Gastronomia

Maxim’s, lendário restaurante parisiense, é renovado pela Dior Maison

Maxim’s, que representava a elegância e a sociedade parisiense, reabre as portas com um espaço renovado e retoques da diretora artística da Dior Maison

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O salão de jantar do piso térreo, renovado, do Maxim’s - Foto: Romain Ricard.

O lendário restaurante que representava a elegância e a sociedade parisienses reabre as portas com um espaço renovado e retoques da diretora artística da Dior Maison. Confira! 

Não há restaurante que seja considerado sinônimo maior de Paris que o Maxim’s, o lendário refúgio gastronômico com jazz e piano na Rue Royale, entre a Igreja de Madeleine e a Place de la Concorde. É onde Brigitte Bardot dançou descalça madrugada adentro; onde Jane Birkin afanou descarada mente a louça em relevo e a levou embaixo da saia ao sair de uma festa de fim de ano; onde a top model dos anos 1960 Antonia tentou entrar com uma pantera viva a tiracolo; e onde as socialites, os magnatas, as estrelas de cinema e as celebridades se misturavam para apreciar a gastronomia francesa. É um delírio febril da art nouveau, de mogno, escarlate e dourado; de espelhos imponentes, teto de vidro desenhado e luminárias retorcidas. Quase todo mundo que foi importante já jantou e dançou lá, desde os seus primórdios, na Belle Époque, quando um jovem garçom chamado Maxime Gaillard abriu o bistrô, em 1893, apenas seis anos depois que a Torre Eiffel apareceu do outro lado do Sena. No decorrer do século 20, e com algumas mudanças desde então, o Maxim’s sobreviveu a duas guerras mundiais, a duas pandemias, à Grande Depressão, à decadência da alta gastronomia e a diversos proprietários, tendo se tornado o restaurante mais famoso do mundo. Depois de um necessário sono de beleza, ele se levantou, sacudiu a poeira e foi restaurado à sua antiga glória da Belle Époque pelo grupo francês de hotelaria Paris Society, que o revitalizou para chegar aos anos 2020 e a seu 130º aniversário.

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Foto: Romain Ricard.

Devido ao seu fechamento ao público nos últimos 14 anos, é justo dizer que o Maxim’s perdeu o brilho. O restaurante perdeu suas três estrelas Michelin em 1978, e, lá pelos anos 1980, o estilista francês Pierre Cardin, um cliente fiel que virou dono – e que aceitou o pedido do proprietário anterior de comprar o Maxim’s a fim de evitar que ele caísse em mãos estrangeiras –, abriu filiais em locais distantes, como Tóquio, Chicago e Cidade do México. Mas a lenda perdurou, e o Maxim’s tinha prestígio suficiente para abrigar eventos e jantares privados e para licenciar seu famoso nome a cerca de 200 produtos – entre eles champanhe, chocolates, cinzeiros (é claro), perfume, lenços de seda e canecas. O Maxim’s saiu de moda e virou um lugar mais para reviver o passado do que para marcar um momento.

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A entrada principal do Maxim’s, na Rue Royale - Foto: Romain Ricard.

Apesar de seu adeus à relevância cultural, o Maxim’s inspirou uma geração de restaurantes que se tornaram tão icônicos quanto seus frequentadores, tão simbólicos para sua cidade quanto seus pontos históricos. Sem o Maxim’s não existiriam o Dan Tana’s, em Los Angeles, o Balthazar, em Manhattan, o Sketch, em Londres; nem Keith McNally, nem Mr. Chow, nem Richard Caring. Agitos da moda vão e vêm, mas o Maxim’s sobreviveu, um bastião da elegância e da boemia cuja fórmula ganhou imitações mundo afora, mas nunca com aquele mesmo arrebatamento cósmico. É tão atemporal quanto o sol brilhante; uma joia da coroa entre os diamantes; uma aposta segura, tanto quanto qualquer aposta segura, para um restaurateur assumir.

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A torta de cogumelos silvestres - Foto: Romain Ricard.

“Eu tenho uma regra essencial: sem varanda? Sem res taurante”, apregoa Laurent de Gourcuff, diretor-geral-presidente e a mente por trás do Paris Society, um dos mais proeminentes grupos de hotelaria da cidade, que assumiu o comando do Maxim’s no fim de 2022. “Mas há uma exceção, e somente uma exceção, que é o Maxim’s.” Desde que Gourcuff assumiu as operações do restaurante, sua equipe gastou quase 2 milhões de euros em melhorias para trazer a joia da art nouveau para a era moderna, ao mesmo tempo que preservou seu passado.

Para o grupo hoteleiro, que supervisiona outros estabelecimentos glamourosos em Paris e na Europa – entre eles o Girafe, o Gigi e o Laurent –, a cozinha era o lugar lógico para começar. Visto que fazia anos que o Maxim’s não oferecia serviços durante o dia, exceto em seus eventos privados, Gourcuff e sua equipe instalaram uma nova cozinha capaz de servir as 160 mesas espalhadas por três andares. Uma instituição tão antiga como o Maxim’s sobreviveu a muitos de seus fantasmas e testemunhou a passagem de inúmeras gerações e épocas, mas o cardápio manteve, em grande parte, os clássicos: o Tournedos Rossini, um filé-mignon servido com foie gras, ainda está no menu 125 anos depois, assim como o Sole d’Albert, uma clássica peça de linguado refogada em vermute e frita na manteiga (o prato é uma homenagem a Albert Blaser, o lendário maître do Maxim’s de 1934 a 1959 que conhecia cada frequentador regular pelo nome e estava sempre atualizado sobre as fofocas para não cometer a gafe de acomodar lado a lado duas estrelas de cinema que estivessem brigadas).

