Fui feliz no Dry January
Como um mês sem álcool transformou minha relação com a bebida – sem radicalismos, mas com muito aprendizado e ótimos mocktails no caminho.
Confesso: eu estava bebendo bastante, quase todos os dias. Meu trabalho e minha rotina me levam a provar coquetéis, vinhos e outras bebidas alcoólicas com frequência. E não vou mentir: adoro. Especialmente quando a bebida é coadjuvante de uma boa comida – prefiro sempre beber enquanto como. Há tempos acompanho o movimento do Dry January, que surgiu como uma campanha para incentivar as pessoas a passarem janeiro sem consumir álcool. Para mim, parecia um desafio interessante. Apesar de a minha relação com a bebida nunca ter sido tóxica, a frequência de consumo era alta. No nosso dia a dia, o álcool está em toda parte: festas, jantares, encontros com amigos, baladas, reuniões de negócios. Dizer “não” às vezes parece impossível e as oportunidades para beber nunca faltam.
O impacto inicial do meu jejum alcoólico foi brutal: perdi peso logo na primeira semana e desinchei visivelmente. Mais do que isso, me senti mais disposto e motivado a retomar a minha rotina de exercícios. Foi um benefício puro e simples. Mas admito: fui flexível. No dia em que meu pai faleceu, por exemplo, brindei sua memória com uma taça de vinho branco. Ele adorava beber e, infelizmente, sofreu de alcoolismo. Foi um momento de conexão emocional para mim, um brinde que fazia sentido. Outro dia, durante um jantar em um restaurante muito especial, me permiti harmonizar o prato com uma única taça de vinho, um vinho excepcional. Repeti isso três vezes ao longo do mês, sempre com consciência. No fim, percebi que não era sobre me proibir completamente, mas sobre repensar a forma como consumo álcool.
Descobri também o prazer dos mocktails. Comecei a pedir sugestões de coquetéis sem álcool nos bares, e fui bem feliz com as opções que provei. Segurar um copo similar a um coquetel alcoólico reduz a pressão social. E, sinceramente, fiquei surpreso com o quanto os bartenders já estão preparados para atender a essa demanda. Conversei com Xavier Padovani, um mestre dos bares e cofundador do grupo Experimental, que me explicou como muitos estabelecimentos estão inovando nessa área. "Para trazer uma perspectiva global, o grupo tem se dedicado a oferecer opções de coquetéis sem álcool ou com baixo teor alcoólico em todos os bares há bastante tempo. Seguindo o crescimento dessa categoria e a crescente demanda dos consumidores, temos trabalhado intensamente nesse conceito há anos, tanto nos bares de coquetéis quanto nos bares de vinho do grupo, presentes no Reino Unido, Estados Unidos, Itália, Espanha, França e Suíça.”
“Essa iniciativa é implementada de diferentes maneiras. Alguns bares simplesmente oferecem coquetéis sem álcool ou com baixo teor alcoólico no menu, enquanto outros apresentam uma categoria especial de 'coquetéis funcionais sem álcool', focada em ingredientes que vão além do sabor, trazendo benefícios adicionais. Há também o conceito de mirror cocktails, ou coquetéis espelhados, onde drinks alcoólicos do menu possuem uma versão idêntica, mas sem álcool. Além disso, trabalhamos em parceria com marcas de bebidas não alcoólicas em nível global, como Almave Tequila e Everleaf, da mesma forma que colaboramos com marcas tradicionais de bebidas alcoólicas. Nosso objetivo é atender à evolução da cultura de consumo, proporcionando alternativas inclusivas e sofisticadas para todos ", explica.
Nathalie Durrieu, chefe de bar do Experimental Cocktail Club em Nova York, destacou algo interessante: “Incorporar coquetéis não alcoólicos ao menu não é só uma tendência, é uma questão de inclusão. É importante que todos possam participar dos rituais sociais em torno da bebida, mesmo sem consumir álcool.”
Claro que sofri pressão social e fui questionado sobre a minha escolha. Mas meu Dry January, ainda que um pouco adaptado, me deixou uma grande lição: quero beber menos, mas melhor. Nada de ceder à pressão ou beber porque “é o que se faz”. Quero escolher momentos especiais, bebidas de qualidade e, acima de tudo, viver a experiência com mais consciência. Para encerrar, compartilho as receitas de três mocktails que aprendi no Experimental Cocktail Club. Cada uma delas me surpreendeu e provou que o álcool não é o único ingrediente capaz de transformar um drink em uma experiência sofisticada e prazerosa.
Filipino Flip
- 60 ml de Calamansi curd
- 20 ml de xarope de curry verde
- Raspas de limão para decorar
Agite bem todos os ingredientes e sirva em uma xícara de chá.
Calamansi Curd:
- 200 g de açúcar granulado
- Raspas de 3 limões
- 6 gemas de ovo
- 120 ml de suco de calamansi
- 120 g de manteiga sem sal, cortada em cubos
Misture o açúcar e as raspas de limão e deixe descansar por 2 horas. Bata as gemas, adicione o açúcar aromatizado e o suco de kalamansi. Aqueça em fogo baixo, mexendo sempre, até engrossar. Fora do fogo, incorpore a manteiga. Coe e armazene em um pote hermético.
Petit Poids
- 45 ml de cordial de ruibarbo
- 30 ml de xarope leve de ervilhas
- 60 ml de espumante não alcoólico
Misture os ingredientes e complete com o espumante.
Cordial de ruibarbo:
- 1 kg de purê de ruibarbo
- 1 litro de água
- 18 g de pectinex (enzima para clarificar)
- 300 g de açúcar (aproximadamente)
- 11 g de ácido málico
- 5,5 g de ácido tartárico
- 12 g de sal
Bata o purê com a água e o pectinex, coe em um saco de 100 microns e ajuste com açúcar e ácidos.
Dragon Highball
- 45 ml de cordial de pitaya
- 15 ml de xarope de folha de limão
- Completar com soda
Cordial de pitaya:
- 1 kg de pitaya congelada
- 1 litro de água
- 18 g de pectinex
- 500 g de açúcar
- 20 g de ácido tartárico
- 12 g de ácido cítrico
- 8 g de sal
- 13 g de glicerina vegetal
Bata a pitaya com água e pectinex, coe e adicione os ingredientes restantes.
Xarope de folha de limão:
- 500 g de açúcar
- 500 ml de água
- 10 g de folhas de limão
Aqueça os ingredientes até dissolver o açúcar, deixe em infusão e coe.