótipo de raça. Pelo contrário, nunca tinha feito antes uma personagem como essa personagem. Ela me possibilita explorar lugares na atuação que ainda não havia explorado. 

  

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Falando em novos trabalhos, você mais do que foi confirmada na série “Amor da Minha Vida” com Bruna Marquezine, Sophia Abrahão e Sérgio Malheiros. As gravações já começaram? Conta pra gente todos os detalhes! 

Gravamos a série “Amor da Minha Vida” ano passado e estou super ansiosa pra ver como ficou a série. Tenho certeza que o público vai se apaixonar pelas histórias e personagens. É um elenco super talentoso, pessoas deliciosas de conviver e tramas lindas de ver. Estou muito curiosa quanto o público para saber como vai ser, porque ainda não vi nada. 

   

Você foi a primeira atriz asiática a ganhar tanto destaque em uma novela da Globo. Para você, como é ocupar um espaço tão importante e que mensagem você deseja levar com o seu trabalho?

Acho super importante dizer que antes de mim vieram muitas mulheres asiáticas incríveis e talentosíssimas que passaram pela Globo e me inspiraram. Cristina Sano sempre esteve nas novelas; Dani Suzuki que teve um destaque incrível em várias produções da casa (e que, injustamente, nunca recebeu um título de protagonista de novela, apesar de ter muita experiência e talento); Luana Tanaka e Jacqueline Sato que vi nas telinhas pouco antes da minha estreia em Malhação. Essas são algumas das mulheres que já estiveram lá e que me inspiraram a entender que aquele lugar também poderia ser meu. Acredito que a primeira mensagem seja a de inspirar também outros artistas amarelos a sonhar com espaços de destaque como esses. A segunda mensagem é que, através das nossas personagens, o Brasil entenda de fato que somos um país diverso e que nós, amarelos, somos brasileiros, fazemos parte desse país, não somos estrangeiros aqui e precisamos ser vistos como pessoas comuns, sem estereótipos raciais. 

    

Além disso, você também é bissexual e atualmente, mantém um relacionamento aberto com o chef uruguaio Facundo Connio. Como você chegou a esse entendimento? Foi um processo de autoreflexão e descoberta? Sempre achei muito questionável essa visão heteronormativa e monogâmica sobre relações amorosas. Acho ruim essa expectativa que criam para mulheres de ter relacionamentos monogâmicos nos quais só elas possuem responsabilidade afetiva versus essa ausência de compromisso que ensinam para os homens. Eles sempre tiveram a liberdade de não ser monogâmicos, porque traição masculina sempre foi socialmente aceita, enquanto mulheres que traíam eram absolutamente julgadas. Tinha essa sensação de que algo estava falhando na maneira como a gente constrói as relações e comecei a pensar como me sentiria mais confortável e livre. Felizmente achei um parceiro que entende a importância desse formato de relação, entende minha liberdade e, principalmente, entende que o diálogo e a honestidade são os ingredientes principais para nossa relação funcionar.

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Qual conselho daria para outras meninas e mulheres asiáticas que hoje estão buscando o seu lugar no mundo?
Diria para buscarem entender sobre sua identidade racial, entender que somos ferramentas importantes para uma transformação social através de uma aliança antirracista entre pessoas não-brancas no Brasil. A mobilização e nomeação das nossas vivências e sofrimentos é um dos caminhos mais construtivos para entender as dores que passamos e superá-las. Com certeza temos espaço neste mundo e merecemos ser tratadas como parte desse país. Espero que elas possam cada vez mais se inspirar nas múltiplas 4 personalidades asiáticas que estão ganhando destaque na mídia com o crescimento desse debate sobre representatividade. 

 

No fim de 2024 você completa 30 anos! O que essa idade significa para você? Já parou para refletir neste “marco”? 

Fazer 30 anos é uma mistura de sensações. Tenho oscilado entre estar muito feliz de chegar onde cheguei e, ao mesmo tempo, sentir que sou muito menos “adulta” e “estável” aos 30 do que achei que seria. Acho que a sociedade criou uma ideia pra nós de que fazer 30 era o auge do sucesso, estabilidade, mas, na verdade, me sinto só no começo. Olho para mulheres incríveis de 40 ou 50 e penso que elas, sim, estão começando na melhor fase e que quando eu chegar lá quero estar como elas. Mas agora, com 30, estou apenas no começo. 

