Art Miami Week: O Renascimento da Arte Digital
Evento dá destaque para obras em NFT e aponta para o futuro do mercado de arte
Quanto vale uma arte que só pode ser apreciada pela tela do computador? A questão vem movimentando o mundo das artes e despontando como uma das maiores apostas das galerias presentes na Art Miami Week 2021. O evento, maior do segmento nas Américas, não só dá destaque para artistas digitais, antes colocados em segundo plano por galerias, museus e colecionadores tradicionais, como investe na educação de seus visitantes em torno da tecnologia NFT, sigla para token não-fungíveis, que vem avançando a passos largos.
Em parceria com a Tezos, empresa do ramo de cripto, a Art Basel promoveu uma série de palestras com alguns dos principais artistas e membros da comunidade de NFT, a fim de ampliar o entendimento sobre as artes digitais comercializadas via blockchain e negociadas em criptomoedas que chegam a valer mais que ouro. A companhia tem um espaço no evento onde é possível interagir com a obra do artista alemão Quasimondo, pioneiro na utilização de inteligência artificial, e criar o seu próprio NFT
Se de um lado, o tópico parece saído de um filme de ficção científica, por outro o mercado de artes mostra que não só está pronto para absorver a novidade como disposto a pagar caro por isso.
Vem daí que a tradicional casa de leilões Christie’s aproveitou o momento para expor, em local secreto só para convidados, uma série de NFTs de 34 artistas, incluindo trabalhos de Andre Oshea, Ash Thorp, Chad Knight e Sarah Zucker. A iniciativa vem na esteira do leilão, que aconteceu em março, da obra “Everydays: the First 5000 Days” do artista digital Beeple, vendida por $69 milhões de dólares, a terceira obra mais cara da história feita por um artista vivo. “Esse NFT é uma peça significativa para a história da arte”, disse o comprador da obra, o cripto-milionário Vignesh Sundaresan, conhecido virtualmente como MetaKovan. “Às vezes, essas coisas levam tempo para que todos reconheçam”.
Se depender dos expositores da Art Miami Week 2021, não vai demorar muito para amantes de artes de diversos gêneros adicionarem um NFT à sua coleção. Inclusive aqueles que questionam o impacto da nova tecnologia no meio-ambiente, já que transações via blockchain consomem grande quantidade de energia e, consequentemente, altas emissões de carbono.
Para mostrar que é possível equilibrar essa equação, a Open Earth Foundation trouxe para o evento uma série de NFTs que tem como missão arrecadar fundos para a proteção dos oceanos. Tem também a iniciativa da Roddenberry Entertainment, co-produtora da série Star Trek, lançando o primeiro “eco-NFT vivo” do mercado. Implantado como código de DNA na célula de uma bactéria viva, o projeto se replica com a duplicação das células do organismo e promete emissão zero de carbono.
Parte do calendário, a Cube Art Fair leva os NFTs dos pavilhões da Miami Art Week para as ruas, em 50 outdoors espalhados pela cidade. Os trabalhos principais da feira virtual ganham projeção no Intercontinental Hotel, no centro de Miami, em um mural de 120 metros de altura.
O volume de NFTs comercializados durante a Art Miami Week, que acontece até sábado (04), ainda não foi divulgado mas a Pace Gallery, de Nova York, reportou a venda da obra digital “Block Universe”, uma colaboração entre Lonneke Gordijn, Ralph Nauta e Don Diablo, por $500 mil dólares.
Não por acaso, a ascensão da arte digital vem sendo comparada ao período Renascentista, responsável pelo surgimento de artistas como Leonardo Da Vinci, Michelangelo e Botticelli. Foi no final do século 16, quando os mercadores venezianos passaram a colecionar pinturas e esculturas antes restritas à nobreza, que o mundo viu pela primeira vez trabalhos como Salvator Mundi e Mona Lisa, algumas das obras mais valorizadas da história. Pelo menos enquanto os abastados fãs dos NFTs não decifram o código Da Vinci.
Baseada em Miami, Tatiana Cesso é jornalista e fundadora da A-Cesso, agência de comunicação intercultural entre Brasil e Estados Unidos.