Cultura

Yndiara Asp em entrevista exclusiva para a L'Officiel Brasil

Na pista! Yndiara Asp é considerada um dos nomes mais promissores do skate nacional. a jovem conta, em entrevista para a L’Officiel, como foi o início da carreira, suas táticas para driblar o nervosismo antes de uma grande competição, o sonho olímpico (já realizado) e como o incentivo do pai, aos 7 anos, fez com que ela enxergasse que lugar de mulher é onde ela quiser

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Fotos: Tauana Sofia

O seu primeiro skate foi um presente do seu pai, ainda na infância. Foi você quem pediu ou ele que resolveu dar?
Meu pai que decidiu. Eu tenho um irmão mais novo que ia ganhar, de presente de Natal, aqueles carrinhos que você entra nele e pedala, grandes, e eu ia ganhar uma bonequinha. Só que o meu pai ficou com medo que eu sentisse ciúmes, por meu presente ser pequeno se comparado com o tamanho do carro. Foi aí que ele decidiu incrementar. No dia 24 de dezembro, ele então foi a uma loja de brinquedos e viu que o skate caberia no orçamento. Decidiu levar, mesmo com a vendedora estranhando, já que eu era uma menina, mas ele nem se importou com isso de gênero. Foi muito legal, pois eu dei os meus primeiros “rolês” na casa do meu avô, brincando, mas já entendendo que aquilo era muito desafiador, pois entra em cena o equilíbrio, descer umas rampinhas. Esse foi o meu primeiro contato com o que se tornaria a minha profissão.

Mas demorou um pouco até você realmente se apaixonar por esse esporte, não? Quando foi que “virou a chave” e entendeu que o skate poderia ser também a sua carreira?
Inicialmente, andar de skate era uma atividade lúdica que eu compartilhava com o meu irmão. Eu comecei a levar a sério mesmo quando fiz 15 anos, que foi quando eu aprendi a dropar uma pista. Foi aí que me apaixonei pela sensação de superar o meu medo e conseguir fazer certas manobras. Foi uma fase da minha vida que parei até de ir para a praia, pois adoro surfar, já que eu só queria andar de skate. Nessa época, também comecei a me interessar mais sobre o mundo do skate, a frequentar locais para a prática e a participar de campeonatos. A partir daí, fui criando o sonho de poder viver daquilo. 

O skate passou a ser ainda mais popular no Brasil após virar esporte olímpico. O que isso impactou no segmento e na sua carreira?
Com as Olimpíadas, o esporte subiu para outro patamar. Isso refletiu em nosso cotidiano como atletas do skate, pois fez com que nos profissionalizássemos e também aumentaram as divulgações, os apoios e trabalhos — dentro e fora das pistas. Começaram a surgir mais eventos, novas pistas e um maior interesse geral para fortalecer a cena, pois somos uma potência mundial do esporte. Também foi criada uma preocupação maior em pensarmos na base, nas novas gerações que serão o futuro do nosso skate.

Sua modalidade é park. Poderia explicar a diferença dela para o street?
O street simula obstáculos da rua, como escadas, corrimão e bancos. Nessas estruturas são feitas as manobras. Já o park é uma pista, como uma piscina em formato maior e cheia de obstáculos.

Fotos: Tauana Sofia

Como foi competir nessa modalidade em uma Olimpíada — a primeira do skate, inclusive?
Foi a maior experiência da minha vida estar na Vila Olímpica junto com atletas fantásticos de todo o mundo. É a realização de um sonho, pois sempre quis ser a melhor skatista que eu poderia ser. E fomos os primeiros skatistas a fazer isso, pois foi a estreia da modalidade na Olimpíada, algo que ficou para a história. Uma coisa que faltou, digamos assim, é o público. Por causa da Covid-19 isso não foi possível, mas deu para ter ideia da proporção quando voltamos para o Brasil e vimos o impacto de quem torceu por nós. Agora o foco é Paris 2024, em busca de uma medalha.

Como é a sua preparação emocional para eventos como esse
Eu treino a mente para o que eu quero fazer. Dá sempre frio na barriga, claro, mas tento mantê-lo em um limite que não vai me atrapalhar, pois essa energia precisa me ajudar. Uns 20 minutos antes de competir eu também coloco alguma música, vibração ou mantra. Depois desse ritual é confiança e bora! Gosto muito de meditar também — e de focar na minha respiração.

Como estão as questões de gênero dentro do skate? Sabemos que em muitas categorias esportivas ainda existe muito machismo, com mulheres ganhando menos do que os homens para desempenhar as mesmas funções. Você sente que isso é um empecilho dentro da modalidade?
O gênero no skate passou por uma revolução nos últimos anos. O esporte era considerado algo “de menino” antigamente. Só que hoje, quando pensamos em skate nacional e para uma ampla parcela da população, o primeiro nome que vem à mente é Rayssa Leal. A Fadinha virou um símbolo. E ela é uma menina que tocou o coração das pessoas, bem como de todo o nosso grupo. A pureza dela dançando e se divertindo, muito talentosa, foi impactante. E isso ajudou a mos- trar para todo mundo que skate é uma atividade para todas as pessoas, independentemente do gênero. Ah, e eu fiz parte de uma revolução, em 2018, que considero muito importante para as mulheres do skate: igualar a premiação dos eventos. Eu espero que a gente possa continuar evoluindo.

Fotos: Tauana Sofia

Crédios:
Texto: Paula Roschel
Fotos: Tauana Sofia
Beleza: Paula Kadija
Styling: Thiago Ferraz (Thico)

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