Espanha: o pedaço que conquistou ritmo próprio no Mediterrâneo
Nesse pedaço da Espanha o tempo conquistou um ritmo próprio, com mitos, paisagens, construções serenas, valores próprios de um conjunto magnífico
Nesse pedaço da Espanha o tempo conquistou um ritmo próprio, que preserva na memória mitos do Mediterrâneo, paisagens, construções serenas, valores próprios de um conjunto magnífico. Confira!
Bem ali, no azul-turquesa característico da porção ocidental do mar Mediterrâneo, próximas de Valência, de Barcelona e da costa da Catalunha, estão as Ilhas Baleares, arquipélago espanhol dividido em dois grupos insulares, as Pitiusas, compostas por Ibiza e Formentera, entre outras, e as Gimnésias, em que se destacam Maiorca, Menorca, Cabrera e Dragonera. Consta que essas regiões passaram a ser povoadas a partir do século 5, dos gregos aos fenícios, e desde então atraem muitos turistas anualmente, interessados na vida noturna dos vilarejos à beira-mar, nos conjuntos arquitetônicos de formas medievais, nos passeios de veleiros ou em simplesmente deitar e relaxar em suas praias, apreciando a composição de suas paisagens naturais, a exemplo da floração das amendoeiras que deixam os campos cobertos de branco entre dezembro e março.
Há ainda os locais que preservam trechos dessa história, alguns deles escolhidos durante a década de 1990 como Patrimônios Mundiais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), contando-se a Dalt Vila, em Eivissa, capital de Ibiza, onde estão o Portal Nou, a necrópole Puig des Molins, o castelo Almudaina e suas fortificações militares renascentistas, além da Paisagem Cultural da Serra de Tramuntana, paralela à costa noroeste de Maiorca, cuja rede hidráulica de origem feudal transformou o relevo balear em superfícies férteis deslumbrantes.Há ainda os locais que preservam trechos dessa história, alguns deles escolhidos durante a década de 1990 como Patrimônios Mundiais da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), contando-se a Dalt Vila, em Eivissa, capital de Ibiza, onde estão o Portal Nou, a necrópole Puig des Molins, o castelo Almudaina e suas fortificações militares renascentistas, além da Paisagem Cultural da Serra de Tramuntana, paralela à costa noroeste de Maiorca, cuja rede hidráulica de origem feudal transformou o relevo balear em superfícies férteis deslumbrantes.
É nesse segmento do horizonte maiorquino que está o Hotel Son Bunyola. O empresário Sir Richard Branson, da Virgin, responsável pelo empreendimento, relata que conheceu a propriedade de 1.300 acres há mais de 25 anos e se encantou pela quinta datada do século 16. Porém, como a fazenda fazia parte da região de Tramuntana classificada como patrimônio mundial, qualquer intervenção levaria tempo até ser avaliada e aprovada. Depois de construir três vilas de luxo independentes – Sa Punta de S’Aguila, com 5 quartos, e Sa Terra Rotja e Son Balagueret, com 4 quartos cada uma –, ele vendeu Son Bunyola pouco depois da virada do milênio e a comprou de volta em 2015.
Com a autorização para o plano de restauro nas mãos, os profissionais do escritório Gras Architects assumiram o projeto arquitetônico, enquanto o estúdio Rialto Living coordenou o design de interiores. Para eles, o passado cultural e a importância histórica do lugar, valioso também pela produção de vinho e de azeite, continham os pontos mais relevantes a serem mantidos. Assim, a recuperação do edifício principal da quinta – “uma joia cênica com paisagens que transcendem qualquer significado” –, composta pela estrutura quadrada com um pátio central delimitado por duas torres, uma delas do século 13 e a outra da década de 1930, apresenta agora o esplendor de seus ambientes, a exemplo da capela, e das matérias-primas usadas originalmente, da pintura de cal aos arcos de pedra, sem recusar-se a abranger conceitos recentes, como economia de água e de energia, passado e futuro coexistindo em perfeita harmonia.
