Ara Vartanian, designer de joias, mostra casa atemporal e moderna

Um verdadeiro refúgio moderno! O designer de joias, Ara Vartanian, mostra sua casa que funde o hoje, o ontem e o amanhã no olhar e na estética. Confira!

Nascido no Líbano, Ara Vartanian veio para o Brasil ainda bebê quando os pais imigraram fugindo da guerra que se instalou no país na década de 1970. Naturalizado brasilei - ro, apesar de não ter mantido tanto contato com seu país de origem, considera ter uma referência de vida do ponto de vista de um imigrante. “Dentro de casa, com a família – pais e irmãos – sempre falamos armênio e seguíamos algumas tradições. Enquanto as crianças iam para a escola levando sanduíche de pão com mortadela de lanche, eu levava pão sírio com halawi. Isso acaba impactando a forma como vemos o mundo”, lembra Ara, que, a princípio, tentou negar sua vocação e estudou economia na Universidade de Boston, trabalhando depois em Nova York como trader especializado em Nasdaq. 

Pai de três filhos, o mais velho de um relacionamento anterior, e duas meninas fruto de seu casamento de 17 anos com Sabrina Gasperin, ex-modelo e atual parceira de trabalho, Ara decidiu construir o lar perfeito para sua família. A ideia era ter um refúgio urbano em meio à caótica capital paulista. “Quando encontrei a casa, a intenção era só fazer um negocinho aqui outro ali. Só que esse processo acabou durando oito anos. Mudamos há cinco”, se diverte o designer, que convocou o arquiteto Aldo Urbinati, do Estúdio Tupi, que já era próximo do casal. Ara e Sabrina participaram ativamente do processo de criação e construção – sim, a casa inicial foi colocada abaixo dando lugar a uma nova, que atendesse as necessidades e anseios dos moradores, que fosse espaçosa e tivesse muito verde e luz natural.

“Optamos por materiais, como concreto, madeira e vidro, com aberturas que proporcionassem entrada de luz e vista do jardim, do céu… de repente, tomar banho vendo a lua cheia. Isso é incrível. Trouxemos para o projeto referências do Japão, daquela estética minimalista, com linhas e respiros na estrutura”, explica Ara, que dedicou muito tempo para chegar aonde queria. “As coisas foram acontecendo. Mudanças no projeto, por exemplo. Já estávamos com dois anos de obra e percebi que não gostava de uma parte em que foi mantida a antiga construção. Botamos abaixo e refizemos.” Acostumado a lidar com pedras preciosas e transformá-las em joias valiosas, o criativo e detalhista pisciano não permitiria que fosse de outro jeito.

Não por acaso, o décor seguiu o mesmo conceito. Ara, com seu senso estético apuradíssimo, levou anos para deixar o interior da casa de 1.500 m2 com a cara – e a alma – da família. Peças novas convivendo na mais perfeita harmonia com outras antigas, cheias de história, garimpadas em viagens, herança de familiares e até descartes, como o bar que um vizinho iria se desfazer e se encaixou perfeitamente em um dos cômodos da casa. Talvez por isso, apesar das grandes dimensões da construção, o clima aconchegante impera. “Construímos uma casa para ser vivida”, orgulha-se o designer, que confessa ter se alongado um tanto no processo. “Foi como se estivesse fazendo uma joia. Até que a Sabrina um dia chegou e disse: ‘Você é louco, não dá para demorar tanto’. Mas eu estava realmente curtindo o processo, me divertindo. Para ter uma ideia, cheguei a ir até Londres só para medir a escada do Claridge’s (hotel), que tem uma proporção que permite a mulher subir de vestido sem se cansar, você a vê andando e ela parece flutuar. E reproduzi aqui.”

Cercada de árvores e plantas por todos os lados, a construção sempre oferece um belo cenário enquadrado por janelas e portas. Para compor sua floresta particular, o casal chamou a paisagista Renata Tilli que, a pedido dos proprietários, trouxe para o jardim espécies bem brasileiras, com uma pegada tropical. “Decidimos manter árvores que já estavam no terreno quando compramos e deixar tudo crescer mais naturalmente, sem tanta intervenção”, conta Ara. A vegetação emoldura a piscina que segue o mesmo conceito: tem plantas e peixes, uma espécie de lago para nadar. “Tem micro-organismos vivos.” Definitivamente um universo particular.

Seguindo nessa vibe cheia de identidade e detalhes preciosos a serviço da família, todos os caminhos levam ao subsolo. Sim, Ara fez questão de construir esse espaço multiúso, descolado, onde tudo e todos se misturam. Puro entretenimento. Uma releitura de garagem abriga desde carros e motos antigos, mesa de sinuca dos anos 1940, holofotes de latão vintage usados em navios até obras de arte, como uma tela de Janaina Tschäpe e uma incrível tapeçaria de 5 metros de comprimento de Jean Gillon. “Ali acontece de tudo. Das festas das minhas filhas às aulas de dança da Sabrina. Penso que tem uma parte da casa que é o ‘lado dia de semana’, e outra que é o ‘lado fim de semana’, e o subsolo é sem dúvida o fim de semana. Conseguimos encaixar a zona dos filhos, a minha, a da Sabrina.”