Pop culture

Cleo: plural e poderosa em entrevista exclusiva

Cleo conta sobre suas múltiplas carreiras artísticas e como é sua vida longe das câmeras.

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Cleo, uma multiartista que surpreende o Brasil a todo momento. Atriz, cantora, produtora, empresária e autora, Cleo tem a arte em seu sangue. Dona de uma presença ímpar, a carioca é considerada uma das mulheres mais bonitas e sensuais do Brasil. Entretanto, Cleo não é do tipo que só fala de truques de beleza e carreira, por onde passa, deixa seu recado sobre as bandeiras que levanta, defendendo a liberdade e o respeito para todos.

Em entrevista à L’Officiel, descobrimos as motivações que cercam a jornada artística da Cleo, um pouquinho do que acontece quando está longe dos estúdios e conversamos sobre a pressão estética e os movimentos sociopolíticos no Brasil. 

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Hoje se discute muito sobre os “nepo-babies” de Hollywood, mas você se considera uma nepo baby do Brasil? Como foi quando você descobriu que seus pais eram famosos?

É óbvio que muitas das oportunidades que eu tive no meio artístico me foram ofertadas pelo privilégio de ser filha dos meus pais e eu tenho bastante consciência desse privilégio, tanto que foi algo que eu relutei durante muitos anos, antes de adentrar a esse universo. Quando iniciei como atriz, aos 19 anos, foi uma decisão mais consciente de que eu de fato queria me dedicar àquilo e não apenas seguindo um fluxo que me foi apresentado. Mas também entendo que a forma como permanecemos no mercado, a forma como nos comportamos e o que tiramos dessas experiências é o que nos faz valer. 

Não me lembro de quando veio o estalo de que meus pais eram famosos, mas lembro que eu tinha muito ciúmes da minha mãe (risos), porque as pessoas ficavam bastante em cima dela, querendo a atenção dela e isso me incomodava. No início eu via como algo negativo, porque a forma como eu me relacionava com esse assunto era voltado para algumas experiências negativas, seja da exposição da família e assédio da mídia, seja na escola. Mas fui aprendendo a lidar com isso aos poucos e entre erros e acertos, descobri o meu próprio caminho dentro desse cenário.

Você sempre se demonstra multifacetada com trabalhos em diversos segmentos, como é para você explorar diferentes carreiras? Sente que existe um preconceito em relação a esse movimento no Brasil?

Explorar as diferentes possibilidades de carreiras e formas de me expressar nas mais variadas vertentes artísticas é algo que me move. Eu acredito muito que a arte é uma forma de você se libertar e não se limitar. Então, cada novo trabalho que eu realizo representa um passo que dou em direção à minha realização pessoal e profissional. Em outros países, por exemplo, essa prática já é comum há anos, muitos artistas atuam, cantam, produzem e fazem de tudo um pouco. Aqui essa tendência já é mais nova, então já rolou muito preconceito sim. As pessoas te colocam em caixas e esperam que você se encaixe nelas para o resto da vida, porque quando você não encaixa mais, sinto que as pessoas não sabem muito bem o que fazer com você; não te entendem e não sabem o que fazer com isso. Ainda é comum ver a chuva de críticas quando um ator resolve cantar ou um cantor atuar, mas nos últimos anos decidi que isso nunca mais irá me impedir de ir atrás do desenvolvimento do meu trabalho. A diversidade de experiências enriquece a minha jornada como artista.

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Seja no cinema ou na TV, qual personagem foi mais desafiador para você?

Nossa, é muito difícil para uma libriana escolher assim (risos). Não consigo definir qual o personagem mais desafiador… Posso citar alguns que foram bem desafiadores. A verdade mesmo é que todo personagem te provoca em algum lugar, te tira de uma zona de conforto com algum aspecto da personalidade dele. Então personagens como Surya (“Caminho das Índias”), Estela Karuê (“Araguaia”), Bianca (“Salve Jorge”), Tati (“Qualquer Gato Vira-Lata”), Viviane (“Mais Forte Que O Mundo”), Francis (“Operações Especiais”) foram algumas das que me provocaram e desafiaram, fosse por alguma característica da personalidade delas ou alguma preparação física necessária. Tiveram outras personagens também, mas no momento me recordo dessas.

 Quem é a Cleo em casa, longe da televisão, das fotos, da vida de celebridade?

Uma mulher normal. As pessoas fantasiam muito sobre como sou em casa, mas não tem nada de muito fantástico. Sou uma pessoa que ama passar tempo com meu marido, amigos e família. Sou dessas que maratona séries quando sinto que preciso de “um dia de verme”, que é como eu chamo os dias que descanso e não faço absolutamente nada a não ser ficar no sofá. Amo jogar videogame, ler livros, assistir filmes ou documentários, viajar… Gosto também de aprender coisas novas, acredito que essa aprendizagem contínua é essencial para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. No geral, como uma pessoa comum, eu tenho as minhas vulnerabilidades, meus desafios e alegrias, mas sempre busco aproveitar a vida, saber aproveitar os momentos.

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Sua autenticidade muitas vezes foi criticada por conservadores. Como você lida com esses comentários?

