Júlia Petit em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil
Salve Júlia Petit! Ela já foi modelo, designer de joias, produtora. Hoje, à frente da marca de cosméticos Sallve, é empresária – e das visionárias
“Eu nem acho que mudei tanto de carreira. Desde menina, as coisas que me chamaram a atenção sempre tinham a ver com comunicação, quis ir muito nova estagiar na agência de publicidade, com meu pai [a DPZ, de Carlos Petit].” Isso porque sempre quis entender aspectos diferentes – texto e imagem, foto, vídeo, música, produto, como que a gente se comunica com as pessoas via internet e redes sociais... “Acho que sempre trabalhei em comunicação, a vida inteira, ainda que dentro de aspectos diferentes.” E como comunicadora 20.22, ela fala de beleza, da Sallve, de como se relaciona com Millenials e Gen Z, de ser cringe...
Moda e beleza sempre foram suas paixões?
Sempre. Elas são parte da lente pela qual adoro olhar o mundo. Eu acho que a moda e a beleza refletem o momento que a gente vive muito bem. E sempre
gostei muito de olhar o contexto sociopolítico e entender como as coisas estão acontecendo no mundo e por que elas se cristalizam na aparência das pessoas... Sempre foi a coisa que eu mais gostei de fazer. E aí tudo, né: música, cinema, política, tudo. Elas são a parte visual da minha paixão, na verdade. Acho que é isso.
Como o “bichinho da beleza” mordeu você?
Eu acho que me interessei por beleza quando comecei a estagiar na DPZ – porque comecei a conviver muito com cabeleireiros e maquiadores. Sempre gostei dessas coisas de maquiagem, mas não era um interesse profissional. Eu tinha 15 anos e trabalhava com gente de 19, 20 e poucos, de 40, 50. Foi aí que comecei a entender de fato esse universo da beleza e, quando muito tempo depois fui trabalhar na internet, fazer conteúdo e tudo mais, falar sobre beleza foi muito natural para mim porque eu tinha essa espécie de mala cheia de informações, quase 20 anos aprendendo como fazer, como as coisas são feitas, como as pessoas podem fazer cabelo e make sozinhas. Foi justamente ali conhecendo as pessoas e entendendo o trabalho delas que eu comecei de fato a me interessar na mágica, sabe? O quanto a gente pode mudar as pessoas, a vida das pessoas. Foi uma daquelas gavetas muito cheias de informação que eu tinha e precisava repassar para a frente. Eu precisava comunicar isso.
Como vê a beleza 20.22? Limpa? Minimalista? Acessível? Colorida? Diversa? Tudo isso junto e misturado?
Acho que a beleza em 2022, ainda bem, não tem uma cara. Acho que os últimos foram muito legais, de tudo ao mesmo tempo agora. Até acho muito engraçado quando estou fazendo ronda de redes sociais. Ainda se vê alguns veículos tentando falar X é a onda deste verão ou tal tendência todo mundo vai usar. Não existem mais essas tentativas imperativas de você dar uma cara, um tipo de beleza, um tipo de tendência de roupa (ou de qualquer coisa), afirmar que aquilo é o dessa estação. Tanto que a gente vê tudo misturado e é muito legal! A pele limpa ou com um monte de maquiagem com cristal, ou maquiagem natural, ou um pouco de “bonita”. A cara de agora é todas as caras. A cara de agora são várias pessoas, inclusive no mesmo dia. Não é mais quem a gente quer ser na vida. É quem a gente quer ser naquele momento ou naquele dia, quem eu quero ser de manhã, ou quem eu quero ser de noite.
Você tem 50 anos – mas rostinho, corpinho e vibe de Millenial (ou até de Geração Z). Como lida com o passar dos anos?
Fiz 50 anos esse ano e foi engraçado porque quando começou a pandemia, pensei: será que quando a gente sair de tudo isso eu já vou ter feito 50? Para mim é quase um descolamento de personalidade. Os anos vão passando e eu continuo muito igual ou ainda mais criativa e hiperativa, e querendo fazer um milhão de coisas ao mesmo tempo, e tendo um um milhão de ideias ao mesmo tempo. Então para mim a vida não mudou. Só o número. E esse, sim, aumenta e aumenta rápido. Aquela coisa que parece que o tempo começa a passar mais rápido. E começa a ficar engraçado. Porque eu não consigo me reconhecer no número. E ao mesmo tempo eu consigo reconhecer toda a experiência e o aprendizado e as muitas vidas – porque eu sempre falo “já não parece mais uma vida. Parece algumas encarnações”. Isso que você me perguntou no começo, de eu ter feito tantas coisas... Quando vai juntando tudo, parece que são vidas diferentes! Toda vez que eu vou falar, eu faço isso a X anos sempre dá tipo 20 anos, sei lá, 15 anos. Nunca dá pouco tempo, então é engraçado. Eu acho que eu trato com leveza. E ao mesmo tempo, pensei assim: será que eu já vivi a maior parte da minha vida? Então, acho que talvez agora comece a ficar com aquela vontade de fazer mais coisas (risos).
