Cultura

Xingu: história ganha exposição no Instituto Moreira Salles

Importância e cultura do Xingu são celebradas em mostra, com foco em produções audiovisuais produzidas pelos seus habitantes.

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Watatakalu Yawalapiti (2019), retrato de Sitah.

Primeiro território nativo homologado pelo governo brasileiro, o Parque Indígena do Xingu completou 60 anos em 2021. Agora, em meio à luta pelo direito da demarcação de outras reservas pelo país, a sua história ganha exposição especial no Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

Desenvolvida por dois anos, Xingu: contatos, reúne 200 itens para uma imersão que discorre sobre os povos e a cultura daquela área — com a vantagem de não focar em uma visão estrangeira, antropológica ou aculturante sobre eles. Mais do que instantâneos históricos de expedições pelas terras do Xingu, a mostra se propõe a dar espaço e voz à produção indígena contemporânea, especialmente audiovisual.

Seis curta-metragens foram produzidos especialmente para integrar o conjunto da curadoria, mostrando o poder do uso do cinema pelos povos nativos para registro das suas narrativas com um olhar próprio e preservação de tradições — além de ferramentas de ativismo e denúncia — desde os anos 1990. O xavante Divino Tserewahú, nome pioneiro da produção indígena nacional, reflete sobre essa importância com Somos cineastas; enquanto Piratá Waurá, da etnia Waurá, memorializa sobre a gruta de Kamukuwaká, local sagrado que ficou de fora dos limites da demarcação. Kamikia Kisêdjê, Kamatxi Ikpeng, Kujãesage Kaiabi, Takumã Kuikuro e o Coletivo Kuikuro de Cinema completam a lista dos realizadores em destaque por ali.

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Kainahu Kuikuro, integrante do Coletivo Kuikuro de Cinema, no ritual do Kuarup na aldeia Afukuri (2021),Takumã Kuikuro; Aldeia Khikatxi do povo Khisêtje durante queimada provocada por não indígenas no entorno da Terra Indígena Wawi (2022).

A história do Xingu tem seu quinhão à parte, sendo contada em paralelos que mesclam a visão perspectiva das expedições brancas com registros nativos. Das primeiras imagens da região, feitas pelo etnólogo alemão Karl von Den Steinen no século 19, às fotografias produzidas recentemente por Kamikia Kisêdjê. Apesar da história da demarcação da reserva, na perspectiva branca, ser muito ligada a Darcy Ribeiro e aos irmãos Villas-Bôas, a mostra no IMS dá nome e rosto às lideranças essenciais dali, como o cacique Prepori Kaiabi, em uma série de retratos.

Encontros entre xinguanos e forasteiros são descritos pela visão dos primeiros, em movimento de interrogação das narrativas sobre esses momentos, tornadas história oficial pela cultura não indígena. O artista plástico Denilson Baniwa participa com obra que coloca em xeque, através de reportagens da revista O Cruzeiro, a visão da imprensa sobre as culturas indígenas. Em movimento de contato contrário, imagens relembram a participação de importantes lideranças do Xingu — como o cacique Raoni — nos debates sobre a Constituição Brasileira, em 1987. E mostram como aquela área é símbolo de resistência dentro de um esforço pela validação e preservação das terras originárias, que segue até hoje.

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Ritual do Jawari no Alto Xingu (1955), Henri Ballot e Plantação de soja na divisa da Terra Indígena Wawi (2020), Kamikia Kisêdje.

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