Viagem

Brasil: redescubra o país e mergulhe nos encantos de Paraty!

É hora de conhecer um dos destinos mais bacanas do Brasil que alia história, alta gastronomia e passeios incríveis!

Paraty
Paraty

Poucas cidades resistiram ao tempo com tanto charme como Paraty. A cidade litorânea – coladinha nos limites entre São Paulo e Rio de Janeiro – viu o seu modo de vida bucólico se transformar com a chegada de novas tecnologias e um público jovem e descolado. O que poderia determinar o fim dessa cultura secular, acabou impulsionando um novo tipo de turismo, chamado de “preservacionista”.

Escolher conhecer Paraty é como viajar no tempo – e encontrar um Brasil ainda regido por Dom João VI. Para mim, é emocionante visitar lugares autênticos, que se recusaram a ceder aos caprichos do progresso. E como o momento é o de (re) descobrir o País, a dica é começar por esse destino, que é facilmente acessado por carro ou ônibus, conta com ótima infraestrutura e está em dia com os protocolos de segurança.

Paraty foi o primeiro roteiro que me permiti fazer em meio à pandemia da Covid-19. E a decisão foi certeira. Durante três dias, perdi-me pelas ruas de calçamento irregular e encantei-me com o litoral exuberante e com a gastronomia primorosa da cidade. Chegar a Paraty requer paciência (pelo menos para quem não está familiarizado com o transporte terrestre), pois é preciso encarar 248 quilômetros de automóvel a partir do Rio de Janeiro e 278 quilômetros saindo de São Paulo. Ou contratar um voo de helicóptero – o que não é baratinho.

Paraty

Nascido no período áureo da cana-de-açúcar, o vilarejo ganhou importância durante o ciclo do ouro, e foi o mais badalado porto de escoamento das riquezas tupinambás que iam para Portugal. Com a decadência da produção do metal precioso, o lugar perdeu status, ficando relegado ao esquecimento até os anos 1970, quando a inauguração da estrada Rio-Santos possibilitou a vinda de forasteiros.

Na década seguinte, uma turma divertida costumava frequentar Paraty, que guardava um quê de paraíso perdido no melhor estilo Saint-Tropez. Entre eles estava o empresário Alexandre Adamiu. Foi lá que ele se apaixonou pela futura esposa, Sandra Foz. Empresário do cinema, presidente da Paris Filmes, Alexandre era também um visionário. Conta-se que em uma noite alegre com os amigos, ele decidiu arrematar um casarão do século 18, que já havia sido a Casa da Moeda (na era colonial) e a primeira escola local.

A construção estava abandonada, mas Alexandre não se intimidou. Depois de uma longa reforma, ele presenteou Sandra com a pousada do Sandi, em 1990. Batizada em homenagem ao filho único do casal, que hoje administra o empreendimento, o lugar tem peculiaridades que se confundem com a própria vocação turística de Paraty (reconhecida pela Unesco como Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade).

Ancorada no coração do centro histórico, ela celebra 30 anos depois de passar por retrofit coordenado pelo escritório paulistano Mestisso, que repaginou as áreas comuns e as 28 acomodações seguindo os temas da natureza e a miscigenação brasuca. Para o décor, as peças foram garimpadas de artesãos e artistas regionais. Entre tantos pontos fortes, vale destacar a sua culinária. O restaurante comandado pelo famoso e criterioso italiano Pippo traz pratos frescos com frutos do mar, muitas vezes pescados pelo chef em pessoa. Nada mais cool!

Na vizinhança, as casas – que abrigam restaurantes, lojinhas e outros hotéis intimistas – remontam ao período colonial, cravadas sobre as ruelas de pedras “pés de moleques” – uma lembrança dolorosa de quem as construiu: os escravos e seus filhos, que encaixavam as pedras com os pés antes de finalizar o serviço com terra arenosa. Por sinal, rotas colonialistas trazem à tona temas obrigatórios para os dias de hoje, como inclusão, empoderamento e racismo estrutural.

Para conhecer cada pedacinho de Paraty, a dica é se jogar no city tour organizado pela pousada do Sandi – com a expertise da agência Birds no comando –, que narra em detalhes a arquitetura e os símbolos maçônicos gravados nas quinas das edificações, as venezianas herdadas da tradição árabe, o sistema de escoamento da maré cheia, que ocasiona as conhecidas inundações, e a história das quatro igrejas do centrinho.

