Viagem

Catalunha: o encantador pedaço da Espanha de energia vibrante

Catalunha, localizada no nordeste da Espanha, é encantadora para uma imersão cultural

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La Pedrera, Casa Milà - Foto: Pimpa Brauen.

Alinhado à elegância atemporal de Barcelona, dono de notáveis acenos arquitetônicos, o Majestic Hotel & SPA foi a morada perfeita para dias regados a uma imersão cultural vibrante. Confira!

Imersa na desordem provocada pela superlotação, a próspera Barcelona, capital da Catalunha, localizada no nordeste da Espanha, não parecia muito amistosa nos idos do século 19. Isso até o engenheiro Ildefons Cerdà estabelecer um ambicioso plano para organizar a cidade, nos anos 1850, baseado na ampliação da malha urbana, na implantação dos sistemas de coleta de água e de transporte coletivo e na criação de zonas industriais afastadas do centro. Mesmo que a iniciativa tivesse sido pensada para formar um distrito moderno, eficiente e mais inclusivo, por meio de uma estrutura prática de quarteirões entremeados por zonas verdes, estabelecimentos comerciais e equipamentos de lazer, o Conselho Municipal não se empolgou e tentou emplacar outras ideias. Tendo vencido a batalha, a equipe de Cerdà realizou estudos topográficos, ambientais e de convivência, idealizando até mesmo a maneira como os cidadãos circulariam pelas vias. Para os edifícios, foram consideradas a altura máxima das construções, a capacidade de ocupação e a estética pretendida. Aqueles que estivessem nas esquinas, por exemplo, deveriam ter as quinas chanfradas para ampliar a circulação de ar.

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Majestic Hotel & SPA Barcelona - Foto: Divulgação.

Esse foi o caso do Majestic Hotel Inglaterra, que ocupou um dos vértices da Avenida Passeig de Gràcia, uma das principais de Barcelona, palco de celebrações e de acontecimentos históricos. Inaugurado em 1918, o estabelecimento teve seu nome alterado para Majestic Hotel pouco depois da Guerra Civil Espanhola, ocorrida entre 1936 e 1939. Já sob o comando da família Soldevila-Casals, foi ampliado, e o número de acomodações mais que triplicou. Com a reformulação finalizada pouco depois dos Jogos Olímpicos de 1992 e a partir da intervenção assinada recentemente pelo escritório do designer de interiores Antonio Obrador, a torre de arquitetura neoclássica com características francesas do Majestic Hotel & SPA Barcelona ganhou notas contemporâneas e espaços maiores – com quartos, suítes e coberturas maiores, e 258 unidades no total. Além delas, vale enumerar a penthouse (tipo de residência que ocupa o último andar de um edifício) de 469 metros quadrados, com capacidade para acomodar seis pessoas, sala de refeições e dois terraços panorâmicos.

Sabendo cercar-se de itens de inúmeras tendências, exibidos pelos corredores, dormitórios e áreas comuns, o Majestic, com seus 103 anos de vida, criou sua galeria particular, com mais de mil obras de arte, combinando o clássico e a vanguarda nas obras do pintor Gonçal Peris Sarrià, do versátil Eudald Serra e do artista plástico Jaume Plensa. Diz-se que os contornos iniciais do acervo foram dados pelos donos do hotel, que levaram para o lugar móveis, quadros, vasos e tapetes. O acompanhamento da evolução da cultura produzida no país ficou registrado pela relação com nomes que se tornaram conhecidos no século 20 – hóspedes frequentes, aliás –, a contar o ceramista, desenhista e gravador Joan Miró (1893-1983).

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Wellness Center, piscina no rooftop - Foto: Pimpa Brauen.

A celebração da criatividade e da identidade catalã passa igualmente pelas cozinhas do restaurante Solc, do El Bar del Majestic e do terraço La Dolce Vitae, que têm no comando o chef Nandu Jubany, premiado com uma estrela Michelin, dedicado a apresentar aos visitantes uma mistura dos sabores da gastronomia regional com as técnicas da culinária de alto padrão. Para atender às receitas do Solc, repletas de ingredientes sazonais, é mantida uma propriedade na comarca de Maresme, mais ao norte, onde se cultivam os vegetais colhidos diariamente. Pontuado no primeiro andar, o restaurante tem no cardápio salada de alho-poró com favas baby, alcachofras e brotos de endívia; caçarola de camarão com nhoque de açafrão; tartare de filé-mignon e suflê de batata; e pescoço de porco Ral d’Avinyó com creme de abóbora e sálvia. Isso sem contar os peixes trazidos do mercado de Barcelona, as carnes de criadores da região e os vinhos selecionados da vinícola Alta Alella, que tive a oportunidade de visitar, no Parque de la Serralada de Marina, a poucos passos do Mar Mediterrâneo.

