Cultura

Facebook: Viviane Duarte fala como usar as redes a seu favor

Viviane Duarte é mãe de Paulo e avó de Luiza, além de ser a head of connecting planning latam do Facebook. E, há cinco anos, abre as portas e os espaços para garotas que, como ela, nasceram sem privilégios sociais
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Viviane Duarte sonhava ser jornalista desde menininha. Apaixonada pelas palavras e pela comunicação, entrevistava as pessoas que passavam pela calçada da casa. Eis que ela cursou a universidade de jornalismo, o que expandiu sua consciência profissional, que passou a se desdobrar em diversos modelos de negócios, como o Plano Feminino – consultoria pioneira em ressignificar estereótipos na propaganda, que existe há 11 anos. “Eu sempre tive um plano e, em meu primeiro livro (pela editora Planeta), conto como ter um projeto, principalmente quando nascemos sem privilégios sociais, como foi meu caso e é o de milhões de mulheres no Brasil, um país tão desigual, faz toda a diferença em nossa trajetória. Quando a gente sabe aonde quer chegar, sabe também o que não dá para deixar ficar na mala, e nossas escolhas e lutas passam a ser mais assertivas”, reflete ela. Head of connecting planning latam do Facebook, Vivi acaba de lançar seu livro, pela editora Planeta. Em Quem É Você na Fila do Pão – Tenha um Plano e Faça Acontecer, ela traz suas experiências de carreira e de vida para mostrar como constrói seu espaço no mercado, transformando o caos em propósito e erguendo uma marca pessoal forte a partir das mídias sociais.

A seguir, Vivi fala sobre ser mulher no Brasil dos anos 2020 e usar as redes a seu favor e pela luta por mais equidade.

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Viviane veste camisa e saia CRIS BARROS e anel GUÁ

L’OFFICIEL Você já foi CEO da BuzzFeed Brasil e agora ocupa o cargo de head of connecting planning latam do Facebook. As mídias digitais estão aí para dirigir, conectar, informar, induzir… Qual o lado bom – e o lado ruim – de viver nesse mundo?

VIVIANE DUARTE As mídias digitais me ajudaram e ajudam a construir minha carreira e meus negócios. Nelas, montei uma rede de relacionamento poderoso e pude construir minha marca pessoal. Conto bastante desse movimento em meu livro, Quem É Você na Fila do Pão – Tenha um Plano e Faça Acontecer (Editora Planeta). O que aprendi a fazer é usar as mídias a meu favor e nunca me comparar. Além disso, focar para não procrastinar, mas ter tempo para interagir nesses espaços sem me perder o dia todo com pessoas e conteúdo. Todos os dias, estabeleço prioridades e uso esses espaços como aliados para os meus planos. As mídias sociais e a Internet são grandes cúmplices se nós as conduzirmos em nossos planos, e não o contrário.

L’O De onde veio a ideia do Instituto Plano de Menina? Projetos sociais precisam estar sempre na ordem do dia?

VD O Plano de Menina nasceu da minha vontade de fazer a diferença na vida de meninas que nascem sem privilégios sociais. Meninas como eu fui um dia. E o instituto atua como agente de transformação social na vida dessas garotas, capacitando, encorajando com autoestima e conectando meninas com oportunidades de trabalho no primeiro emprego. Existem histórias poderosas de garotas que mudaram sua percepção de mundo e hoje buscam um presente e futuro de protagonismo, inspirando todas as outras à sua volta, e isso é poderoso demais.

O FUTURO É FEMININO E COLORIDO E igual para todas e todos. SEM IGUALDADE, NÃO EXISTIREMOS COMO SOCIEDADE. VIVI DUARTE

L’O Quais as questões de ser uma mulher dos anos 2020?