Você já se achou cringe em algum momento – ou é sempre descolada?
Sobre me achar cringe. Eu me acho cringe o tempo inteiro – até por ser essa pessoa hiperativa que eu sou. Eu fico muito pensando assim: imagina como as pessoas me enxergam, meu pai do céu. Imaginou? Tipo, você é doida? Que que ela está falando, meu Deus? Eu vivi como jovem adolescente e adolescente até a vida adulta nos anos 1980 e nos anos 1990. Então, você pode ter certeza que vergonha eu passei na vida. O fato é que a gente passa vergonha o tempo todo na vida. O que é muito legal porque deixa a gente muito desapegada das coisas, né? Sempre tem alguém passando vergonha. Inclusive nós mesmos. Então, acho que se tratar com leveza e achar que está tudo bem é o caminho.
Agora, falando sério: você convive, na Sallve e no Petiscos, com Millenials, Geração Z... A troca enriquece, mas conf litos são inevitáveis?
O Petiscos é muito mais Millenial e a Sallve também. Hoje trabalho com mais pessoas Gen Z, mas acho que o embate é real e ótimo – o choque de gerações, o atrito é que faz o mundo andar pra frente. Eu sempre tive turmas muito diversas, para todos os lados e para todas as idades. Tenho amigos muito mais velhos, muito mais jovens. É isso que traz essa energia de parecer de várias épocas. Eu pego um pouquinho de cada pessoa. E gosto da discussão de ideias. Sou feliz na confusão assim, quanto mais tiver confusão para mim, melhor.
Como lida com a exposição exigida pelas redes sociais?
Eu nunca me expus em rede social na real, né? Eu tenho perfil, mas nunca trabalhei muito para os meus perfis crescerem. Eles cresceram numa época em que os perfis cresciam muito por interesse real das pessoas, mas não na vida pessoal. Foi uma época ainda muito pura das redes sociais. Mantenho minha privacidade, eu tenho minha vida. Primeiro porque eu acho que as pessoas iam achar minha rotina muito sem graça – ela é provavelmente muito parecida com a sua ou com a de qualquer outra pessoa. Eu não tenho essa loucura de saber a intimidade, o dia a dia das pessoas. Gosto muito de manter uma vida discreta. Não sei se porque eu fui criada por pais muito discretos. Eu gosto de mostrar o meu trabalho, as coisas que eu faço. Até porque, meu dia a dia não é só meu. É meu, do meu marido, da minha filha. Gosto de manter essa divisão bem marcada. São escolhas. Redes sociais para mim são trabalho. O meu trabalho é comunicar, dar informação ou mostrar produtos. E por isso acho que eu tenho uma convivência muito tranquila nas redes sociais.
Qual o segredo dessa pele boa?
Eu acho que o que faz mais diferença na minha pele foi ter aprendido com a minha mãe que aprendeu com a minha avó (a mãe do meu pai, na verdade): lavar a pele sempre, estar com a pele limpa. E usar a história da toalhinha que a gente dá de presente na Sallve. Usar a toalha para limpar o rosto faz uma esfoliação bem levinha, diariamente. E usar protetor solar no rosto diariamente. Eu acho que é isso. É ter aprendido com a minha mãe que não é para dormir maquiada jamais. Vai lavar o rosto com sabonetinho de lavar o rosto e não esquece de passar um tônico com uma toalhinha. São cuidados para a vida toda. Aí, eles fazem muita diferença. Aprendi a usar vitamina C, sei lá, 20 anos atrás – meu Deus do céu, estou ficando velha. E aí você vai aprendendo a incluir ativos na sua rotina e tudo começa a funcionar melhor.
Quais os próximos passos da Julia empresária? O que vem por aí?
Não fala em próximos passos que o cérebro já ferve. Eu tenho esse bicho carpinteiro – fico querendo fazer coisas novas o tempo todo. Mas a Sallve já é uma novidade por dia – a gente lança um produto por mês. Todo dia a gente está falando de uma embalagem, de uma melhora, seja de entrega dos produtos, seja de... seja de qualquer coisa desse tipo. A marca é uma fonte inesgotável de novidades para mim, o que me mantém muito nutrida. Acho que encontrei no formato de negócio da Sallve, no jeito que a gente tem de produzir as coisas, na forma de falar com a comunidade o tempo inteiro. Então é como se eu tivesse trabalhando em muitos lugares e fazendo muitos trabalhos diferentes ao mesmo tempo. E isso me deixa calma!
Créditos
STYLING E PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ana Luiza Neves.
ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA: Omalito.
ASSISTENTE DE STYLING: Camille Mando.
BEAUTY: Higor Piccoli.
ASSISTENTE DE BEAUTY: Nicole dos Anjos.
RETOUCH: Evandro Santos.