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Uma luminária de bronze de art nouveau da coleção de Pierre Cardin - Foto: Romain Ricard.

Alguns pratos, como a sopa VGE – batizada com as iniciais do presidente francês Valéry Giscard d’Éstaing –, estão no cardápio há décadas, enquanto novidades como a lagosta americana e o carpaccio de vieiras caem muito bem ao lado de clássicos gastronômicos da França. Para revigorar o menu, pratos mais pesados foram reduzidos para acomodar um paladar mais leve, o que significa menos carne e menos molhos no lugar de mais peixes e pratos crus. Para entreter o jet set, caviar.

 Embora a comida seja divina, o objetivo dessa revitalização não é reivindicar as estrelas Michelin, mas sim algo mais parecido com dar um jantar fabuloso toda noite. “O sucesso dos nossos restaurantes é composto de 1 milhão de detalhes: um design de som extraordinário; uma iluminação cuidadosa; uma linda área externa; um serviço de excelência; uma mistura interessante de clientes de setores tão diferentes, como moda, design e política; e uma comida excelente e atual”, diz Gourcuff. “Mas você nunca vai ver algo servido sob um sino de vidro com vapor e com um nome irreconhecível.”

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O Maxim’s em uma edição de 1980 de L’OFFICIEL - Foto: Romain Ricard.

Hoje em dia, garçons de smoking e gravata-borboleta circulam pelo grande salão, segurando coquetéis ou cortando o frango Henri IV para dois, enquanto modelos com sandálias de salto e discretos diamantes se acomodam à sua mesa à luz de velas, quem sabe pela primeira vez, ao lado de um casal abastado que, sem dúvida, janta no Maxim’s desde que se conheceu, décadas atrás. O código de vestimenta, que pede aos comensais que se vistam com elegância, e aos homens, que usem paletó, ainda existe, embora mais como uma sugestão ocasional (vários paletós estão disponíveis na chapelaria se um cavalheiro deles precisar), como uma forma de honrar e respeitar o Maxim’s. E, se um dia já houve um lugar para usar gala no jantar, foi o Maxim’s.

 O restaurante parece igualzinho a quando Barbra Streisand comemorou a pré-estreia de Yentl, em 1983, ou a quando Salvador Dalí chegou com um coelho vivo que mandou para a cozinha para que fosse servido no jantar. A diretora artística da Dior Maison, Cordelia de Castellane, que trabalhou no projeto de revitalização, fez mesmo algumas melhorias sutis.

 

 “Minha única ideia era trazer vida ao lugar novamente”, diz Castellane. “O Maxim’s é uma joia muito rara e bonita; precisava se revigorar um pouquinho, mas eu não ousaria mudar a decoração.” Não que ela pudesse fazer isso, se ousasse – as paredes ornamentadas, projetadas por Louis Marne, com seus murais pré-rafaelitas, seus espelhos reluzentes, suas arandelas de art noveau e seus painéis de mogno entalhados, foram classificadas como monumento histórico e estão protegidas desde 1979.

 

Sua renovação poderia ser chamada de aprimoramento, um rejuvenescimento superficial com retoques sutis, para trazer o icônico local para a era contemporânea. Os abajures empoeirados se foram, substituídos por pequenas luminárias de mesa, junto de novos utensílios customizados da Bernardaud, novas almofadas com florais em relevo nas banquetas de veludo vermelho, carpete reinstalado e um design moderno de som e iluminação. No terceiro andar, um jardim de inverno permite um cigarro atrevido em ambiente fechado, sob um magnífico lustre invertido de vitral vermelho-cereja e branco, de Louis Comfort Tiffany, que Castellane combinou com um tapete de listras de tigre.

AGITOS DA MODA vão e vêm, MAS O MAXIM’S sobreviveu.

Os laços de Castellane com o restaurante não são apenas profissionais, mas também pessoais: membros de sua família – incluindo seu ancestral Boni de Castellane, um dândi da Belle Époque – foram clientes importantes do Maxim’s, e, em 1978, seus pais se casaram ali. O Maxim’s celebrou muitos casamentos ao longo dos anos – houve o da influenciadora de moda Camille Charrière com François Larpin e, no verão passado, o do publisher Alexandre Assouline com Solange Assouline [antes Pin], que trabalha com desenvolvimento de negócios na Joalheria Lightbox. “Na verdade, decidimos nos casar em Paris porque é lá que fica o Maxim’s”, revela Solange.

 

“O Maxim’s é conhecido por ter sido palco de algumas das noites mais glamourosas de Paris, e até do mundo. Durante décadas as pessoas foram até lá para se divertir, para se encontrar, para escapar… Você realmente sente isso na at mosfera”, diz Alexandre. “É algo muito parisiense, mas ao mesmo tempo você se sente transportado para outro mundo.”

“Este novo capítulo do Maxim’s é muito empolgante para nós”, acrescenta Solange. “Adoramos ver esse entusiasmo renovado por um lugar tão querido, à medida que mais pessoas, principalmente as gerações mais jovens, descobrem esse local mágico.”

Ao honrar o passado sem reinventar a roda – exceto por umas poucas atualizações do século 21 –, o Maxim’s reivindicou sua glória anterior e restabeleceu a posição que lhe é de direito: uma quintessência de Paris, do mesmo nível da Torre Eiffel, dos croques monsieur, dos bouquinistes, de Christian Dior e das glicínias na primavera.

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O Maxim’s em uma edição de 1982 de L’OFFICIEL - Foto: Romain Ricard.

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