Cara, hoje em dia eu não lido muito, não. Com os anos aprendi a importância de me blindar de algumas situações e essa é uma delas. É claro que não dá para entrar em uma bolha e não ver absolutamente nada, mas chega muito perto disso. E quando sinto que preciso responder também, respondo. É algo que eu falo já há algum tempo, que é essa caixa que as pessoas precisam que a gente se encaixe pra poder fazer sentido na cabeça delas. Eu espero mesmo que as pessoas fiquem incomodadas com as pautas que não apenas eu levanto, mas outras pessoas também, como a liberdade feminina (seja ela sexual, financeira, emocional ou qualquer outra), os direitos raciais de cada um, direitos humanos, direitos da comunidade LGBTQIAPN+ e por aí vai. Se isso está incomodando, é porque precisamos de fato olhar para essas pautas e entendê-las. É entender formas inteligentes também de utilizar as redes sociais. Consumir entretenimento é importante, ter essa válvula de escape é válido, mas é ir além também.

Qual reflexão você faz sobre o extremismo e conservadorismo aflorado no Brasil nos últimos anos e quais suas expectativas para o futuro do país?

Não acho que a pessoa ser conservadora seja um problema, vivemos em Estado laico e democrático. O problema está quando isso ultrapassa as paredes do “meu modo de viver” e chega na imposição à força, por meio de discursos políticos e de ódio. Nos últimos anos vimos uma sociedade extremista e preconceituosa dar as caras pelos sete cantos do país e pelos mais diversos meios de comunicação, vimos as pessoas, a arte, a história, a literatura e a ciência sendo atacadas. Vimos a vida sendo desvalorizada e as pessoas fazendo piada com isso. Vimos um líder de Estado usar o nome de Deus para disseminar as mais diversas atrocidades, enquanto uma imensa plateia o aplaudiu. Foram tempos assustadores, mas também de muita reflexão e aprendizado para quem estava ali lutando por mudanças. Para o futuro do Brasil eu espero um país de possibilidades, respeito, oportunidades, educação, diversidade e que todo brasileiro tenha condições dignas de vida, tanto financeiramente quanto na liberdade de ser quem é e ser respeitado por isso.

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Você tem um projeto Eu e Elas com suas irmãs e seu segundo pai Orlando Morais. Como surgiu o projeto?

O projeto nasceu de uma forma bem natural, nós sempre fizemos isso em casa, sempre cantamos juntos, trazíamos músicas próprias para compartilhar e sempre conversávamos sobre. Foi a partir desses momentos que criamos o “Eu e Elas”, é uma maneira de levar um pouco desses momentos ao público.

Sabemos que existe um peso em estar dentro dos padrões de beleza, ser uma mulher empoderada e sensual. Como você lida com essa pressão?

É uma pressão bem cruel. Acho extremamente errado as pessoas acreditarem – e esperarem – que a mulher não passe por mudanças, que seu corpo seja o mesmo para sempre. Não existe isso. Hoje eu procuro lidar de uma forma mais leve, mas entendi também no meio desse processo todo que não consigo lidar com isso sozinha, preciso de uma base, de um amparo. É aí que entra a minha equipe, a terapia, a minha família, os meus amigos. Foi através do autoconhecimento que comecei a entender melhor os meus machucados e como lidar com eles, entender o que me gatilhava, o que eu estava deixando de munição na mão de pessoas. Não existe uma fórmula mágica de como lidar com essa pressão, não acho que algum dia vamos conseguir encontrar uma saída para isso. O que funciona para mim é me sentir amparada e acolhida, é saber me acolher também, saber ter um olhar de carinho comigo mesma e entender que as minhas vulnerabilidades estão lá, que posso conviver com elas e posso olhar para elas sem me deixar me derrubar. Essa caixa da “mulher sensual” foi algo que as pessoas colocaram para mim desde muito nova, é algo muito profundo que precisei trabalhar em mim para entender de onde isso veio, como isso afetou a minha vida ao longo dos anos e onde me encontro agora. Tudo na vida faz parte de um processo e busco não deixar que isso me limite.

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Como você gostaria de inspirar as pessoas?

É uma pergunta um tanto complexa… Não sei se consigo definir isso tão certinho, mas espero que através do que eu faço com a minha arte, no que eu canto, no que eu produzo ou falo, as pessoas consigam se sentir tocadas, ouvidas e acolhidas. Consigam entender que essas limitações só servem para benefício do outro e não nosso. Somos seres plurais. Então é ter campo para explorar essa pluralidade sem temer tanto o que o outro vai pensar. Imagino que a busca pela validação alheia sempre seja um desafio que teremos no nosso caminho, mas não deixar que isso nos impeça de avançar, de ir atrás dos nossos sonhos independente da nossa idade, gênero, raça…

Para finalizar, nos conte um livro e um filme que foram ou são essenciais e importantes para você?

Um livro é A semente de mostarda - Volume II, do Osho, e o filme é “Beleza Roubada”, de Bernardo Bertolucci.

CRÉDITOS EQUIPE:

Beauty: Andre veloso 

Fotografia: Paschoal Rodriguez

Direção criativa: Felipe Ribeiro

Produção executiva: Beatrix Bortolai

Produção de set: Thiago Ramalho

Styling: João Ribeiro

Assistência de styling: Guilherme Fracaro

Produção de moda: Murilo Gracioto

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