Babu Santana em entrevista exclusiva para a L’Officiel Brasil
Babu Santana carrega consigo 25 anos de carreira com muitas histórias, lutas, projetos e conquistas! Confira esses e muitos outros detalhes sobre o astro, na matéria a seguir
Babu Santana, é um homem multi talentos, além de ator e cantor, também se dedica com afinco ao trabalho social com o projeto “Nós do Morro”, no Vidigal (RJ). Recente ganhador da Medalha Tiradentes, Babu foi agraciado com a condecoração na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em que fez um discurso emocionado, discorrendo principalmente sobre acreditar na “bandeira do amor”.
Nascido e criado no Morro do Vidigal, Babu foi um talento revelado na favela e após anos de muito trabalho e reconhecimento, busca retornar a oportunidade que lhe foi dada para os moradores da comunidade. Após integrar o elenco de grandes produções como “Tim Maia”, “Cidade de Deus”, “Cidade dos Homens” e atualmente “Amor Perfeito”, com o papel de Frei Severo, o ator busca evoluir não só no universo dos filmes e novelas, como também no mundo da música e da política!
Confira abaixo, um bate-papo exclusivo da L’Officiel Brasil com o Babu:
L'OFFICIEL Agora você está recebendo a Medalha Tiradentes em reconhecimento à sua doação e trabalho no Morro do Vidigal, mas de quais outras formas você percebe a gratidão dos moradores da favela chegar até você?
BABU: É uma honra muito grande estar recebendo a Medalha Tiradentes por todo esse trabalho que a gente fez junto ao 'Nós do Morro', mas a gratidão é toda minha. Eu que sou grato a todos esses moradores do Vidigal que, durante anos e anos, foram a maioria do nosso público do 'Nós do Morro'. A gratidão é minha!
L'OFFICIEL O que o Babu de 16 anos de idade sentiria ao ver onde chegou? Quais foram as principais inspirações e alicerces que te sustentaram nesta caminhada?
BABU: Olha, o Babu de 16 anos… que está aqui dentro de mim [risos]. Vou fazer 44 no final do ano... Ah, é uma felicidade imensa! Toda a minha vivência no 'Nós do Morro', sobretudo meu tio Bebeto e minha tia Sônia, que foram dois parentes mais velhos, e que era raro você ver duas pessoas pretas formadas e ali junto à família. São minhas maiores inspirações; meus tios, meus pais e toda a minha galera do 'Nós do Morro' que me guiaram nessa caminhada.
L'OFFICIEL No BBB 20, você foi um grande ativista em prol das lutas sociais, principalmente no que tange o racismo estrutural, você sente que esse posicionamento encorajou ainda mais o debate sobre o assunto nos mais diversos espaços?
BABU: É claro que tudo aquilo no BBB 20 engrossou o caldo e aumentou o engajamento dos debates, mas essa é uma causa que vem sendo lutada há vários e vários anos, e eu me sinto honrado em ter contribuído para que esse debate viesse mais à tona e que a gente pudesse ter um pouco mais de consciência. Ainda estamos longe do ideal, mas estamos em uma boa caminhada.
L'OFFICIEL Sua amizade com o Felipe Prior foi um dos grandes marcos da edição do BBB 20, vocês ainda mantêm contato? Como se aproximou tanto do Prior mesmo quando pareciam ser tão diferentes?
BABU: Priorzito mora no meu coração! O Prior foi a única fonte de carinho que eu tive em três meses no BBB [risos]. Foi o maior barato! Acho que a gente se aproximou por sermos tão diferentes. Nós não somos iguais, somos diferentes, e podemos coexistir, se amar e ter uma amizade linda como é a minha com o Prior. É lógico que eu mantenho contato com ele. Até hoje, eu o sacaneio quando o Corinthians perde e, quando o Flamengo perde, ele me sacaneia [risos]. Ele está lá namorando e eu torço muito para que esse namoro dure e que ele seja um cara feliz. Esse é um grande exemplo de que os opostos se atraem, podem coexistir e está tudo bem.
L'OFFICIEL 2023 tem sido um ano de sucesso para você! Começou com o filme “Regra 34” em cartaz e agora um papel de destaque na novela “Amor Perfeito”. Conta pra gente, o Frei Severo tem um pouquinho do Babu? Você se enxerga de alguma forma no personagem?
