A genialidade multifacetada de Irina Cordeiro

Irina Cordeiro tem o ritmo acelerado de quem carrega dentro de si a inquietude de múltiplas paixões. Cozinheira, empresária, criadora de conteúdo, exploradora incansável do Brasil e do mundo, é uma mulher que transforma. "Durante muito tempo, essa minha inquietude foi vista como falta de foco. Mas, depois que comecei a empreender, entendi que minha habilidade é criar, inovar, colocar de pé" afirma. Foi assim que construiu seu caminho, partindo de uma sólida experiência na gestão gastronômica para fundar negócios que carregam sua identidade. "Eu nunca me inspirei em cozinha. Minha inspiração sempre foi ir a uma exposição, conhecer um escritor, um artista. Isso me inspirou a cozinhar. Até hoje me inspira." 

Essa fusão entre criatividade e estratégia se materializou em dois projetos que definem sua trajetória atual: o Cuscuz da Irina e o Irina Restaurante. O primeiro nasceu durante a pandemia, em um momento de reinvenção. "O Cuscuz surgiu porque eu precisava criar algo meu. Eu venho de uma família humilde, e o cuscuz, para mim, era a alegria do dia. Quando comecei a desenhar o projeto, entendi que ele precisava ser uma franquia, um negócio que pudesse crescer sem perder sua essência." Hoje, a marca já tem duas lojas em funcionamento e planos de expansão internacional. "Já temos propostas de franqueados em Miami e Porto. O plano é levar o Cuscuz para o mundo."

Se o Cuscuz da Irina é um projeto de crescimento estruturado, o Irina Restaurante é sua realização pessoal. É situado dentro da loja Pinga no bairro dos Jardins em São Paulo. "Eu sempre quis unir gastronomia e moda, minhas duas grandes paixões. O Irina nasceu dessa vontade de criar um espaço que fosse uma experiência sensorial, um lugar onde a comida conta uma história e respeita a biodiversidade brasileira." A proposta é trazer ao prato a riqueza dos ingredientes nacionais, com foco em frutos do mar e vegetais, e uma cozinha que converse com suas memórias e sua trajetória. "Lá mostramos a potência desse Brasil no prato."

Além disso, investe em outras séries autorais, como Corpo de Mar e Mente de Mato, que exploram a relação entre alimentação, sustentabilidade e ancestralidade. "Eu acredito que alimentação é uma cadeia: você planta, semeia, colhe e se alimenta. Esses projetos mostram essa conexão." A ideia é ampliar essa abordagem e levá-la para novas plataformas. "Quero muito ter meu próprio programa. Estamos trabalhando nisso. Não vejo a televisão como o maior dos holofotes, mas acho que um formato de série documental seria incrível."

Apesar do ritmo intenso, Irina não perde o prazer de explorar a comida de forma afetiva. Seus lugares preferidos para comer são aqueles que carregam histórias. No Rio Grande do Norte, ela cita dois favoritos: o Humilde Tião, um bar rústico onde as mesas ficam sob mangueiras e a comida é feita na brasa; e o Bar do Seu Pernambuco, um lugar simples à beira do mercado de peixes de Natal, onde se serve apenas peixe frito, tapioca com coco e pirão de ovos. "Para mim, essa é a maior riqueza." Mas é em São Paulo que ela se sente em casa. "Sempre fui nômade, mas aqui encontrei o que sempre busquei. São Paulo tem o tamanho da minha cabeça. É infinita." Para quem pensa grande, esse talvez seja apenas o começo. Irina Cordeiro é a prova de que talento, visão e autenticidade podem traçar caminhos inesperados. Em sua capacidade de transitar entre múltiplos mundos – da cozinha à comunicação, da tradição à inovação – reside sua genialidade. E sua história, em constante movimento, ainda tem muitos capítulos a serem escritos.