México: conheça o hotel Maroma, uma das maiores joias do país
O México é um país a ser descoberto diariamente. Na Riviera Maya, incrustada na Península de Yucatán, uma das maiores joias é o hotel Maroma
Centro de uma das culturas mais importantes das Américas, o México teve a sua identidade formada pelo encontro das civilizações pré-colombianas com os colonizadores espanhóis que desembarcaram na região durante o alvorecer do século 16. Quando o explorador Hernán Cortez foi recebido pelo imperador asteca Montezuma II, em 1519, imaginou-se que a visita tivesse fins pacíficos. Contudo, os planos se mostraram outros. Interessado nesta cidade de notável prosperidade econômica, onde atualmente se vê a Cidade do México, cujo tamanho era semelhante a de alguns centros europeus, o conquistador manipulou os conflitos crescentes entre o governo e a população, sobretudo em relação ao pagamento das taxas abusivas de impostos, para tomar o controle da terra. Com a morte de Montezuma, os es trangeiros escravizaram as comunidades locais, confiscaram as riquezas, destruíram construções simbólicas e, por fim, viram o território ser anexado ao Vice-Reino da Nova Espanha, que tinha a agricultura e a mineração como as principais fontes de riqueza. Aos poucos, o domínio se alastrou por todo o país – os grupos de maias que viviam na Península de Yucatán, por exemplo, foram rendidos em 1526, cinco anos após o golpe.
Quase três séculos se passaram e um processo longo de luta pela independência ganhou o apoio dos crioulos, os descenden tes de espanhóis nascidos em solo mexicano, além dos mestiços e de inúmeras tribos indígenas. A Revolução Mexicana levou Francisco Madero à Presidência, derrubado por Victoriano Huerta quase na metade da segunda década do século 20, destacando outro grupo político, dessa vez apoiado por Emiliano Zapata e por Pancho Villa.
Mágica revelada
Ao lado do roteiro político que ditava as transformações sociais, as finanças continuavam sustentadas pela agricultura, pela mineração e também pelas indústrias de petróleo, imprescindíveis para o estado. Tendo em mãos biomas belíssimos e um litoral exuberante, sem contar os registros arquitetônicos que apontavam estilos diversos, os mexicanos criaram o Fondo Nacional de Fomento al Turismo (Fonatur), em 1956, com o objetivo de organizar e desenvolver o setor no país. Enquanto a história do mundo virava mais uma vez a página, abrindo caminho para o feminismo, as lutas civis antirracistas e o movimento hippie, os trechos intocados de natureza pareciam atrair a atenção das pessoas, como se viu nas areias de Búzios, no Rio de Janeiro, que serviram de refúgio para a atriz francesa Brigitte Bardot. No México, que tinha os olhares dos visitantes voltados para Acapulco, a contar o astro Elvis Presley, alguns destinos foram sendo estruturados nos estados de Campeche, Quintana Roo e Yucatán. Se Cancún foi a diva absoluta no início dos anos 1970, a areia branca e as águas transparentes da Riviera Maya encantaram os turistas alguns anos depois. Com 130 quilômetros de extensão, o trecho atual dessa orla inclui rotas imperdíveis, de Puerto Morelos a Playa Paraiso, Playa del Carmen, Cozumel, Xpu-ha, Playa Akumal e Tulum.
Foi por lá que estive para conhecer o Maroma, A Belmond Hotel, localizado a 30 minutos do Aeroporto Internacional de Cancún, na Riviera Maya. Erguido para ser o restaurante e a pousada do arquiteto José Luis Moreno, nos meados da década de 1970, a construção priorizou o trabalho minucioso de artesãos locais e a qualidade dos materiais produzidos ali. Cercado por segmentos de vegetação tropical, pelo mar do Caribe e por recifes de corais, que deixavam a orla exponencialmente mais interessante, esse santuário à beira-mar se transformou aos poucos em um lugar onde os hóspedes se reconectavam com a natureza e usufruíam os serviços da hotelaria de alto luxo. Já sob a bandeira da rede Belmond, o complexo passou por uma atualização pensada pela arquiteta de interiores Tara Bernerd, que “procurou realçar a essência do espaço e encontrar formas de deixar brilhar suas características singulares”. Conhecida por respeitar a linguagem dramática dos ambientes e por ampliar os eixos de iluminação, pontuando os volumes internos, o mobiliário e as peças de arte, a profissional completou o todo com elegância.
Assim como Moreno, Bernerd recorreu a ferreiros, tapeceiros e demais artífices mexicanos para dar ares contemporâneos aos novos lugares – caso das suítes, dos restaurantes e das áreas dedicadas ao bem-estar, vistos nos tecidos feitos à mão por coletivos de Chiapas e pelos móveis esculpidos em tlaquepaque por Alberto Alfaro Joffroy. Acostumado a costurar esses diálogos entre o passado e o presente, a tradição e a modernidade, o escritório que leva o nome da designer está no mercado desde 2002. Com sede no bairro de Belgravia, em Londres, a empresa já atendeu outras grifes do circuito. Para o Maroma, a pedida estava nas experiências de sentir-se em casa e de perder-se nos sabores regionais, aqui apresentados em quatro propostas, dos drinques preparados no Freddy’s Bar às receitas de mezcal – o destilado feito a partir do agave desde as eras dos astecas – imaginadas pelos mixologistas do Bambuco. Tendo a brasa, o fogo aberto e as grelhas coordenadas pelo chef australiano Curtis Stone, o Woodend alinha os produtos frescos trazidos por agricultores, criadores e pescadores do entorno, em pratos sazonais de encher os olhos. Ostras grelhadas, carpaccio de pargo (peixe presente no mar do Caribe), couve-flor assada, costelas de cordeiro, camarão-azul com manga, maçã, daikon (uma espécie de rabanete) e amêndoas, sem contar as sobremesas, são o suprassumo do cardápio. Fechando o círculo, o Casa Mayor faz uma releitura dos clássicos da culinária do país, entre quesadillas, tacos, chilaquiles, huevos rancheros, burritos, guacamoles, ceviches e nachos.
