Cultura

Matteo Bocelli: legado de peso e amor pela música

Música familiar! Em sua primeira turnê mundial como artista-solo, Matteo Bocelli carrega como bagagem um legado musical de peso e um forte amor pela música.

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Foto: Divulgação

Filho do icônico cantor Andrea Bocelli, Matteo Bocelli teve sua primeira exposição ao grande público internacional neste ano e de uma maneira bastante atípica: acompanhando o pai em sua turnê de celebração de 30 anos de carreira. Após encantar e surpreender os estádios lotados, o jovem cantor lançou o seu álbum de estreia e embarcou em sua primeira turnê-solo, Uma Noite com Matteo: Américas 2024, que passou pelo Brasil em outubro, com shows em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Com um estilo um pouco mais pop e em um formato mais íntimo que o de Andrea, o show trouxe ao público não só as canções de seu primeiro álbum como também algumas favoritas dos fãs de música italiana. “É uma mistura entre músicas originais e outras que são conhecidas no mundo todo e que fizeram parte da minha infância. E sim, vou trazer pelo menos uma surpresa para os brasileiros”, conta Matteo em nossa entrevista exclusiva por videoconferência diretamente da Itália. Sentado no sofá de casa, acompanhado de seu cachorro, estava à vontade, com um sorriso fácil. Sem filtros para falar de absolutamente tudo, seja pedir dicas de música brasileira, sua quase obsessão por Ed Sheeran e até admitir que considera seu português péssimo – “Só sei falar ‘obrigado’ e ‘boa-noite’. Vou precisar passar mais tempo no Brasil para aprender”.

Apesar de ter vivido já em primeira mão o carinho do público brasileiro no palco com seu pai, Matteo ainda não espera que saiam cantando junto com ele. “Acho que isso seria pedir demais. O que espero é poder espalhar a minha música para eles e gerar alguma emoção mesmo.” Apresentar-se em teatros menores permite a ele conseguir não só ver a plateia, mas também interagir com ela de uma forma muito mais próxima do que em um estádio. “Isso é a coisa mais especial de fazer shows ao vivo. Mesmo que você cante o mesmo repertório, é sempre uma experiência diferente. Cada público, cada país tem o seu jeito único. E acho que isso é o que mantém essa chama de subir no palco acesa.”

 

De fato, Matteo não estava atrás da fama quando começou seus passos na música. Quando criança, tocava o piano e cantava para passar o tempo. Era a sua brincadeira. Adorava acompanhar o pai no estúdio. “Eu sempre queria gravar algo também e fazia eles perderem tempo. Muitas vezes deixavam, mas havia momentos que tinham que cortar a brincadeira e dizer que estavam muito ocupados.” Foi aos 16 anos quando se deparou com a primeira oportunidade de tornar o hobby uma profissão, ao ser abordado pelo produtor David Foster, que também trabalhou com Celine Dion, Michael Bublé, Diane Warren e Josh Groban, além de Andrea. “Foi a primeira vez que entendi essa minha paixão por música, não era só um interesse próprio. Se alguém como ele quis gravar comigo, talvez meu sonho possa ser algo maior. Mas meu pai ficou bastante preocupado, porque ele sabe como essa carreira é desafiadora, e disse não. Eu fiquei triste, pois sabia que estava perdendo uma grande oportunidade. Mas, por outro lado, você confia no seus pais.”

A segunda grande chance surgiu da melhor forma pos- sível, dentro de casa, durante a produção do álbum Sí (2018). Havia uma grande expectativa da indústria, pois era a primeira vez em 14 anos que Andrea gravaria obras originais. Matteo ajudava na seleção das inúmeras canções novas que lhes eram enviadas e se deparou com Fall on Me. “Escutamos juntos e nos sentimos muito conectados àquela música. Havia algo definitivamente especial. Porém, era um pouco mais pop que o estilo dele. E eu queria convencê-lo a gravá-la de algum jeito”, lembra. “Como muita gente acha que a minha voz lembra a dele, tive a ideia de fazer um demo. Pensei que, ao ouvir a versão que eu fiz, ele iria se dar conta de que a música funcionaria para ele também.” A tal gravação acabou caindo nas mãos do presidente da gravadora e do produtor do álbum. Eles gostaram tanto de sua performance que decidiram transformar a canção de amor cantada em uma voz em um dueto de pai e filho.

Esse foi o empurrão para Matteo se apresentar com Andrea nos maiores palcos do mundo, programas de televisão e até na cerimônia do Oscar. “Foi um passo gigante, mas, ao lado do meu pai, era factível.” A grande exposição do dia para a noite acelerou sua carreira, além do reconhecimento do público, e abriu portas para grandes produtores e artistas para colaborações musicais, como a que fez com Ed Sheeran, que é um de seus ídolos, e o popular cantor colombiano Sebastian Yatra. “Essas parcerias têm que ser uma coisa espontânea. Aquela vontade das duas partes de fazer música juntas, porque é uma química. Eu adoraria trabalhar com alguém do Brasil, a música brasileira é sem igual”, e Toquinho foi um dos primeiros nomes que veio à mente.

Por ter acompanhado de perto a carreira de seu pai, Matteo sabe que esses primeiros meses são muito importantes para se estabelecer como artista-solo. “Você deve estar sempre no palco, ser visto o máximo possível. É uma fase em que você deve confirmar o seu tipo de música, como você é como artista, seu nome, cara, projetos.” Encontrar o equilíbrio entre o ritmo dos shows ao vivo e o tempo para criar e gravar novas músicas é seu maior desafio no momento, por isso pretende tirar alguns meses após a turnê para focar isso. “Acabei de lançar meu primeiro álbum, e isso é muito grande. Mas sei que preciso escrever novas músicas.”

E, de fato, não se pode prever o que vai sair de suas criações. Afinal, seja em gosto pessoal, seja no próprio trabalho, Matteo se prende pouco às definições de estilo musical. “Há um momento para todo o tipo de música e uma música para o que você precisa em cada momento particular. Não tem apenas um estilo ou vibe que eu queira recriar.” Sem grandes pensamentos estratégicos por trás de sua carreira, a única regra que segue herdou do pai e é simples: a sensação. “A gente quer fazer música com um propósito bom. Esse é o único objetivo. A nossa realização vem de fazer algo que nos faz bem e que faz bem para os outros”, conclui.

 

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