Valentino lança livro em comemoração aos 65 anos de marca

Cores são sazonais e, ao mesmo tempo, eternas na moda. Democráticas por um lado, conectadas permanentemente a marcas, do outro. É o caso do vermelho intenso, que para sempre será lembrado como red Valentino. É tão emblemático que um livro inteiro foi dedicado a ele, reunindo mais de 180 vestidos e acessórios do acervo da marca criada há 65 anos. Rosso Valentino, que sai pela editora Assouline, traz desde as criações que marcaram a era de seu fundador, Valentino Garavani, até a do atual diretor criativo, Pierpaolo Piccioli.

O texto e a seleção das peças são de Charlie Porter, escritor e curador que colabora com jornais como Financial Times e The New York Times, e é autor de outros livros como What Artists Wear. O vermelho, como diz Porter, tem significados diferentes. Na Europa está ligado a poder, na China traduz alegria, enquanto indígenas norte-americanos acreditavam que é a matiz que pode ser vista pelos espíritos. “Essa variedade nos mostra como nossas reações à cor são complexas”, ressalta o autor.

A conexão do estilista Valentino com o vermelho re- mete à ópera Carmen, que ele assistiu quando ainda era um estudante de férias em Barcelona. Duas lembranças ficaram dessa noite: o fato de que o figurino e, também, as roupas de espectadoras, cadeiras e cortinas eram em vermelho. Uma das mulheres na plateia era uma senhora de cabelos grisalhos vestida em veludo monocromático com acessórios combinando. “Nunca me esqueci dela. Eu entendi que não havia uma cor melhor depois de branca e preta”, disse o designer italiano em 1990 – cinco anos antes, em 1985, a nuance exuberante foi batizada com seu nome, cuja composição é a de 0% de ciano, 100% de magenta, 100% de amarelo e 10% de preto.

O impacto emocional da cor para ele foi tão intensa, que já estava presente em sua primeira coleção, apresentada em Roma, em 28 de fevereiro de 1959, em um desfile às 11 horas da manhã. Coloria o vestido Fiesta, modelo sem alças, moldado no corpo e em tule formando flores na barra. É essa peça que salta da foto tirada nesse dia, no ateliê localizado no número 11 da via Candotti. Muitos outros modelos vieram em suas coleções e todos estão guardados no arquivo da marca, um espaço vivo e em total sintonia com o dia a dia de Pierpaolo Piccioli, ainda que os códigos contemporâneos de vestuário sejam diferentes. Se no passado Garavani lidava com regras rígidas para a silhueta feminina, agora as percepções de gênero estão fluidas – o amplo vestido em tafetá que encerrou o desfile de alta-costura inverno 2017 integrou no ano seguinte a exposição Heavenly Bodies no Costume Institute do Metropolitam Museum of Art, em Nova York.

É exemplo perfeito do como o atual diretor criativo define o caminho da marca no século 21. “É liberdade. Ainda é beleza, porém mais a beleza da identidade do que a da estética. É mais profundo. Não quero ser alguém que dita moda. Quero propor valores através da moda”, explica ele, que adora brincar com os diferentes tons do vermelho em suas criações. Foi desse exercício que ele chegou, por exemplo, ao Pink PP, desenvolvido em parceria com o Pantone Color Institute. “Eu amo a assinatura vermelha de Valentino, mas não somente como símbolo de poder e glamour, mas como algo pessoal e romântico, o que dá à cor uma nova percepção. É uma coisa boa”, analisa Piccioli.