Viagem

St Barths: exclusividade garantida para ninguém colocar defeito

Onde ficar, onde comer e o que fazer na ilha de Saint Barths, preferida entre os mais exigentes de janeiro a janeiro (inclusive durante o isolamento)
Ilha de Saint Barths
Ilha de Saint Barths

Viajar de forma consciente durante a pandemia — ou o final dela, assim cremos — continua desafiador, mas completamente possível. Foi preciso enfrentar quatorze dias de México, oito horas de vôo comercial até Santo Domingo, duas horas de jato privado a Sint Maarten — com direito a pouso no famoso aeroporto fincado à beira-mar e pernoite no excelente Sonesta Ocean Point Resort — mais uma hora de ferry Voyager na manhã do dia seguinte para chegar ao pedaço de terra mais elegante and exclusivo do Caribe: Saint Barthélemy.

Claro que o empenho seria menor caso a quarentena não seguisse obrigatória para brasileiros e a malha aérea estivesse completamente regularizada. Mas todo esforço (alguns perrengues também) foram devidamente recompensados pelo destino — um dos mais incríveis e exclusivos do mundo, ousamos afirmar.

Porto de Gustavia

Pousar no compacto Aéroport Gustaf III, compatível apenas para aviões de pequeno porte e pilotos preferencialmente muito bem treinados, seria a primeira opção de entrada em Saint Barth (ou St. Barths, com s, como os americanos preferem). Com a pandemia, porém, o carimbo no passaporte ficou mais garantido na chegada aquática, via porto, cartão postal da capital Gustavia, de apenas três mil habitantes, onde a imigração tem sido menos dura. Foi um preview do que encontraríamos nos 24 km² de ilha: concentração de iates ultraluxuosos como o 533 pés Eclipse do magnata russo Roman Abramovich e o 333 pés Symphony de Bernard Arnault, casas com telhados padronizados terracota e construídas pela comunidade portuguesa que dominou o mercado de construção local, além do charme típico da França, administradora oficial do lugar que de caribenho tem apenas a localização, o mar turquesa ofuscante e a areia extremamente branca e fina em quase todas as praias — a sensação real é de estar na extensão de uma Côte d’Azur ainda mais interessante (muitos empresários têm negócios transitam em ambos os continentes) e, tal qual no Velho Mundo, a moeda principal é o euro e a língua, o francês.

Uma vez dentro, observar o tráfego aéreo enquanto se bronzeia em Saint-Jean, a mais famosa das onze praias da região, é programa do tipo que impressiona, completamente longe da realidade da maioria de nós. De um camarote como a suíte Jane, construída sob a rocha que divide as duas partes da orla e com jacuzzi externa direcionada ao palco (aka aeroporto), fica ainda melhor. Foi ali nossa agradável estadia no lendário Eden Rock St Barths, que integra o seleto portfólio da Oetker Collection.

Beach Club Eden Rock
Eden Rock St Barths
Suíte Jane Eden Rock
Banheiro suíte Jane - Eden Rock
Suíte Jane Eden Rock
Suíte Jane Eden Rock
Eden Rock St Barths

Completamente devastado pela passagem do Furacão Irma, em 2017, o hotel se reergueu de maneira surpreendente e reabriu pouco antes da pandemia, no final de 2019, com absolutamente todos os quartos e casas redesenhados, mais três suítes construídas do zero — inclusive a nossa Jane, antes restaurante e agora revestida de painéis de madeira e com ares de quarto de megaiate, sem aquela impressão desconfortável de estar eternamente em movimento aquático.  Artesanato local e antiguidades italianas, inglesas e francesas são destaque em cada uma das acomodações únicas (não, nenhuma é igual à outra). Livros e obras de arte itinerantes com curadoria da New York Academy of Art’s Graduate School of Art completam o décor e estão à venda aos interessados.

 

Eden Rock St Barths
Eden Rock St Barths

No spa, a estrela é a marca local Ligne St Barth , muy famosa pelo bronzeador, mas com um portfólio completo igualmente desejável. Restaurante pé na areia comandado pelo estrelado Jean-Georges (os pratos com lagosta são imperdíveis), bar com alquimias autorais e boutique com peças exclusivas by Chopard, Diptyque e Hublot (é comum marcas de luxo produzirem capsule collections direcionadas à exigente clientela de St Barths) são mais highlights que merecem atenção.

A poucos passos do Eden Rock, dois dos hotspots mais badalados do destino: Nikki Beach e Gyp Sea. Ambos animados, com serviço de primeira — leia-se ducha quente, toalhas limpas, comidinhas e drinks excelentes —, atmosfera praiana sem frescura, mas com muito requinte, longe da ostentação além da conta e bem posicionados para o segundo pôr do sol mais bonito da ilha (o primeiro é da Shell Beach, que tem pequenas conchas no lugar da areia). Inaugurado há menos tempo e comandado por um francês com mamma italiana, o Gyp Sea ganhou especialmente o nosso coração pelo público de encher os olhos (até os funcionários parecem ter sido escolhidos a dedo!) e peixes frescos com acompanhamentos simples, mas muito bem temperados.

Eden Rock St Barths
Eden Rock St Barths

A cinco minutos de carro dali, na região do porto, mais restaurantes must go: Bonito para um jantar com vista e tempero peruano (peça o drink Sex on the Bath e leve tradicional minipato de borracha de recordação), La Petite Plage para brunches diários com selo de qualidade L'Opéra Saint-Tropez, Bagatelle para quem quer badalar a qualquer custo, Bar de LOubli para quem é tradicional e gosta de se sentir como local e LIsola para os melhores ingredientes e combinações italianas fora da Itália (nosso preferido disparado).

 

UM POUCO DE HISTÓRIA

Descoberta por Cristóvão Colombo em 1493, a francesa St. Barths foi colônia sueca entre 1784 e 1878 (até hoje há ruas com nomes em francês e em sueco). Homenagem a Bartolomeu, irmão mais novo do famoso explorador italiano, o nome também remete ao santo padroeiro São Bartolomeu, celebrado todo dia 24 de agosto com cerimônias e competições comemorativas.

Até os anos 1950, a principal atividade por lá era a produção de sal e de pescado. Tudo mudou quando David Rockefeller caiu de amores pelo lugar e construiu uma mansão na praia de Colombier, que é acessível apenas com uma caminhada leve — e belíssima — de 20 minutos. Ou de barco.

De lá para cá, a aglomeração de bilionários interessados deixou o mercado mobiliário local cada vez menos acessível aos mortais — além de iate, o russo Abramovitch (olha ele aqui de novo) também tem mansão nas colinas da intocada Gouverneur. Com os endinheirados, vieram celebridades de todos os quilates que desembarcam às dezenas em busca de temporadas de sol e rosé. É essa equação que faz desse um destino bastante difícil para quem tem orçamento apertado. E sonho de consumo de todos que entendem o mínimo de sua sofisticação despretenciosa, organização descomplicada e modernidade tradicional — paradoxos que só funcionam em St. Barths.

Tags

Posts recomendados