Patrícia Viera declara espaço para antigos desejos
A estilista Patrícia Viera abre espaço para antigos desejos, com o primeiro deles o lançamento de uma linha de almofadas
O ano de 2023 trouxe para Patrícia Viera o desafio de lidar com o imprevisível. Há poucos meses ela sofreu um infarto e passou dez dias em uma unidade de terapia intensiva. Restabelecida, mas ainda fragilizada emocionalmente pelo susto, conta que decidiu diminuir o ritmo e delegar cada vez mais o dia a dia da marca para a filha Andrea, seu braço direito. O desfile que abriu o SPFW, em novembro, teve o significado simbólico de “passagem do bastão”. Isso não significa, entretanto, se ausentar da fábrica de onde saem preciosos mosaicos de couro. “Eu me sinto importante aqui”, diz ela. O jaleco branco, seu uniforme, simboliza esse espaço. Decidida a mudar hábitos, ela abre espaço para desengavetar antigos projetos, como o de almofadas, inaugurando uma linha home.
Dividida entre a moda e a casa, falar das almofadas faz seus olhos brilharem. “Uma vez chamei o Claudinho Bernardes (arquiteto) para fazer meu apartamento e os sofás eram brancos. Ele questionou a escolha e eu disse que faria almofadas para acrescentar cor. Fiz e mostrei para ele, que ficou apaixonado e começou a fazer encomendas para seus clientes. Isso foi há quase 30 anos”, recorda. Em 2019, foi a vez do Copacabana Palace Hotel requisitar as peças para decorar o sexto andar, o lobby principal e o corredor que dá acesso à piscina.
A coleção de estreia para o varejo, na loja do shopping Iguatemi, em São Paulo, vem inspirada pela arquitetura dos anos 1950. Cores alegres se misturam em mosaicos, vazados e aplicações geométricas, além de trançados. Artesã do couro, Patrícia afirma que como a superfície é plana, pode ousar mais no design. E assim como tem feito nas roupas, a tônica aqui continua sendo a de utilizar todos os retalhos disponíveis, garantindo desperdício zero da matéria-prima. “O mundo está precisando que a gente aproveite tudo”, ressalta. Ela tem priorizado ainda o Kind Leather, cujo couro é curtido em instalações classificadas como Leather Working Group (LWG), rastreável, tratado e tingido com ingredientes vegetais.
“EU ME considero UM DIAMANTE BRUTO QUE foi LAPIDADO PELAS pessoas QUE PASSARAM PELA minha vida.”
Patrícia Viera
Entre as obras do novo apartamento e a descoberta de que está curtindo chegar em casa, a estilista avalia que somente agora está sentindo o efeito da fase intensa da Covid-19. Durante o período de isolamento, estava preocupada em manter a marca que leva seu nome e com seus funcionários, além de fazer centenas de máscaras para doação. “Agora bateu tudo: pandemia, saúde, idade”, destaca, entendendo a necessidade de voltar-se para dentro. “Minha mãe sempre foi muito organizada na casa e exigia isso. Peguei esse olhar dela. Entro na loja e abro todas as gavetas porque acho que não combina uma roupa bem-feita com um espaço desarrumado. E, também, já frequentei muito as casas das minhas clientes e sei que elas também são assim”, argumenta.
Antes de criar a grife, há 25 anos, Patrícia trabalhou no ateliê da estilista couture Sally Mee, em Londres, na década de 1970, e na Company ao lado de Mauro Taubman. Duas experiências com profissionais exigentes, detalhistas e preocupados com a qualidade. Irmã de duas ex-modelos, uma delas é Andrea Dellal, a estilista frequentou vários backstages famosos. “Estava sempre observando tudo e pessoas muito incríveis”, analisa. “Eu me considero um diamante bruto que foi lapidado pelas pessoas que passaram pela minha vida.”