As duas torres, falando nisso, foram convertidas em suítes com mais de 40 metros quadrados e trazem como diferencial uma espécie de observatório em 360 graus, que se abre para a contemplação da montanha e do mar. No melhor dos dois mundos, nada mais deslumbrante. O layout continua com 26 quartos e outras suítes, dois restaurantes, uma piscina azul-turquesa com vista panorâmica de tirar o fôlego para o mar e montanhas, recortadas por excelentes rotas para ciclismo. Atividades não faltam, quadras de tênis, spa e ioga ao ar livre, somadas a passeios de barco oferecidos pelo concierge pelo entorno da ilha. Minha dica é terminar este passeio no tradicional Es Raor, uma antiga casa de pescadores transformada em restaurante, literalmente debruçado sobre o mar, na cristalina enseada de Sant Elm. E para quem gosta de compras, é a hora certa de se jogar, após o almoço nas lojinhas da vila. De volta ao hotel, vale a pena acordar bem cedinho e caminhar em uma das trilhas ao redor da propriedade, desfrutar do ar fresco da manhã, do perfume das flores, escutando o balir das cabras que atravessam tranquilamente pelo seu caminho, com seus tins-tins-tins dos sinos que elas carregam e o canto das cigarras, comum nos dias mais quentes do ano. Para os visitantes dispostos a aventurar-se ainda mais, a Platja de Son Bunyola é imperdível, distante uns 20 minutos do hotel, com jeito de praia intocada, é cercada de pinheiros e coberta de cascalhos e de pedras, de onde se segue até o mar maravilhoso perfeito para se refrescar e relaxar sob o sol depois da caminhada.
CONSTA QUE essas regiões PASSARAM A SER povoadas A PARTIR DO século 5, DOS GREGOS AOS FENÍCIOS, E DESDE ENTÃO atraem MUITOS TURISTAS ANUALMENTE.
Por fim, está toda a experiência com a terra, do logotipo estilizado da marca Son Bunyola com seu “y” remetendo aos galhos de uma oliveira às atividades propostas por nosso anfitrião, em que se assinala a degustação de vinhos e de azeites. Branson escreveu em seu blog que toda a equipe vem aprendendo sobre como restituir a propriedade, aproveitando as culturas utilizadas no passado para que os citrinos e as amendoeiras deem frutos até o ano que vem. “Também reflorestamos a vinha de 6,17 acres para cultivar a casta local e reproduzir o nosso próprio vinho, o Malvasia, em 2026.” Em uma conversa aqui e outra ali, soube que muitos viveram na região na década de 1970, período em que seus antepassados criavam ovelhas, cabras e galinhas e cuidavam das lavouras de alfafas.
Nessa linha de aromas e de texturas, um ponto que promete incrementar os pratos do cardápio está na expansão da horta e do pomar irrigados por uma nascente próxima, que vem tendo a supervisão do chef executivo Samuel G. Galdón que surpreende os hóspedes no restaurante Sa Terrassa, diariamente, com sua cozinha orgânica e contemporânea durante o dia, e, à noite, presenteia a todos com um menu degustação de sete pratos. Antes de seguir para Menorca, uma visita a Palma, a capital maiorquina, onde estão o Palácio Real de Almudaina, sede do governo dos reis Jaime II e Sancho I, e a Fundação Pilar e Joan Miró. Aliás, a arte está por outros cantos dessa área a contar a impressionante Catedral de Palma, de influências góticas, que acumula esculturas de Guillermo Sagrera. Com todas as boas impressões timbradas em cada um dos sentidos, fomos em frente.
Fotografia habitada
Diferentemente, por exemplo, de Formentera, destino procurado por jetsetters há várias décadas ou de Ibiza, que é festa e badalação total, Maiorca e Menorca são ilhas que exibem cenários intimistas, hotéis discretos e ambientes de natureza que se misturam à arquitetura e, em muitos casos, tornaram-se protagonistas dessa história. Ao chegarmos em Menorca, carinhosamente chamada de pérola das ilhas baleares, notamos as similaridades entre os projetos que têm como objetivo reabilitar construções únicas e convertê-las em acomodações de alto luxo. Tanto no Son Bunyola, de Richard Branson, quanto no Vestige Son Vell, da família Madera, a atmosfera para que as pessoas se sintam em casa pode ser notada em cada detalhe. Aberto em julho, o Vestige Son Vell é o segundo endereço do selo Vestige, que possui uma alma robusta, com significado e propósito. Criado pelo casal Victor e Maria e suas quatro filhas, o primeiro foi o Palácio de Figueras, nas Astúrias.
