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Saúde mental: o poder das conversas casuais para o bem-estar

Small talk! Conversar com os amigos é uma espécie de ruído branco calmante – o som da companhia, da comunidade. Não dá para viver sem e ajuda na saúde mental.

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Foto: Tarzyna Grabowska/Unsplash

Em geral, os filósofos abominam o que consideram um discurso desperdiçado. No entanto, uma boa conversa jogada fora (e não estamos falando de fofoca, já que a primeira tem significado e conteúdo) pode ser o segredo para nossa saúde mental. “Conversar é um jeito de a gente aumentar nossos vínculos e conexões, de compartilhar o que a gente sente, o que pensa, o que nos aconteceu, também de colocar as emoções em palavras. É nossa rede social. A conversa nos ajuda a criar”, fala Karen Scavacini, psicóloga e fundadora do Instituto Vita Alere. Ela conta que existem vários tipos de conversa: as de elevador, as com alguém que você está conhecendo, outras mais profundas. “A linguagem trouxe a possibilidade de relembrar memórias, planejar coisas, retirar essa informação do mundo interno e trazer para o mundo externo”, observa Nina Ferreira, psiquiatra e psicoterapeuta. E isso nos ajuda a organizar e compreender o que acontece dentro da gente. “Quando conversamos, seja com um amigo, seja com alguém do trabalho, estamos organizando e trazendo para a consciência os pensamentos. Conversar nos faz conectar essas informações e traz um sentido construído. Resultado: papear é muito importante para o autoconhecimento.”

Foto: Getty Images

A conversa fiada, o papo jogado fora nos ajuda a iniciar os laços, a fortalecer alguns contatos e a ser uma ponte de comunicação, fundamental para que essa depois possa se aprofundar. “É um espaço em que as pessoas podem falar sem julgamento, sem pressão. Em tempo: para uma conversa mais significativa, a gente precisa ter o diálogo – o ato de falar e também ouvir o outro, levá-lo em consideração”, analisa Karen.

O segundo ponto que torna papear tão essencial é a possibilidade de conectar universos. “Eu consigo unir o que sinto e penso ao que o outro sente e pensa, fazer uma síntese, uma mistura, e concluir e aprender coisas novas, ou mudar padrões de pensamento e comportamento. Por isso, trata-se de uma ferramenta para que a convivência em sociedade aconteça da melhor forma possível”, fala Nina.

Foto: Unsplash

É importante, sim, puxar papo. Não se trata do assunto, mas o gesto, a forma. Ele mostra que você tem interesse, que você quer contato, que você leva essa outra pessoa em consideração. “Essa conversa casual, esse small talk, serve como uma entrada para outras conversas, e elas geram interação, e a interação pode levar à confiança. Então, quando a gente puxa a conversa, ela ajuda a reduzir a tensão para aumentar o senso de comunidade”, diz Karen. Em outras palavras, a conversa é importante para a sobrevivência do grupo (e pertencer a um grupo é fundamental).

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Uma conversa desproposital, aleatória, solta tem muita importância na saúde mental, porque ela é esse momento de a gente refletir, perceber o mundo interno e poder também se conectar afetiva e mentalmente com as pessoas com quem convivemos. “A conversa fiada é uma forma de a gente se organizar, achar saídas para problemas, se compreender melhor”, esclarece Nina. “Os vínculos afetivos que a gente constrói ao longo da vida ajudam a nos dar contorno porque a nossa existência é muito validada pelo olhar do outro”, observa Nina. “Quando eu tenho um papel na comunidade, na família, na relação amorosa, eu vou me vendo como ser humano, vou me conhecendo, vou comparando os papéis que eu exerço com o que eu sinto, vou me construindo e me reconstruindo e me remodelando como ser humano, como indivíduo”, fala ela. Precisamos de conexão, de vínculo de afeto. Ter amigos ou fazer parte de uma comunidade é receber afeto e segurança. E a gente se sentir escutado e validado ajuda muito a saúde mental. “Sentir-se importante para alguém, pertencente, conectado ajuda a aliviar estresse, a ver os problemas de outras formas, a se sentir dentro de uma rede de proteção”, finaliza Karen.

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