Esgotamento social: entenda tudo sobre o fenômeno
No casulo! “Eu sinto que a minha bateria social está baixa, quase acabando” – essa frase começa a aparecer mais vezes em relatos dentro de consultórios de psicólogos e de psiquiatras. A raiz da queixa é, majoritariamente, a forma como estamos vivendo em velocidade máxima – tantas vezes em uma rotina mais insana no mundo digital do que na “vida real”. O problema afeta com maior intensidade as mulheres.
O fenômeno de esgotamento social envolve, entre outros pontos, o uso excessivo de redes sociais. Instagram, TikTok, Linkedin e Twitter, apenas para citar as mais comentadas do momento, quando usadas com moderação podem até ser benéficas. Já o excesso, em uma ou em todas, deixa uma porta aberta para o cansaço e a melancolia.
Alguns estudos, como o publicado no American Journal of Preventive Medicine, intitulado Social Media Use and Perceived Social Isolation Among Young Adults in the U.S., mostram que pessoas que passam muito tempo em redes sociais são duas vezes mais propensas a sentir que estão isoladas socialmente. Ou seja, quanto mais o rosto fica na frente de uma tela, menos tempo você quer interagir no mundo analógico. E quanto tempo de rede social é ruim? A partir de duas horas por dia você já está exposto a sentir mais isolamento e desânimo.
Os mecanismos que desencadeiam tal fenômeno ainda passam por análise, mas um dos pontos de investigação sugere que a perfeição exaltada nas redes faz com que as pessoas se sintam mais desanimadas e desmotivadas a ter contatos reais com seu círculo social. E com a vida baseada em interações digitais, por prazer ou por trabalho, e também pela ânsia de se manter informado e opinativo o tempo todo, ocorre uma diminuição da qualidade de uma atividade básica para o equilíbrio da saúde: o sono.
O uso do celular antes de dormir, na cama, está relacionado ao maior aumento de insônia e de sono não reparador. Muitos dos pacientes também informam uma maior incidência de pesadelos em dias que abusaram do uso de smartphones e tablets.
“Sentimos que esse problema é uma realidade inegável. O ‘burnout social’ é um tributo que pagamos a certas insanidades modernas, como impor um ritmo frenético de produtividade e competitividade que, paradoxalmente, massacra a própria produtividade. Todos temos um limite fisiológico de tolerância ao estresse e, quando esse limite é ultrapassado, faz com que adoeçamos”, diz Daniel Boarim, diretor clínico do Lapinha Spa. “Vêm então a insônia, a irritabilidade, a fadiga crônica, a queda da imunidade, a depressão e a ansiedade. Nossos valores essenciais estão ameaçados. Todos sentem que é preciso mudar, mas não sabem como”, completa.
As mulheres estão relatando mais intensamente essa onda de estresse. Os motivos envolvem a sensação ruim de ver nas telas estereótipos que parecem dar conta de tudo, de influenciadoras que mostram uma rotina virtual que envolve ser mãe, ter um corpo perfeito, um relacionamento sem defeitos, um necessáire com os mais novos produtos cosméticos, uma carreira de sucesso e uma alimentação saudável. Só que muitas das consumidoras das redes sociais não percebem que tantos desses perfis mostram apenas um pedaço da vida dessa personagem virtual e que, em inúmeros casos, beira a ficção, não sendo sustentável no dia a dia. Outro ponto de preocupação entre as mulheres, mais especificamente as mães, é o limite da exposição dos filhos às redes sociais. Postar ou não a criança? Deixar menores de idade ter acesso ou não às redes sociais e todos os riscos que isso apresenta para a saúde mental e física de pessoas que estão ainda em desenvolvimento? E por questões de gênero, tais cobranças parentais acabam pesando muito mais no ombro das mães, algo da sociedade ainda muito machista.
Dentre as saídas para essa realidade paralela que afeta a saúde de forma voraz, algumas técnicas começam a ser indicadas por especialistas em medicina preventiva. As mais populares são as que envolvem a limitação do uso de tela, por adultos e crianças, o envolvimento com hobbies analógicos, como diversas formas de arte, esporte e interação social, exercícios de respiração para aliviar sintomas de ansiedade e táticas de higiene do sono.
“A higiene do sono é um conjunto de práticas recomendadas para serem seguidas nos momentos antes de dormir. O objetivo é facilitar a chegada do sono, desacelerando os ritmos do corpo e da mente”, diz Simone Prezotti, médica pneumologista e especialista em medicina do sono.
Também há novidades de spas para serem colocadas na rotina, por quem gosta desse tipo de atividade. Recentemente adicionado ao menu, o protocolo Power Nap, do Spa L’Occitane, é uma massagem feita em ambiente com bruma relaxante, para dar conforto ao olfato. Ela é focada em movimentos das mãos no couro cabeludo, parte superior do corpo e nas mãos. O objetivo é induzir o relaxamento profundo, o que pode beneficiar a concentração, a disposição, a memória, além de aliviar o estresse. É um conforto que desacelera a mente.
Já aos que seguem na realidade do home office, a dica para diminuir a carga de estresse promovida pela rotina acelerada é trocar o momento em que você ficaria nas redes sociais, mesmo que no meio do dia, por um banho relaxante, ressaltando que em temperatura morna e incluindo a lavagem dos cabelos pode ser mais reparador do que apenas uma ducha.
Para gestantes, que são ainda mais afetadas pelo excesso de informações de redes sociais e pelo estresse do dia a dia, por conta da variação de hormônios que é natural no período e também por uma cobrança social pela “maternidade sem defeitos”, diminuir o uso das redes sociais também é interessante. Ler livros, passar momentos em parques e praças, perto da natureza, e investir em tratamentos permitidos durante a gravidez, como massagens nos pés, nas mãos e na cabeça, são rotinas que melhoram o bem-estar da mulher nesse período singular.
Retomar vínculos com o mundo real é necessário e se tornará ainda mais. Em um mundo hiperconectado, deixar o wifi desligado e o celular no modo avião por mais tempo pode ser a chave para se reconectar com o que importa: a nossa saúde.
Passo a passo para a higiene do sono, por Simone Prezotti:
- Buscar exposição à luz natural, em ambientes externos, por, pelo menos, meia hora por dia.
- Escurecer o ambiente à noite. Desligar dispositivos eletrônicos e as luzes da casa uma ou duas horas antes do horário em que deseja dormir.
- Praticar atividades físicas regularmente. Quem se exercita dorme mais rápido, por mais tempo e com mais qualidade.
- Não dormir com fome, mas também não fazer refeições pesadas antes de ir para a cama.
- Diminuir, ao longo do dia, a quantidade de açúcares e gorduras. Evitar alimentos picantes ou de difícil digestão à noite.
- A última refeição deve ser feita de 3 a 4 horas antes de ir para a cama. Daí para a frente, se necessário, apenas um lanche leve.
- Evitar consumir cafeína seis horas antes de dormir. Para o álcool são 3 horas e 2 horas para a nicotina.