Hommes

Armarinhos Teixeira apresenta seu Éden contemporâneo

As obras de Armarinhos Teixeira dialogam com a ciência e com a ecorresponsabilidade, abrindo novas perspectivas para um futuro de coexistência

Armarinhos Teixeira
Armarinhos Teixeira

Desarme. Entregue-se por um momento ao que será proposto. Imagine-se no meio de uma floresta. Não, não estou falando de um apanhado de árvores numa bonita montanha perto da sua cidade. Falo de uma floresta densa, úmida, onde não é possível supor onde começa ou termina aquela imensidão verde. Siga com a lógica do gigantismo. Pense agora no mar, em sua imponência, naquele aparente infinito que observamos de um avião ao cruzar continentes. Só mais um pedido: coloque-se no centro de uma geleira que parece eterna; não na borda, mas no miolo de um Perito Moreno.

A natureza, quando presente com toda a sua potência, intimida, às vezes assusta, se impõe. Força e beleza misturam-se e causam sensações díspares que se confundem – respeito, admiração, reverência, vertigem, desnorteio... Ao tentar captar uma espécie de alma do mundo natural é compreensível que um artista busque construir representações cujas dimensões façam jus ao que leva para a própria arte. É o caso das esculturas e das instalações de Armarinhos Teixeira, artista plástico que começou a trajetória em 1982 e, na década de 1990, deu a guinada em direção ao que faz hoje. “A coisa mais poderosa entre o humano e a natureza está na atração. A vida é feita de atrações. Quem vive longe do litoral é atraído pelo mar e sente grande êxtase quando o encontra. O mesmo vale para quem vive no meio urbano e vai para a floresta. É uma fascinação que nos responde com silêncio. É algo mais forte do que as nossas razões diretas”, explica ele, autor de exposições que já passaram por cidades como São Paulo, Aracaju, Rio de Janeiro, Nova York e Genebra.

Armarinhos Teixeira
Armarinhos Teixeira
Foto: Romulo Fialdini / camisa L’AURA ALFAIATARIA + RENATA HAAR, blazer NORMANDO, anel MARIAH ROVERY JEWELRY, boina e óculos ACERVO PESSOAL

Armarinhos cresceu entre a metrópole e as visitas que fazia a regiões do serrado e da mata atlântica. Quando os caminhos da vida rumaram ao meio artístico, sacou que trabalhar esteticamente o verde era algo que lhe interessava. Encontrou bom caminho na bioarte, vertente na qual as representações artísticas se aproxi- mam de áreas do conhecimento como a ciência e a tecnologia.

A natureza (ou o que estamos fazendo dela) virou, então, a sua grande fonte de criação. “A intenção é estudar o pós-natureza. Se a natureza acabasse agora, o que iria substituí-la?”, questiona, para depois lembrar de uma peça idealizada para representar algo que pudesse ser colocado no lugar de uma árvore. “Há certa ideia de um plano divino em que tudo renasce. Mas não é verdade. Nenhuma vida retorna. Um irmão perdido é um irmão perdido, ele não retorna.” Esse pensamento faz com que Armarinhos tenha a preservação ambiental dentre seus pilares. “É uma vigilância constante”, diz.

Não são tempos fáceis nem para manter o meio ambiente intacto nem para a sensibilidade artística. Quando indagado sobre como encara um momento em que ser brucutu está na moda em certos meios, Armarinhos cita os lapsos na educação no País e como a arte parece distante do cotidiano de parcela importante da população. Diz que a palavra cultura “foi avacalhada”, o que levou ao menosprezo de algo imprescindível: a criatividade. “Um trator foi construído por um pensamento criativo. Uma roupa, um jet-ski (...)”, exemplifica, mostrando os contatos entre o abstrato e o prático.

Armarinhos faz questão de sublinhar uma frase: “Quem não tem cultura, não tem exigência”. Uma pessoa só sabe dizer que algo é feio após conhecer o belo. A beleza transforma, e isso em todas as áreas. “Quando se entende o que é beleza, ninguém quer mais nada feio no seu entorno. Não quer uma cidade suja ou o caos urbano.”

Usar a arte para salientar a imponência da natureza, bem como o horror de sua destruição e o cenário desolador que isso provoca é o que faz Armarinhos. “Encaramos a natureza sempre com o olhar do lucro. Não entendemos que deixá-la em pé é a chance de termos um Éden contemporâneo.” Éden que, por que não, pode ser também rentável. Ou você não gostaria de vivenciar um daqueles édens descritos lá no primeiro parágrafo?

Armarinhos Teixeira
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