Durante o passeio descobre-se, por exemplo, a razão das instalações terem mais portas do que janelas e quase nenhuma delas ter vista para o mar. Paraty era considerada uma cidade de trabalho, então, as habitações funcionavam, sobretudo, como pontos de comércio. Eis a resposta para tantas portas e a ala residencial confinada nos fundos.

Naquela época, construir um imóvel com vista para o mar não fazia sentido, já que tudo o que importava ficava no centro: viajantes com dinheiro para gastar antes de pegar a estrada para Minas Gerais. Se flanar pelas ruas conservadas já é uma delícia, entender os seus símbolos e a sua biografia adiciona ainda mais encanto à excursão. Entretanto, o que torna Paraty especial é a sua natureza exuberante. Formada por dezenas de praias e de ilhas, a baía tem cerca de 180 quilômetros de extensão, distribuídos por costa bem recortada e oceano tranquilo. Graças a esses detalhes, a melhor maneira de curti-la, claro, é de barco. É da embarcação que se tem a visão da mistura de serra e mar daquela parte do litoral. As águas esverdeadas emolduradas pelas montanhas cobertas pela Mata Atlântica compõem um panorama de fazer inveja aos points mais concorridos do Nordeste. E que tal adicionar uma rica experiência gastronômica ao passeio? O Gastromar convida a uma pausa para apreciar o cenário e as gostosuras produzidas por ali.

Paraty
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A bordo da traineira “Sem Pressa”, são servidas entradas, prato principal e sobremesas, tudo preparado com esmero pela chef paulistana Gisela Schmitt. Os peixes e os frutos do mar são extrafrescos, capturados entre Angra dos Reis e Ubatuba, e os vegetais orgânicos são cultivados nas imediações. As preparações contemporâneas com inspirações vindas de todas as partes do globo, resultam em uma mistura harmoniosa e irresistível entre terra e mar.

O barco faz passeios privativos de cinco horas e conta com prancha de stand-up paddle, snorkel e pés de pato para mergulhos na costa paratiense. São feitas paradas em pontos estratégicos, onde, entre uma boquinha e outra, é possível tomar banho em águas calmas dividindo espaço com as espécies marinhas nativas. Outra opção é observar a paisagem e relaxar bebendo vinho ou drinques feitos à base de ingredientes sazonais.

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Ainda no quesito gastronômico-etílico, outra iguaria top é a cachaça Maria Izabel, produzida de maneira artesanal desde 1996, no sítio Santo Antônio, à beira da praia, com a cana ali mesmo plantada. A proprietária envolve-se diretamente em cada uma das etapas, inclusive na recepção dos visitantes. O espaço tem ares lúdicos, com aves coloridas e pôneis circulando livremente. Um belo skyline para ouvir os contos de Maria Izabel.

A inclinação de Paraty para a fabricação de aguardentes e cachaças não é de hoje. No século 17 já existiam propriedades voltadas para a atividade. Uma delas era conhecida como Três Fazendas e mais recentemente foi aberta para visitação e rebatizada de Fazenda Bananal. São 180 hectares de bioma de Mata Atlântica, entre o Parque Nacional da Serra da Bocaina, a estação ecológica dos Tamoios e a APA de Cairuçu.

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O casarão onde funcionava a sede foi completamente restaurado a partir de referências documentais, o que permitiu à edificação manter as suas características originais. Lá é possível explorar plantações, pomares e hortas, além da queijaria e do restaurante, que serve a colheita do dia, bem ao estilo “farm to table”.

A caminhada também é uma aula sobre os diversos ciclos de produção no Brasil: passando pela cana, pelo açúcar e pela farinha de mandioca. Na fazenda há ainda a trilha indígena dos Guaianás, anterior à chegada dos portugueses, que ligava Paraty ao Vale do Paraíba, e foi utilizada pelos colonos como o “Caminho do Ouro”.

Se ficar assim, mais pertinho da natureza, for a sua preferência, opte pela hospedagem na Villa Bom Jardim, uma casa com sete suítes e um loft com vista indescritível. A apenas 10 minutos de barco do centro, a propriedade conta com mais de 1.500 metros quadrados repletos de pés de lichias e pitangueiras. O serviço é de hotel cinco estrelas, com o selo de qualidade da pousada do Sandi. Quem se hospeda em um dos estabelecimentos conta com serviço personalizado de concierge. Enfim, Paraty é o melhor começo para reencontrar (e ressignificar) o turismo no Brasil.

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