SPFW N55: João Pimenta apresenta coleção no Theatro Municipal

João Pimenta sempre teve um pé em apresentações teatrais que funcionavam em um universo muito particular. Nada mais coerente que comemore 20 anos de carreira no maior tablado que conquistou: não o da moda, mas o palco do Theatro Municipal paulistano.

Para além dos desfiles e do varejo, João construiu uma história de sucesso nas coxias — acumulou uma série de criações (e prêmios) para espetáculos com os figurinos que criou. Pode soar como um trabalho paralelo, mas longe disso: a moda do estilista sempre teve um olhar de figurino para a vida; cabendo aos clientes (e às clientes, já que sua moda sempre foi genderbender antes mesmo que essa discussão se tornasse padrão na indústria) os adaptarem à realidade além-passarela. Por mais que tentasse algumas vezes nessas duas décadas, João nunca se adaptou a um mercado que buscava soluções fáceis de roupa — pelo contrário, conseguiu conquistar e educar a clientela fiel às suas vontades de exageros técnicos e evoluções de silhuetas que guiavam sua alfaiataria entre signos masculinos e femininos. Esta comemoração foi um mix de tudo que se tornou sua marca: a teatralidade, a sensibilidade, uma certa força desafiante ao status quo e o trabalho obsessivo e sem medo com as técnicas decorativas. As simbologias todas se acumulavam e sobrepunham em cada look, da delicadeza da renda em full look às lãs pesadas e jacquards.

Dividido em três atos, João deu espaço aos seus eternos personagens favoritos: o dândi que desenvolveu ao longo dos anos, um punk romântico que veio das suas origens e um clichê cavalariço que tanto ama, com seus chapéus e bombachas; os três conversando entre si, sem personalidades estanques. No caminho, os tecidos preciosos, as maxisilhuetas empolgantes, as cruzes-símbolo, os bordados incessantes. Como um bom espetáculo de teatro, descrever não tem a menor graça — o certo é assistir e sentir.