Dira Paes sobre ser diretora de Pasárgada: “Um transbordamento”
Dira Paes dirigiu o seu primeiro filme ‘Pasárgada’ e revela com exclusividade para a L’Officiel Brasil, detalhes da experiência
Dira Paes estreou a sua versão “Diretora” com o filme Pasárgada (2024), obra na qual também roteirizou e atuou ao lado de grandes nomes como Cássia Kis e Humberto Carrão. Em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil, Dira reflete sobre a incrível experiência, relembra grandes personagens como ‘Solineuza’ e nos leva em uma viagem deliciosa ao Pará e suas maravilhas naturais. Confira a matéria completa:
Dira, você acaba de vivenciar um novo marco em sua vida! Com o filme ‘Pasárgada’ você abre espaço para o seu lado atriz, roteirista e DIRETORA entrar em cena. Como foi a experiência? Foram sensações diferentes do que as quais você estava acostumada?
Para mim, essa experiência foi um transbordamento. É como se eu quisesse cruzar a fronteira mesmo, sabe? Uma rebeldia, uma audácia e um desejo de realizar, um desejo de experimentar essa história desde a ideia original até esse momento que a gente está vivendo agora, que é o encontro do filme com o público. Eu tenho me sentido assim diferente, não vou mentir, é uma sensação, é como se meu olhar invertesse e, ao mesmo tempo, estar em cena também é como se eu conversasse comigo mesma. Tem que ter um autocontrole e uma noção real do que você está fazendo ali, o porquê de tudo também.
Durante a gravação do filme, você foi para o meio da floresta mergulhar em sua personagem. Tendo nascido no Pará, na Floresta Amazônica, como você sente que essa experiência de levou de volta às origens?
Eu nunca me afastei das minhas origens, a floresta, a mata atlântica, a natureza em si, é o meu ponto de recarregar mesmo as baterias, de ter as sensações vibrantes do meu corpo em contato com esses lugares, respirar esses lugares e ser conscientemente uma pessoa que está conectada com o meio ambiente, com a noção da importância da preservação desses biomas para as nossas vidas, então o filme resvala nesse lugar e eu acho que tem tudo a ver comigo mesmo.
Você é mulher e agora, está ingressando em um ramo que há alguns anos foi “predominantemente masculino”. Como se sente em meio a este desafio e qual mensagem deseja passar para outras mulheres que querem assumir o posto de Diretoras no mundo audiovisual?
Acho que a desigualdade de gênero existe até hoje, e nós estamos conscientes disso e estamos lutando por isso. Queremos mulheres nos cargos de chefia, em todas as instâncias da representatividade cinematográfica. Mas é importante ressaltar que nós tivemos pioneiras que fazem cinemas desde a virada do século XIX para o século XX. E como em Carmen Santos, mulheres que foram, estiveram sempre à frente do seu tempo. Então as mulheres sempre estiveram presentes no cinema brasileiro, mas não de uma forma equânime.
Pasárgada foi exibido recentemente no Festival de Cinema de Gramado? E aí, deu um friozinho na barriga?
Eu fiquei muito nervosa, não vou mentir, foi uma sensação muito diferente de subir ao palco para apresentar um filme, é como se fosse um desnudar, eu me senti muito ali transparente, sabe, como se todo mundo estivesse vendo a minha alma, mas foi bom, foi bom eu senti essa sensação porque faltava ter essa experiência do filme encontrar o seu público e Gramado foi esse momento auge que eu nunca vou esquecer na minha vida. Ainda mais que saímos com o Kikito de melhor desenho de som, que tem tudo a ver com essa experiência fantástica que é falar do mundo dos pássaros.
Sua carreira é recheada de sucessos! Qual de todos os trabalhos é o seu “queridinho” e qual foi o mais desafiador em sua opinião?
É tão difícil escolher um personagem só porque a gente sempre quer o próximo, a gente sempre quer a diversidade, a pluralidade, o novo. A gente morre para os outros e quer nascer para outros, para o que virá, sabe? Então, para mim, é muito difícil escolher o meu queridinho, mas eu sei que o público gosta muito de alguns personagens que eu já fiz, assim, do cinema, como a Dona Helena de Dos Filhos de Francisco, a Pureza, e na televisão tem a Norminha, a Lúcia Mar de Salve Jorge, a Mãe da Morena, tem Solineuza, tem alguns personagens, eu fico feliz, a própria Filó de Pantanal. Então, por aí vamos, por aí seguimos. E o mais desafiador é sempre também o próximo, é aquele que ainda não existe, que você precisa trazer a vida, esse momento é muito delicado e muito lindo de viver.
