Mariana Ximenes: confira uma entrevista exclusiva com a atriz
Em meio às flores de Paris, e vestindo Dior, Mariana Ximenes conta sobre duas décadas de carreira, a relação com a moda e sua estreia na semana de alta-costura
Mariana Ximenes é daquelas atrizes que têm pegada de veterana desde a estreia. Aos 41 anos, mantém a energia solar e fresh dos 17, quando deu as caras na tevê. Firme, constante e segura de seu talento, já protagonizou uma série de novelas, filmes e peças de teatro, vivendo mocinhas, vilãs, personagens de época, e mais recentemente abriu seus braços também para a produção, além de apresentação de programas.
A seguir, ela conta sobre sua estreia em grande estilo na semana de alta-costura, fala da sua relação com a moda, do chapéu de Catherine Deneuve que arrematou em um leilão, do amor em contar histórias, de quais bandeiras fazem seu coração disparar e do que 2022 ainda reserva.
L’OFFICIEL Qual a sua relação com a moda?
MARIANA XIMENES Uso a moda para me expressar. Para mim, ela não é só uma questão do que e de como se vestir, é comportamento e comunicação. Estive na última semana de alta-costura, em Paris, e acompanhei da fila A o desfile da Dior, ao lado da Anna Wintour. Foi a minha primeira vez na semana de Haute Couture. Estreei em grande estilo (risos). E lá vi, juntas, duas paixões minhas: a moda e a arte. O desfile aconteceu no Museu Rodin. Então, também pude andar por ele depois e ver esculturas impressionantes. Admiro o trabalho da Maria Grazia Chiuri. Para o desfile de alta-costura, ela convidou a artista ucraniana Olesia Trofymenko para elaborar o cenário do desfile, abordando a importância das raízes e do folclore. Olesia, por sua vez, convidou artesãs indianas para executar os bordados, ou seja, foi uma mistura de culturas. Gosto também de Elsa Schiaparelli, Virgil Abloh, Pierpaolo Piccioli. E amo figuras como David Bowie, que sempre esteve aberto a experimentações.
Enquanto atriz, a moda é relevante para você criar suas personagens?
Ela é uma ferramenta muito importante. Eu sempre trabalho traçando primeiro um perfil psicológico da personagem, e, a partir dele, começo uma busca sobre como ela se expressa: cabelo, maquiagem, figurino. Converso com a equipe para chegarmos a um consenso de como essa personagem reflete sua personalidade. Sempre prezo por essa troca positiva e enriquecedora no trabalho com todas as pessoas envolvidas no processo. Buscamos referências, inspirações na moda para encontrarmos um caminho de construção da personagem.
E como a usa no dia a dia?
Eu adoro me vestir. No dia a dia, sou adepta de um estilo clássico moderno. Mas quando a ocasião pede, também gosto de ousar. Tudo depende da situação para a qual estou escolhendo aquela roupa. Nesse processo eu também tenho a sorte de contar com meus stylists, Juliano Pessoa e Zuel Ferreira, que estão ao meu lado, trocando comigo, trazendo referências também. Estou sempre atenta aos figurinistas, aos amigos que constantemente apuram meu olhar. Assim vamos construindo caminhos da moda que eu amo percorrer! Gosto de pensar também nas marcas que refletem meus valores. Por exemplo, Maria Grazia Chiuri é feminista, apoia artistas mulheres; o Demna Gvasalia, diretor criativo da Balenciaga, é um refugiado de guerra, então suas coleções sempre costumam ser políticas; e o próprio Pierpaolo Piccioli, da Valentino, sempre realiza shows com uma sensibilidade a acontecimentos mundiais e culturais. Virgil Abloh revolucionou a moda: foi diretor criativo de uma grande maison, incentivou e apoiou o trabalho de outros artistas pretos, trouxe o conceito da moda agênero para Louis Vuitton.
Sua galeria de personagens é multi. De época, infantil, vilã, mocinha: qual a instiga mais?
A variedade me encanta, com certeza! Poder viver várias pessoas em uma só vida, experimentar emoções distintas, descobrir onde eu me distancio e onde me encontro com “aquela pessoa” que estou criando. Porque uma personagem é uma pessoa com quem vou conviver por um tempo (risos). Outra coisa que me encanta e me motiva, neste processo, é contar boas histórias, que vão mexer com o público, emocioná-lo, fazê-lo refletir. Para mim, a função social da arte é esta: fazer a gente pensar a nossa realidade por meio daquelas histórias. Arte é memória também. Ela é fundamental para todos nós, e deveria ser encarada como tal.