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Quarto do Majestic Hotel & SPA Barcelona - Foto: Divulgação.

O El Bar del Majestic, por sua vez, foi pensado para ser descontraído, aberto para a cidade e para quem procura boas conversas ao som do piano de cauda tocado à tarde. À mesa, grupos animados divertem-se entre aperitivos e deleitam-se com as opções do menu para o almoço e o jantar. Há alguns meses, quem o frequenta pode experimentar os doces do Sweet Majestic Pastry Corner, que exibe sem modéstia os clássicos da pastelería espanhola. Elevador acima, no décimo andar, o terraço La Dolce Vitae faz despontar a arquitetura barcelonina e suas preciosidades, da Sagrada Família à Casa Batlló e o Mirador Torre Glòries. Ideal para relaxar, para tomar coquetéis e dançar ao som das músicas selecionadas por DJs convidados, o pavimento é procurado por quem quer divertir-se com os amigos.

A qualidade desses serviços – e da boa comida –, claro, não passaria despercebida da crítica: o endereço foi eleito nas categorias Best Hotel Breakfast in Europe (2018) e Best Terrace in Exterior in a Hotel in Europe (2019), mencionando apenas algumas de suas premiações. 

Casa Batlló - Foto: Divulgação.

Para Pascal Billard, diretor-geral do Majestic desde 2013, esse reconhecimento que vem de especialistas do setor é uma honra. “Temos uma identidade única, que não se repete em nenhum outro lugar. Somos muito mais do que um hotel, pois cuidamos de forma permanente de cada detalhe e seguimos nos adaptando aos novos tempos. Queremos que aqueles que nos conhecem e aqueles que acabam de nos descobrir vivam a verdadeira experiência do luxo atemporal, algo que nos é tão característico.” Essa vontade de surpreender seus visitantes pode ser percebida no andar onde está a academia, ampliada recentemente com um trecho voltado ao bem-estar, incluindo uma jacuzzi e uma piscina. O Majestic Wellness foi inaugurado no fim de abril de 2024 e conta com uma junção elegante dos acabamentos de madeira dos ambientes com os ladrilhos que revestem a raia climatizada de 12 metros de extensão e a hidromassagem de 20 metros quadrados, equipada com cadeiras submersas que ajudam no relaxamento do corpo. Ao todo, a academia e o conjunto de hidroterapia totalizam 340 metros quadrados. Já o SPA, no décimo andar, no rooftoop, traz terapias personalizadas, para aqueles que querem deixar de lado o frenesi da vida cotidiana e que buscam experiências holísticas.

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Catedral Sagrada Família - Foto: Pimpa Brauen.

Pelas janelas

Longe do território do hotel Majestic, a majestosa propriedade neoclássica de estilo francês, me aventurei no chamado “Majestic Experiences”, uma variedade de vivências delicadamente projetadas e organizadas para cada hóspede, proporcionando uma total imersão na cultura e na gastronomia, entre outras atrações que borbulham pela cidade. Iniciei minha aventura em um passeio panorâmico pela SkyTourBCN, que se estende de sete a 40 minutos. A bordo do helicóptero, percorri as vistas deslumbrantes dessa região. Admirada pela variedade arquitetônica, a cidade é descortinada do alto em sequências que empolgam as pessoas e que se convertem em sugestões para aventuras em terra firme.

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Vila Viniteca - Foto: Pimpa Brauen.

Depois de conhecer outros ângulos desse céu de mil aberturas, segui para o restaurante Gala, onde se come bem e se diverte muito. Lançado pelo Grupo Isabella’s, com jeito de instalação artística e pinta de casa noturna, o espaço foi desenhado pelo Quintana Partners e se arrisca em uma viagem pelo passado surrealista da Barcelona do início do século 20 e na reinterpretação contemporânea inspirada na natureza, na forma, na cor e na alegria. Uma vez ali, os clientes saboreiam as receitas da culinária tradicional mediterrânea no almoço, os chás servidos ao redor da fonte à tarde ou os drinques que colorem as noites da discoteca. As panelas estão sob o comando do chef executivo Josep Maria Masó.

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Moco Museum - Foto: Pimpa Brauen.