Olhando para o universo da comédia, como não lembrar com carinho da engraçadíssima ‘Solineuza’ de A Diarista? Conta pra gente uma lembrança boa que você tem aquela fase?
A Solineuza foi a minha palhaça, foi a minha liberdade de fazer as coisas mais banais e mais cotidianas, mais infantis, que pode existir numa só pessoa. Ela era puro afeto, aquela melhor amiga que faz tudo por você e faz tudo errado, mas caiu no gosto do público, foi muito lindo de viver esse momento. Foram três anos e meio onde tudo era querido, a piada dela era muito ingênua, era muito para toda a família, então isso deu um carinho do público. Grudou uma coisa assim que foi uma cumplicidade e o público parece que ele agradece a quem faz rir, sabe? Tem uma coisa que vai além só de gostar, tem como se fosse um agradecimento, um reconhecimento. Por aquela gargalhada.
Você tem 55 anos e mantém uma aparência super jovial! O que você tem feito quando o assunto é pele e cabelo?
Eu acho que na dúvida a gente usa um azeite de andiroba, sabe? Aqui chama óleo de andiroba, lá a gente chama azeite. É um remédio para tudo, sabe? Ele é o nosso óleo, que é o nosso bactericida, nosso anti-inflamatório. Ele é hidrata, ele é bom para o cabelo. Agora ele tem um cheiro de madeira forte. Então é só para quem aguenta mesmo. Mas ele é o nosso remédio de toda a vida.
Como você traduz em seu guarda-roupa, a sua verdadeira essência? Em suas produções, você gosta de dar um “toque especial” que remete à sua terra natal?
Ah, eu sou uma pessoa que gosto de um estilo mais alfaiataria misturado com peças modernas, com jeans, mas eu gosto de uma roupa cortada, sabe, que foi pensada e elaborada, e misturo com os sapatos e sempre acessórios que também vão dar um toque especial, e é isso, assim, que eu tenho, gosto de peças que eu sinto a textura agradavelmente no meu corpo.
Quando falamos de feminilidade, também podemos falar sobre a força e potência da maternidade! Quem se tornou Dira Paes após a chegada do Inácio e do Martim?
Eu tenho desejo de trabalhar com as pessoas que eu admiro na frente e atrás das câmeras. Nem sempre eu escolho um trabalho por um personagem. Muitas vezes eu escolho para estar com aquela pessoa, ou com aquele fotógrafo, ou com aquele diretor, ou contra-acenar. É um conjunto de fatores que faz você desejar estar num filme.
Qual a maior aventura que já viveu?
Acho que a maior aventura que eu já vivi foi ao lado do Pablo Baião, uma viagem ao México, de mochila, que nós fizemos, e nós passamos por lugares e por templos e momentos inesquecíveis e que eu tenho certeza, lugares hoje que a gente não conseguiria mais passar nos dias de hoje. Essa viagem faz quase 20 anos e foi um momento muito especial da nossa vida e foi uma grande aventura.
Na verdade, foi uma viagem pela península de Yucatán, México e Guatemala. Nós fomos para Guatemala também, nessa mesma viagem, só para complementar porque a parte didical na Guatemala foi particularmente especial.
Eu poderia ter respondido também que a minha maior aventura foi ter dirigido Pazárgada, porque fazer um longa-metragem é uma responsabilidade muito grande. E nesse sentido, eu me sinto muito feliz de ter tido como início, meio e fim desse processo, entregando o filme para o público nesse momento, sabe, tão especial que eu uma satisfação pessoal de cumprir essa jornada.
Você só pode escolher um lugar para viver pelo resto de sua vida. Para onde iria?
Vamo embora pra Pasárgada. Eu acho que o lugar que eu escolheria pra viver seria o resto da vida, seria no sítio Paraíso Verde, no nosso Açaizal, no Pará. Seria o lugar, a terra que a mamãe elegeu e a terra que a gente cuida. Então eu acho que seria a terra que eu escolheria, mas eu gosto desse meu canto aqui no Rio de Janeiro também. São dois cantos muito especiais pra mim no mundo.
O que não pode faltar em sua bolsa:
O que não falta na minha bolsa é meu protetor solar, minha identidade e meu cartão de crédito. São as três coisas que realmente eu não vivo sem.
Uma habilidade sua, que poucos conhecem:
Eu gosto de desenhar, eu gosto das minhas inspirações quando eu sento pra fazer, desenhar. Eu gosto de desenhar com carvão, nos papéis brancos, assim, ou lápis de cera preto também. É um hobby, é uma coisa que faz, que dá prazer e acalma.
Três palavras para definir ‘Pasárgada’:
Paraíso, sonhado e perdido.