Laura Gonzales: arquiteta parisiense em entrevista exclusiva
A arquiteta parisiense Laura Gonzales fala sobre sua infância, seu estilo maximalista, sua agenda lotada e o que a diferencia de outros profissionais da área
A arquiteta e designer Laura Gonzales viaja para todos os cantos do mundo com projetos ambiciosos que abrangem de tudo – hotéis em Roma e na Espanha, uma loja conceito em Nova York e butiques luxuosas em Tóquio e no Havaí –, sempre com o seu estilo maximalista. “Cada projeto é uma história nova para contar. Acima de tudo, eu adoro refazer lugares míticos”, diz.
Nascida em Paris, Laura cresceu perto de Cannes, no sul da França. Seu pai era dono de um hotel e um restaurante, e ela ficava imersa nesse mundo de hospitalidade. “O escritório do meu pai era forrado com estampas de caxemira. Todo cômodo da casa era muito ativo e maximalista, com inspiração no norte da África, particularmente na Argélia, onde meu pai nasceu”, diz a arquiteta. “Como eu era filha única, meus pais me levavam a todo lugar. Eles amavam arte e casas de leilão.”
A arte desafiou a jovem Laura. Ela desenhava e fabricava cerâmica, mas não tinha certeza se queria seguir com aquilo. “Eu não pensava nisso; ninguém na minha família era arquiteto ou decorador”, conta. “Eu pensava comigo: quero fazer um trabalho artístico, mas não me vejo indo para uma escola de arte. Também sou muito organizada, e a arquitetura combina esses dois lados da minha personalidade.”
Laura se matriculou na Escola Nacional Superior de Arquitetura Paris-Malaquais. Ela fala com empolgação de seus estudos ali, que incluíram workshops sobre desenho de coreografia e de corpo nu. Laura também estudou na China e em Veneza, onde passou três meses trabalhando em seu projeto de graduação. Sua ideia era conceber um museu no Punta della Dogana, antes que François Pinault estabelecesse ali sua coleção e confiasse a arquitetura a Tadao Ando. “Ele poderia ter delegado a mim”, ela ri. A arquiteta fundou sua agência, a Pravda Arkitect, alguns meses antes de se formar, e seu primeiro grande projeto foi o clube parisiense Les Bus Palladium. “Foi uma aventura criativa completa. Esta é a vantagem de hotéis e restaurantes: eles são muito mais inovadores que um apartamento em Paris.”
Dos 45 membros da equipe de Laura, 38 são mulheres. “Nós trazemos uma percepção diferente, e os clientes vêm até nós por isso. É uma sensibilidade que diferencia nosso trabalho. Há uma ótima geração de arquitetas chegando”, ela diz.
“MESMO QUANDO EU TENTO suavizar as coisas, NÃO CONSIGO. ÀS VEZES ACHO QUE VOU PELO MAIS neutro, MAS AÍ começa TUDO de novo.
L’OFFICIEL A sua estética é muito lúdica.
LAURA GONZALEZ Mesmo quando eu tento suavizar as coisas, não consigo. É como com o meu próprio apartamento: às vezes acho que vou pelo mais neutro, mas aí começa tudo de novo. Tapetes chegam, aí tecidos, pinturas, sofás... Eu acho que, num contexto mais estressante, queremos um ambiente alegre e colorido, que nos transporte para todo lugar e nos faça sonhar. Teria sido difícil, para mim, fazer apenas minimalismo. Misturar coisas e encontrar a harmonia certa é algo muito intuitivo para mim. Escolher um tecido às vezes pode levar horas. Às vezes certo modelo não está mais disponível, e estamos tentando refazer a sala toda. Outras vezes alguma coisa é muito velha, muito kitsch, não é moderna o bastante, muito clara – você sempre tem que encontrar o equilíbrio certo. É como um jogo de Tetris.
L’O Você tem vários projetos de loja e hospitalidade entre os seus trabalhos. Também faz projetos particulares?
LG Nossa agência é [pequena], e nosso jeito de trabalhar nos deixa pouco tempo para fazer apartamentos. Preferimos trabalhar com casas de veraneio, porque a experiência é um pouco mais tranquila. Seja em Marbella, seja em Capri, [essas residências são] onde nossos clientes querem relaxar e ficar à vontade. Também estou trabalhando num livro publicado pela Rizzoli que será lançado neste outono [europeu]. Eu não queria fazer um portfólio, então escolhi projetos e segui um modo narrativo que cobre residências, hotéis, restaurantes e casas de campo.
L’O Conte-nos sobre sua coleção de móveis New York Splendor [Esplendor de Nova York]. Você quer fazer mais design de mobiliário?
LG Eu chamo a criação de móveis de minha pequena recreação. Para essa coleção, nós trabalhamos com artesãos e fabricamos tudo na França; a coleção é divertida, e a levamos para ser exibida em Nova York. Geralmente não temos estoque, e uma vez por ano apresentamos peças na nossa galeria no 7o Arrondissement de Paris, que exibimos como se fossem diversas vinhetas. A próxima exposição vai ser em setembro.
L’O Como a sua abordagem se desenvolveu ao longo do tempo?
LG Afinei minha abordagem, mantendo um equilíbrio enquanto ainda estava expandindo os limites. Temos poucas barreiras criativas agora, mas especialmente um novo campo da exploração artística, com novos materiais, principalmente têxteis recicláveis, então é uma nova forma de trabalhar. Na minha opinião, o uso desses materiais é que faz o estilo.