Além dessas sensações gastronômicas, a intenção é ter a informalidade como anfitriã, somando-se aí o prazer estético e o gosto pela sustentabilidade. Há no conjunto arquitetônico um conceito que abraça a vida ao ar livre, na qual se nota na arquitetura que quase não existem ângulos retos, permitindo assim que a energia flua de forma mais natural por todos os ambientes, que desvenda meio que sem querer vistas incríveis e que comunga com a cultura dos povos indígenas de maneira moderna e sofisti cada. Nas 72 acomodações, divididas em suítes e em villas, surge o conforto aquecido pelas 700 mil unidades de ladrilhos de barro pintados à mão por José Noé Suro, pelos lustres de estruturas rendilhadas, pelas cortinas de barrados étnicos e pelo revestimento de estuque branco das paredes, rasgado por esquadrias de madeira e pela palha que cobre os telhados. Mesmo as três piscinas, cercadas por palmeiras, os azulejos feitos à mão refletem os tons dos cenotes da região. Uma superanimada no coração do hotel, uma só para adultos e uma escondida perto da área de bem-estar, convidativas, receberam porcelanas recortadas de pedras vulcânicas nos acabamentos, mantendo as linhas orgânicas do restante do layout. A parceria com a Maison Guerlain, voltada para a alta cosmética e a alta perfumaria desde 1828, que levou a expertise para os serviços de SPA em 1939, resultou na composição de um repertório de rituais de purificação e de renascimento. Ao lado das nove salas de tratamento, incluindo duas suítes duplas exclusivas, as pessoas têm à disposição piscina cercada pela selva esmeralda, sauna, banho turco, salão de beleza, academia, pavilhão de ioga e butique.
As terapias do SPA Guerlain trazem massagens com esferas quentes; esfoliação corporal com o uso de mel; técnicas que empregam ervas quentes; procedimentos que redefinem os contornos do rosto e suavizam as linhas de expressão; e produtos que reduzem a gordura, esculpem a silhueta, estimulam o metabolismo e melhoram a elasticidade da pele. Há ainda processos holísticos que reparam e protegem o couro cabeludo, momentos dedicados ao make-up e à hidratação dos pés e das mãos. No período em que estive em Yucatán pude me dedicar às atividades propostas pelo Maroma, a primeira delas chamada de “Viagem ao Agave”. Nessa aula, conheci as origens e entendi o método de produção da tequila e do mezcal, finalizando o encontro com a degustação das bebidas harmonizadas com especiarias, chocolates e lanches leves. Depois, em outro dia, fiz “Uma Jornada Nixtamal”, que detalhou o passo a passo artesanal para fazer tortillas. Os professores-cozinheiros falaram das variedades do milho que são cultivadas no México e propuseram combinações com guisados e molhos típicos. Participei também de um ritual dos mais emocionantes que já vivi, o Temazcal, que recria uma antiga cerimônia maia. Com a finalidade de purificar o corpo e a mente e nutrir o espírito, é conduzida por um xamã, conta com flores, cânticos terapêuticos, ervas e pedras quentes, que, com água, criam um vapor aromático e curativo. Toda a experiência acontece dentro de um espaço rústico e pequeno, simbolizando o ventre materno, e foi realmente transformadora. Nesse registro do universo maia, repleto também de sítios arqueológicos, cenários de arco-íris completos e gente amistosa, não poderia faltar uma visita aos cenotes, ou dz’onot’.
A PARCERIA COM A Maison Guerlain (...) RESULTOU NA composição DE UM REPERTÓRIO DE rituais DE purificação E DE RENASCIMENTO.
Durante os séculos, as estruturas foram sagradas para as tribos antigas. Havia a crença de que os reservatórios que lembram piscinas naturais tinham uma conexão com o mundo de Xibalba, para onde as almas seguiam após a morte. Ainda que guarde esse quê de mistério, o sistema de aberturas e de cavernas na verdade sempre funcionou como uma fonte de água doce, essencial para o sustento da população. Em Yucatán, segundo dados oficiais, existem mais de 7 mil cenotes. Aproveitei a força da história e a luz que iluminava as rochas de calcário para me energizar antes de voltar para casa. E o silêncio fez tudo parecer surreal. Com mais de 12 milhões de habitantes, os estados do sudeste do México – Chiapas, Tabasco, Campeche, Yucatán e Quintana Roo – fazem parte do Projeto Regional do Trem Maia, elaborado pelo governo por meio do Programa Institucional 2020-2024 do Fonatur. O objetivo da iniciativa, já em implantação, será utilizar o ramal ferroviário de cerca de 1.500 quilômetros para unir essas áreas e criar empregos, promover o desenvolvimento sustentável e incrementar seu potencial turístico, ampliando o número de visitantes, que ultrapassam os 23 milhões anuais. Para as pessoas que poderão ver de perto esse pedaço do céu, garante-se um passeio extraordinário.