Para mergulhar em uma das culturas mais expressivas do mundo, era indispensável começar pela La Pedrera – Casa Milà, o edifício concebido e executado por Antoni Gaudí para o casal Pere Milà e Rosario Segimon. A Avenida Passeig de Gràcia, que na virada do século anterior já era ocupada por teatros, cinemas, restaurantes e cafeterias, foi adotada pelas famílias abastadas interessadas em erguer ali suas residências. Nesse caso, a morada traçada por Gaudí foi dividida em nove pavimentos, contando o piso principal ocupado por Pere e Rose e as demais unidades destinadas à locação. Os gradis das 32 varandas foram forjados com chapas, barras, correntes e outras sucatas; os murais de Aleix Clapés; os relevos dos “tetos falsos” distribuídos pelo imó - vel; e a “parede-cortina” que circunda a fachada; sem deixar de mencionar as esculturas do terraço, transformaram a La Pedrera em um objeto artístico em si.

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Restaurante Gala - Foto: Pimpa Brauen.

IMERSA NA desordem PROVOCADA PELA superlotação, A PRÓSPERA Barcelona, CAPITAL DA Catalunha, LOCALIZADA NO NORDESTE DA Espanha, não PARECIA MUITO AMISTOSA nos IDOS DO século 19.

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Sobre a cidade - Foto: Divulgação.

Falando em Gaudí, outra de suas criações, o Park Güell, estava na página seguinte do meu roteiro. A área de 12 hectares seria utilizada como uma espécie de condomínio de alto luxo idealizado pelo industrial Eusebi Guëll, tendo 60 habitações e vários segmentos paisagísticos nos moldes das cidades-jardins inglesas. Pouco depois, em 1914, quando a obra foi cancelada, somente duas casas haviam sido concluídas. Alguns anos mais tarde, o local passou a ser administrado pelo município. Na década de 1980, quando o arquiteto teve sete de seus trabalhos incluídos na lista de patrimônios mundiais da Unesco, entre eles a Casa Milà, a Casa Batlló e a Sagrada Família, o Güell e suas esculturas de animais recobertas de mosaicos coloridos foram absorvidos como itens permanentes da região. É na estrutura em forma de anfiteatro do parque que as pessoas pausam a correria cotidiana e apreciam o skyline retirado de um paraíso de lentes caleidoscópicas.

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Casa Sors - Foto: Divulgação.

A noite brilhou no Caellis Restaurante. Dirigido pelo chef Romain Fornell, ele abriu suas portas em 2014 e já no ano seguinte conquistou sua primeira estrela Michelin. Com uma abordagem contemporânea, reinterpreta as tradições culinárias regionais com uma pitada de modernidade, utilizando sempre ingredientes sazonais com delicadas combinações. A cozinha aberta favorece uma interação deliciosa entre os clientes e o chef, proporcionando uma experiência mais envolvente.

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Caelis restaurante - Foto: Pimpa Brauen.

parte do Mirador Torre Glòries, prédio assinado pelos arquitetos Jean Nouvel e Fermin Vázquez, que “brota” do chão como um poderoso gêiser cilíndrico de quase 143 metros de altura. Montado no subsolo, o Hipermirador Barcelona vai além do que notam os olhos, sintonizando e amplificando os “batimentos cardíacos” da cidade em experiências multissensoriais. Em Atmosferas, projeções imersivas oferecem recortes dos céus, do vento, das atividades marítimas e da ecologia acústica urbana. Ritmos, que abordam as questões do clima, e Sirena, cuja trilha sonora de Maria Amaral e de John Talabot remete à respiração, encerraram o passeio antes de subirmos até o 30º andar, onde está o chamado El Mirador e sua vista de 360 graus, que possibilita a observação dos circuitos mais importantes da Espanha. É nessa cúpula que se encontra a escultura interativa do artista plástico argentino Tomás Saraceno, Cloud Cities Barcelona, uma teia de aranha gigante conectada por 6 quilômetros de cabos e 5 mil nós que provoca os presentes a refletirem sobre a esfera pública urbana, suas interdependências e inter-relacionamentos.

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Torre Glòries - Foto: Pimpa Brauen.

O MOCO Museum é parada necessária para ver os itens desenvolvidos por estrelas emergentes e artistas contemporâneos – caso de Jeff Koons, de Banksy e de Yayoi Kusama. Era preciso concluir esse percurso entre as salas do Museu Picasso, lar de uma coletânea de 5 mil peças que retratam a fase inicial de Pablo Picasso (1881-1973), doada pelo mesmo. Hora de encerrar minha passagem por BCN, já com a familiaridade de quem se encantou por esse caldeirão de sensações que só a Catalunha e a Espanha poderiam oferecer. Ao som de castanholas, violões e palmas, em um ambiente superíntimo, para no máximo 20 pessoas, os músicos e os bailarinos de flamenco levaram ao público recebido na Casa Sors um musical de muitas memórias e tradições, sem perder o ritmo da modernidade. De braços dados com a emoção, como deve ser, me despedi de Barcelona.

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Park Güell - Foto: Pimpa Brauen.

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