Cultura

"Becoming Elizabeth": Jessica Raine sobre a sua Catherine Parr

A atriz Jessica Raine conversa com a L'Officiel sobre como foi interpretar Catherine Parr, uma das seis esposas do rei Henry VIII em "Becoming Elizabeth"

Jessica Raine na estreia de "Becoming Elizabeth" (Foto: Andréa D'Andrea)
Jessica Raine na estreia de "Becoming Elizabeth" (Foto: Andréa D'Andrea)

Seguindo a nossa cobertura de "Becoming Elizabeth", a primeira entrevista exclusiva é com Jessica Raine, que interpreta Catherine Parr, a última esposa de Henry VIII conhecida por ter sido a que sobreviveu. Jessica é conhecida por ter estrelado na série de sucesso "Call the Midwife".

Essa pode ser a primeira vez que interpreta a esposa do rei, mas sua relação com este período da história não é nova. A atriz também fez parte do elenco de "Wolf Hall" a minissérie da BBC em 2015, inspirada na peça de Shakespeare sobre a corte de Henry VIII, mas no caso com o foco no bispo Thomas Cromwell e em Jane Seymour, a 3a esposa do rei.

Agora em "Becoming Elizabeth" ela traz um novo olhar sobre a corte mais explorada na cultura popular, ao interpretar uma Catherine Parr cheia de complexidade. Confira como foi a conversa:

Jessica Raine na estreia de "Becoming Elizabeth" (Foto: Andréa D'Andrea)

L'OFFICIEL BRASIL: "Wolf Hall" , é uma época próxima mas ainda assim, se passava antes da morte de Henry VIII e era em outro núcleo familiar. Quão familiarizada você era com a parte de Catherine Parr e com este momento logo após a morte do rei? 

JESSICA RAINE: Falam que na política, uma semana é um longo tempo. No período dos Tudor eu acho que isso é redobrado. Eu conhecia bem a era Tudor porque Wolf Hall. É estranho, mas acho que é a parte da história que eu mais conheço. E o que estamos fazendo em Becoming Elizabeth é um pequeno buraco negro que ainda não tinha sido explorado. Eu não tinha ideia disso. Não sabia quase nada de Catherine Parr, para ser honesta. E certamente não sabia nada de Elizabeth quando tinha 14 anos ou logo após a morte de seu pai, acho que porque na nossa história sempre focamos nos homens.

As esposas de Henry VIII eram quase que uma piada no Reino Unido. Essa abordagem pelas mulheres, é um olhar novo. O ponto de vista é da Elizabeth em como ela se tornou a rainha que foi. E para mim, eu não tinha ideia o quão incrível Catherine Parr era. E até me irritava um pouco quando eu comentava que iria interpretá-la que a maior parte das pessoas diziam “ah é a que sobreviveu”. Sua vida inteira foi definida pelo fato que ela casou com Henry VIII, e ela tinha tanto mais sobre ela, era uma mulher impressionante. Foi uma grande acadêmica, extremamente resiliente. Casou três vezes antes de Henry em casamentos sem afeto. Foi incrível encontrar todo este ouro escondido nessa personagem.

L'OFF: Ela teve quatro maridos, Henry VIII teve 6 esposas. Ela não estava tão longe, e para época isso era bastante ousado. 

JR: Sim, infelizmente eu acho que não foi a sua escolha ter quatro maridos. Mas é impressionante que ela deu um jeito de prosperar em meio às suas circunstâncias e casamentos sem amor.


L'OFF: Essa é a primeira vez que a vemos como uma personagem central, em que ela realmente tem uma voz e que o público pode conhecer de fato esta mulher que é fascinante. O que mais te impressionou sobre ela?

JR: Ela foi uma das primeiras mulheres na história que publicou algo em seu próprio nome. Como comentamos antes, há vários casamentos, também. Mas o que eu achei super interessante é que ela entendia a dinâmica de poderes na corte. Ela não se intimidava por isso. Ela era uma artista na forma que manipulava Elizabeth e outras pessoas. Você nunca tem certeza se ela era boa ou má. Bom, não que isso seja algo que é possível definir de ninguém na realidade. Mas ela estava sempre em uma linha tênue. Você não consegue entender se ela estava do lado de Elizabeth ou se estava apenas a usando. Eu pessoalmente acredito que ela genuinamente tinha afeto por Elizabeth, o que torna mais interessante interpretar, porque ela tenta aconselhar e ao mesmo tempo manipular a princesa.

L'OFF: Você tem algumas falas que trazem muito o contexto das mulheres da época, e ao mesmo tempo a tantas camadas que você traz na personagem que funcionam muito bem para um olhar contemporâneo. Como foi para você jogar com isso tudo?

JR: É infinitamente fascinante, porque eu acho que isso tudo vai para o roteiro de Anya Reiss que é a showrunner da série e uma mulher muito jovem. Ela tem 30 anos. Sua escrita é extremamente crua e muito forte. Ela não tem freios. Há palavrões, eles falam de forma suja uns com os outros. É muito visceral. E eu acho que isso dá a sensação, não de ser esforço, porque há muito, mas de naturalidade. É como colocar tudo em um prato. E mesmo a forma que foi filmado.

Tivemos um diretor de fotografia que era português, Adolpho Veloso, ele fazia tudo com a câmera na mão. Você nunca sabia para que lado a câmera iria ou quando que ela iria te encontrar. E isso já colocava mais uma camada na interpretação. Parecia que a gente estava filmando a série “Succession”, mas com o figurino de Tudor, o que era extremamente estranho e por outro lado deixava tudo ainda mais vivo. Eu acho que se algum de nós estivesse interpretando como um drama sacrossanto do período Tudor, ficaria sem graça. Ninguém tinha interesse em fazer isso, sejam os criadores ou os atores, era algo moderno. São essas camadas que você tem que peneirar, e acho que ecoam nossas vidas hoje.

Estamos constantemente lutando hoje com as mídias sociais, as notícias, o que está acontecendo conosco emocionalmente. As coisas não mudam muito com os humanos, com o que você está pensando o tempo todo. Obviamente, na época que estamos retratando, é mais sobre sobrevivência porque você pode acabar decapitado com muita facilidade.

L'OFF: O que você espera que jovens mulheres que estejam assistindo a série possam levar dela?

JR: Cuidado com homens charmosos! Thomas Seymour é extremamente cativante, mas o que ele faz é imperdoável. Acho que essa é a real lição para mulheres, confiem no seu instinto porque na série, Elizabeth está sendo aconselhada por todos os lados. Ela não sabe ainda, mas está no meio de uma mudança de curso que é tão perturbadora que vai afetá-la para o resto de sua vida. Ela não se casa, possivelmente, por conta do que aconteceu neste capítulo de sua vida. Ela é fortemente afetada por isso. Então eu acho que o melhor conselho é "confie na sua intuição".



Jessica Raine na estreia de "Becoming Elizabeth" (Foto: Andréa D'Andrea)

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