VD Ser mulher neste país, especialmente negra e periférica, é ser uma sobrevivente. Mas também é ser força e criatividade ancestral para ocupar espaços e realizar planos. Ser uma mulher negra em ascensão pessoal, profissional e especialmente financeira no Brasil, que é tão racista, classista e machista, é um desafio e, ao mesmo tempo, um privilégio e uma missão. Eu ocupo espaços que majoritariamente são frequentados por pessoas brancas – não vejo ninguém da minha cor na maioria dos lugares em que estou. Sou sempre a única, e muitos se dirigem a mim em inglês, porque, afinal de contas, o que uma mulher negra brasileira estaria fazendo neste lugar senão servindo, não é? Só pode ser gringa, devem pensar… Mas eu aproveito esses momentos para dizer que sou brasileira, sim, e me espalho nesses espaços e nessas mentes limitadas e acostumadas à exclusão deste país com toda a minha maravilhosidade. O futuro é feminino e colorido e igual para todas e todos. Sem igualdade, não existiremos como sociedade.

L’O Quais são suas lutas diárias?

VD Eu sempre digo que devemos escolher nossas batalhas para que nossa luta faça sentido. Escolho me colocar em primeiro lugar todos os dias e acreditar na mulher que sou e na que desejo me tornar, sem me comparar nem me distrair com a vida alheia. Eu luto para que todas as meninas e mulheres, independentemente do lugar de origem, tenham oportunidades e se encorajem a ocupar os espaços que desejam. O instituto que fundei há cinco anos faz um trabalho poderoso de capacitação, encorajamento e conexão de meninas com grandes oportunidades no mercado de trabalho. São milhões impactadas por projetos digitais e centenas delas já estão empregadas e fazendo acontecer em empresas como Unilever, The Body Shop, Amaro, Ambev, entre outras. Quero usar meus privilégios para que mais e mais possam hackear esse sistema tão desigual.

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Viviane veste blusa e calça LILLY SARTI, botas SANTA LOLLA, anel e pulseira GUÁ.

L’O Como trabalha as questões de gênero, raça e diversidade?

VD A consultoria é pioneira no Brasil. Em 2010, já provocávamos sociedade e propaganda a repensar estereótipos e se transformar em agente de mudança. Lá, ajudamos marcas e empresas a criar narrativas e ações positivas para promover equidade racial e de gênero, como trazer para as campanhas diversidade de cores e corpos e orientação sexual, além de estabelecer dentro da empresa comitês de diversidade, promover mulheres a cargos de liderança, contratar talentos diversos e criar uma cultura de equidade. As ações precisam ser genuínas e caminhar de forma mais rápida, de dentro para fora das empresas. Não faz sentido uma marca ganhar prêmios com propaganda que traz diversidade na narrativa quando em seu grupo de executivos não existem talentos diversos.

L’O Acredita que todos precisamos pensar a esse respeito?

VD Todos precisamos nos questionar: o que eu posso fazer com os privilégios que tenho nas mãos? E, a partir daí, entender que, como indivíduos, temos capacidade de agir em pequenas escolhas e até promover a igualdade racial e de gênero, como deixando de rir de piadas machistas, racistas e homofóbicas. Ou não estereotipando uma pessoa pelo fato de ela não estar dentro de padrões estabelecidos pela mídia e pela sociedade. A gente precisa ser indivíduo de transformação antes de se juntar a coletivos.

ESCOLHO ME COLOCAR EM PRIMEIRO LUGAR TODOS OS DIAS E ACREDITAR NA MULHER QUE SOU E NA QUE DESEJO ME TORNAR, sem me comparar NEM ME DISTRAIR COM A VIDA ALHEIA. VIVI DUARTE

L’O Precisamos celebrar o feminino pelo mundo? Qual o olhar que só as mulheres têm e que pode fazer a diferença?

VD As mulheres são potência e precisam ser celebradas. Apesar de a disparidade salarial ainda ser algo preocupante – ganhamos 30% menos de salário, somos demitidas com mais frequência e sofremos com a violência doméstica e o machismo na sociedade –, nosso país é o quinto no ranking mundial em feminicídio – crime contra a vida da mulher. Ainda com todos esses números contra nós, temos resistido e existido, e isso é poderoso e precisa ser celebrado. Nos unirmos e termos sororidade – que é a irmandade entre as mulheres – é fundamental para transformar e acelerar a equidade de gênero no país, e acredito que estamos entendendo mais sobre esse poder. Eu amo ser mulher e amo a mulher que sou e a que irei me tornar.

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