Música remota: artistas gravam EPs durante o isolamento social
Raquel Virginia, Assucena Assucena e Rafael Acerbi são os artistas que dão o tom de As Bahias e a Cozinha Mineira. Durante a pandemia, o grupo encarou o desafio de criar um EP com todos os percalços de uma gravação remota. “Enquanto estamos distantes” é o resultado e nós conversamos com eles para saber como foi o processo.
Revista L’Officiel - Como surgiu a ideia (ou motivação) para gravar um EP durante a quarentena?
Assucena - Surgiu de nossa inquietação por compreender nosso ofício nesses tempos difíceis. Não está sendo fácil estar ausente dos palcos, e de não poder sentir o calor de nosso público. Não está sendo fácil não poder sair e desenvolver nossos projetos olho no olho. Por isso, entendemos que teríamos que atravessar a barreira da distância com o bom uso da criatividade e da tecnologia.
Revista L’Officiel - O que podemos fazer de melhor enquanto estamos distantes?
Raquel - Tentar contribuir da melhor maneira para que este momento não seja ainda mais cruel. Nem com você e nem com os outros.
Rafael - Creio que por mais que estejamos distantes, nosso disco fala sobre justamente a importância do estar perto. Acho que a humanidade está passando por um processo muito profundo de reavaliações e análises sobre o que construímos até aqui - onde erramos e para onde iremos após a crise.
Revista L’Officiel - Vocês acham que a música pode ser um grande sopro de esperança e paz para o momento?
Raquel - Acho que está muito explícito como a arte tem sido fundamental para nos dar alguma paz neste momento trágico.
Assucena - A música sempre foi, está sendo e será tal sopro. A arte, em geral, tem salvado a nossa sanidade e regado nossa esperança.
Rafael - Sim. Particularmente, a música pra mim é quase uma oração.A arte tem sido a maior aliada em relação à saúde mental de todos nós.
Revista L’Officiel - Como vocês acham que serão os shows e interação com o público após o isolamento social?
Raquel - Estaremos todos mais sensíveis. Tomara que seja um recomeço mais leve e menos insano. Acho que vamos estar todos ainda mais entregues à arte.
Assucena - Para mim ainda é turvo, mas vejo que será um processo de renascimento do valor do espaço público motivado entre o medo e a saudade.
Revista L’Officiel - Como foi gravar com vocês separados, cada um em uma casa e longe do estúdio?
Raquel - Foi bem difícil ficar recebendo resultados e não acompanhar o processo como um todo, que é algo que gostamos muito. Mas foi a única maneira que encontramos de continuar.
Assucena - Foi desafiador e instigante. Creio que criamos mais um motivo de estar juntos e atualizar as definições de abraço.
Rafael - Foi muito legal. Nós três já nos conhecemos há 10 anos. O fluxo e comunicação funciona bem. Eu gravava ideias e enviava para elas e assim fomos aprovando ou não os arranjos e demais ideias do disco.