O diferencial do selo Vestige consiste na filosofia de perpetuar a estrutura arquitetônica do local, com extremo cuidado nas restaurações, conservando assim o entorno para as futuras gerações. Uma marca com alma robusta, significado e propósito. Uma relação de harmonia, cuidado e respeito com o bem natural e humano da região. Nos cerca de 445 acres desse refúgio bacana e superchique que bem parece um castelo, sofisticado e intimista ao mesmo tempo, estão um solar do século 18, jardins paisagísticos de cair o queixo de tão perfeitos, árvores de citrinos, olivais, campos férteis e horta biológica. Da suíte onde estava – ao todo são 34, seis delas na casa principal e as demais nos celeiros transformados em pequenas vilas, cada um com sua identidade, transitando entre habitações mais elegantes e outras mais fresh e casuais, como a alma da ilha – consegui assistir a revoada dos passarinhos enquanto me preparava para começar o dia. A beleza atemporal dos dormitórios, por sinal, se destaca nos pisos de arenito denominados de marés, extraídos de pedreiras menorquinas nos tons ocre, pastel e branco, e nas vigas robustas de madeira que amparam o teto dos dormitórios.
Em pleno verão, minha recomendação é acordar e ir até a piscina para ver o sol nascer. Pode-se variar o programa e incluir um café da manhã completo enquanto aprecia a alvorada. Ou quem sabe optar apenas por uma xícara de café preto antes de alongar-se em uma aula de ioga no gramado, desfrutando do som das águas das fontes que ficam nos arredores. A equipe que me acompanhou, sempre atenta ao que me encantava, não deixou de indicar as comodidades que poderia usufruir ali mesmo, como o cinema ao ar livre e observação de estrelas à noite. Nessa lista de atividades está o passeio a cavalo, em que atravessei praias e falésias e desbravei um tanto da Camí de Cavalls, uma rota de 185 quilômetros que circunda a costa da ilha. Meu guia explicou que a estrada foi aberta para defender o território dos ataques vindos pelo mar e com o tempo serviu de caminho para moradores e para grupos de milicianos. No transcorrer do trajeto encontrei alguns bunkers, onde soldados se abrigavam e utilizavam as pequenas aberturas de sua estrutura para apoiarem os rifles. A partir do século 18, a construção da rodovia Camí d’en Kane transformou a passagem em um circuito turístico para aventureiros e para uma variedade incrível de esportistas que se encantam com as colinas arborizadas.
MAIORCA E MENORCA SÃO ilhas QUE EXIBEM cenários intimistas, HOTÉIS DISCRETOS E AMBIENTES
DE NATUREZA QUE SE misturam À ARQUITETURA E, em MUITOS CASOS, TORNARAM-SE protagonistas DESSA HISTÓRIA.
A volta para o Vestige Son Vell deu início a uma festa para o paladar, repleta de ingredientes cultivados por produtores vizinhos. E em cada um dos dois restaurantes havia uma proposta diferente, mas complementar. Se por um lado o Sa Clarisa trazia um menu planejado para ser apreciado durante o dia, das porções de salgados aos canapés, saladas, ceviches, tartares, massas e sorvetes, as receitas do Vermell eram preparadas para o final do entardecer, como vi no Carabassonets Plens AMB Gamba Courgette Stuffed With Praws, que levavam camarões no recheio de abobrinhas e no caldo da gazpachuelo, a famosa sopa que contém alho, ovos, batatas e maionese caseira. Influenciada pela cozinha da Grã-Bretanha, da França e da Espanha continental, a equipe do Vermell se esmera para redesenhar misturas clássicas. Eu me deliciei com os Raviolis de Carabassa e sua massa fresca caseira recheada com abóbora e mozzarella da área de S’Ullestar; com o ensopado de lagosta e as sobremesas, que animaram as conversas.
Durante o dia a pedida foi ir de bicicleta até a restrita prainha Cala de Son Vell, em uma baía exclusiva e bem protegida da região. Sua orla de pedras, com águas claras, calmas e temperatura perfeita, é um verdadeiro presente para os hóspedes. A diversão continuou no stand up paddle e com o mergulho de snorkel nas águas claras e turquesa, entre peixes coloridos que, tranquilos, me acompanhavam o tempo todo. Outra atividade oferecida pelo hotel é um tour guiado pelo centro de Menorca por uma rua e outra, entre lojas de artesanato, pequenos bares e restaurantes, finalizando no charmoso mercado equipado de boxes de azeites, de tomates, de queijos e de itens típicos da gastronomia mediterrânea. A recomendação para começar a tarde é almoçar no Cafè Balear, obrigatório para quem visita o Porto de Ciutadella. Eles têm o próprio barco de pesca, o Rosa Santa Primavera, e por isso todos os pratos contêm itens frescos e selecionados. Por fim, fechei essa visita pelas baleares no Artrutx Sea Club, a sudoeste da costa da ilha, um restaurante embaixo de um emblemático farol, onde o entardecer é um espetáculo a ser reverenciado, em que cada uma monta seu conjunto de memórias para levar no coração e proteger do tempo.