Como a arte faz parte da sua vida, do seu dia a dia?
Eu amo arte. Adoro ir a exposições, por exemplo. Estou sempre procurando saber de novos artistas. Realmente este é um assunto que me interessa muito. Moda também é arte. Uma curiosidade: a atriz francesa Catherine Deneuve promoveu um leilão com algumas peças de acervo dela e eu consegui arrematar um chapéu criado para ela por Yves Saint Laurent. É como uma peça de museu para mim, porque ali tem a história do cinema, da arte, da moda. A arte para mim é também inspiração, esse exercício de se deixar afetar, provocar, emocionar!
Você tem 41 anos – e rosto de menina. Ainda assim, sente o etarismo, a pressão por parecer sempre jovem?
O etarismo está sempre presente, né?! O mundo nunca olha para nós e diz: está tudo certo, tudo em ordem, está ótima! É sempre já fazendo um juízo de valor. Ou estamos novas demais, ou velhas demais. Nosso corpo nunca é nosso, querem tratá-lo como propriedade pública e arbitrar sobre ele: quando vamos ter filhos, como vamos ter filhos, se somos gordas ou magras... Essa é uma pressão que toda mulher sofre desde muito pequena. É uma gaiola em que nos colocam e nos querem deixar ali, trancadas, preocupadas em atender a um padrão, seja físico ou de comportamento, que foi estipulado para nunca ser alcançado. Fico muito feliz de ver que de uns tempos para cá estamos questionando isso cada vez mais. O tempo passa. Amadurecer faz parte da vida. E para mim o importante é estar feliz e bem tanto fisicamente quanto emocionalmente. O que esperam de mim, hoje em dia, já não me interessa. Estou muito bem nos 40. Me conheço melhor, sou mais bem resolvida e em paz comigo mesma. Eu amo viver e quero viver e aproveitar por muito tempo ainda!
Qual seu segredo para cuidar do corpo e da alma?
Penso que é um equilíbrio de saúde entre corpo, mente e alma. Eu me alimento bem, gosto de me exercitar, faço ioga, musculação, meditação... Adoro estar em contato com a natureza. Amo praia, cachoeira. E dormir bem. Adoro ler, mergulhar no mar ou na cachoeira, reunir amigos, viajar! Nossa, como estava com saudade de viajar. Tive a oportunidade de ir a Paris, fizemos este ensaio lindo lá, assisti ao desfile deslumbrante da Dior, encontrei amigos, reencontrei a cidade... Isso é tão revigorante!
Quais causas movem você?
A defesa da natureza é uma causa muito importante para mim. Se não cuidarmos dela nem a preservarmos, em que mundo viveremos? E qual mundo deixaremos de herança para as próximas gerações? Fiz parte, por exemplo, da campanha #NãoEsqueçaMariana, que alertava as pessoas a não esquecerem da tragédia ambiental que aconteceu em Minas Gerais. Fui ao Congresso Nacional este ano junto com tantos outros artistas no #AtoPelaTerra, para pressionar contra projetos de lei que afrouxavam leis ambientais. É realmente uma causa muito importante para mim. Cuidar do planeta, da natureza, é também cuidar das pessoas.
Quais seus projetos para 2022/2023?
Estou aproveitando um pouco de férias. Emendei muitos projetos durante a pandemia e estava me sentindo um pouco esgotada. Precisava de um tempo para respirar, olhar para mim com carinho e atenção. Desde o dia 21 de julho, está disponível no Globoplay a série Turma da Mônica, da qual participei. Foi um projeto muito especial. Sempre fui uma leitora voraz dos gibis criados pelo Maurício de Souza. Então, participar de um projeto com esses personagens foi como revisitar a minha infância. Também no Globoplay está disponível a primeira temporada do meu programa, Happy Hour com Mariana Ximenes, que foi minha primeira aventura como apresentadora. Além disso, junto com Andréia Horta, Bianca Comparato e Débora Falabella, estou vendo sobre novas possibilidades para o Cara Palavra, um projeto de teatro muito especial que fizemos on-line durante a pandemia. Ele misturava poesia e performance. Tenho também o filme Capitu e o Capítulo já pronto, um projeto que tem direção do Júlio Bressane.
Créditos
Fotos: Guto Carneiro
Edição de moda: Dione Occhipinti
Assistente de fotografia: Felipe Censi
Belebza: Paty Brunni com produtos Dior
Assistentes de styling: Monique Finster e Sofia Polycarpo
Retouch: Cristian Peterson