    

Em uma entrevista, você fez uma revelação inusitada: você costuma receber mais elogios por sua axila do que por seu bumbum! Por que isso acontece? Não sei porque! [risos] Mas acho super questionável esse excesso de padrão que as pessoas colocam sobre os corpos femininos, definem até o que é uma axila bonita! E pelo jeito a minha está dentro dessa expectativa. Mas só dou muita risada, porque o volume de mensagens é realmente grande a cada vez que apareço com o braço pra cima nos stories. 

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Ana Hikari | Foto: Artur Lahoz e Manuela Ventura

Sua aparência é algo que importa para você? Como trabalha a sua autoestima? 

A preocupação com a aparência com certeza é algo muito imposto a todas as mulheres e eu, consequentemente, sofro desse mal também. Por ser uma mulher amarela, nunca me vi em lugares onde a beleza seria definida. Pouquíssimas vezes vi uma capa de revista com pessoas amarelas como eu. Isso sempre me fez sentir excluída desse patamar. Quando trabalhava com publicidade escutava falsos elogios como: “Nossa, até que você é bonita para uma japonesa” ou “Sua beleza é super exótica, né?!”. Isso gerava em mim uma sensação de que não era “normal” como outras pessoas bonitas. Já cheguei, em trabalhos, a ouvir de maquiadores que chamariam outro profissional para fazer minha maquiagem, porque não sabiam maquiar um rosto como o meu. Como se eu fosse um grande desafio. Tudo isso construiu um lugar delicado sobre autoestima e racialização. Mas ter consciência disso me ajudou muito e hoje trabalho diariamente para me ver além desses estigmas e construir meu próprio patamar de beleza. Não é fácil, porque o mundo segue ditando as regras sobre o que pode ou não ser belo, delimitando quem é bonito o suficiente para poder ou não estar nas capas de revista. Mas é isso, é um trabalho diário e delicado de tentar me enxergar e me amar todo dia.

    

Como seria o seu “momento relax” ideal? 

Eu AMO viajar. Sou viciada em viajar. Trabalho por dois motivos: para dar tudo pra minha família e para viajar. Meu momento relax é sempre conhecendo lugares novos, culturas novas, culinárias novas. Quando viajo a última coisa que faço é relaxar, porque fico maluca passeando por todos os lugares possíveis, mas essa é minha forma de relaxar: curtindo muito algo novo! 

   

Quando você pensa em moda, você pensa em: 

Moda para mim é uma maneira de se expressar, de se sentir bem consigo mesma. Não penso na moda como algo que tem que corresponder a expectativa do outro. Nunca fui uma pessoa que correspondia a expectativa do outro no quesito beleza ou moda. Minha mãe queria que fosse uma Barbie, bem perua e arrumadinha e nunca fui isso. Sempre enxerguei a minha maneira de me vestir como uma expressão de quem sou e de como quero estar no mundo, principalmente prezando o conforto. 

 

Quais as suas peças favoritas em seu guarda-roupa? 

Amo vestidos, porque são peças confortáveis que dão liberdade de movimento. Tenho muitos, além de serem bem diversos, cada um tem um desenho, um movimento, uma cor e expressa algo diferente do outro. Sinto que é possível ser uma mulher diferente em cada vestido. Mas acho que o que mais uso do meu guarda-roupa são roupas de academia [risos]. 

    

Qual a primeira impressão que as pessoas têm de você? 

Surpreendentemente as pessoas me acham calma, mas acho que isso é fruto de um esforço contínuo meu de não parecer tão caótica para os outros quanto sou dentro da minha cabeça. 

   

A Ana Hikari não existe sem… 

Meu trabalho e minha família! Sou completamente apaixonada pelo meu trabalho, amo muito fazer o que faço e trabalho para ter a possibilidade de dar tudo que quero para minha família. 

    

Um sonho que você não pode morrer sem realizar: 

Fazer um filme nacional. O cinema nacional foi o que me fez me apaixonar pelo ofício da atuação. Desde pequena meu pai me levava para festivais de cinema e foi onde conheci 6 todos os grandes diretores do cinema brasileiro. Tenho esse grande sonho e sinto que vou realizá-lo em breve. 

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