BABU: Ah, Regra 34 foi lindo! Filme da Julia Murat, eu fazendo história nessa família… Amo a Julinha e a Lúcia. Foi incrível fazer parte! A Julia se tornou uma diretora incrível e eu estou muito orgulhoso dela. E o Frei Severo, esse presentão dos deuses, tem muito do Babu, acho que sobretudo quando ele faz as reflexões. É um Babu que existe aqui para os meus filhos, para minha família; um cara que fala calmo, sereno e firme. O Frei Severo tem muito de Babu Santana. Eu estou amando fazer esse personagem, principalmente estando do lado de pessoas incríveis, como é o meu núcleo lá de padres. Estar ao lado de Tony Tornado e Tonico Pereira é algo incrível e também o Chico Pelúcio, Allan Souza e Bernardo Berro, minha nova família.
L'OFFICIEL Após o término de “Amor Perfeito”, você pretende se lançar em mais algum projeto do cinema ou TV ainda este ano?
BABU: Com Amor Perfeito acabando, eu quero tirar uma semaninha ou duas de férias, mas sim, eu estou lá na diretoria de Nós do Morro e não quero parar. Teve alguns convites para teatro, que eu não faço há bastante tempo e estou sentindo falta; tem a Paizão Records que o pessoal está me cobrando que eu dei uma diminuída, mas estamos querendo lançar coisas aí com a galera, ver se a gente, de repente, faz alguns shows. Olha, vou te falar, o meu maior medo é ficar parado [risos], então eu não gosto de parar, não.
L'OFFICIEL Hoje, no meio cultural, quem você escolheria como as suas principais inspirações?
BABU: Tenho várias! Eu estou trabalhando com Tony Tornado e Tonico Pereira, que são inspirações incríveis, o Lázaro Ramos sempre será uma vertente… nossa ministra, nossa! Uma grande inspiração! Eu, no ano passado, tive contato com a Jandira Feghali, que é uma inspiração imensa. E eu tenho fé nos grupos sociais, como o Nós do Morro, o AfroReggae e eu tenho, principalmente, fé nas crianças, que elas são o futuro.
L'OFFICIEL Você tem muita afinidade com a música, não é Babu? Além de interpretar Tim Maia, participar do The Masked Singer e ter o seu próprio selo musical para revelar talentos do rap e trap, você pensa em mergulhar de cabeça nesse universo como músico?
BABU: Sim, sim! Eu já curtia muito música, desde berço! Apesar de não ter muitos músicos e essas coisas, mas a minha família é uma galera muito musical e isso me conecta muito com esse meio. No Nós do Morro, a gente montou muito musical e depois que eu fui fazer Tim Maia, a música entrou de uma forma na minha vida que eu não quero que ela saia jamais! The Masked Singer foi algo maravilhoso, onde eu pude vivenciar esses momentos de estúdio e estar com uma galera fera do meio! A equipe que fazia as músicas era só a gente fera, só gente braba, e isso me deu mais vontade ainda! O meu selo também é uma coisa maravilhosa, que é essa galera jovem, que me ensina e me mostra como está essa evolução do rap, sobretudo, que eu sou muito fã. Enfim, pretendo e estou me armando até os dentes para entrar com tudo nesse mundo musical e a gente já está colhendo alguns frutos. Claro, a nossa árvore ainda está pequenininha, ela tem que crescer muito, mas já estamos colhendo frutos e com certeza eu vou entrar nesse universo com toda a força e dedicação que o meio exige.
L'OFFICIEL Recentemente você revelou que deseja cursar Ciência Política e que se vê como um futuro candidato daqui há 15 anos. Qual o seu principal motivador para se lançar nesse ramo?
BABU: Sim, eu quero muito voltar a estudar. E, sim, eu me enxergo como um futuro candidato, é para isso que eu quero fazer ciências políticas. E minha inspiração, como eu falei lá na primeira pergunta, são os meus tios, que me tornaram um ser humano questionador. E também, vivendo no próprio meio cultural e social, eu queria um dia experimentar e ter a chance de estar em uma posição onde eu possa, sim, fazer parte do sistema e tentar fazer alguma coisa em prol social e contribuir com a cultura, com toda essa vida que eu tive, tendo esse olhar de dentro, de quem viveu da cultura e do social. Eu queria, assim, contribuir para com o meu país e o meu estado, mas isso é para o futuro. Primeiro, eu vou me municiar de conhecimento. Eu quero ser diferenciado nesse sentido e estou aproveitando para, não só a vida me dando experiência, como eu quero também adquirir conhecimento para que quando eu estiver nessa posição, eu possa, de fato, fazer a diferença e não ser só mais um.
L'OFFICIEL Para as crianças e adolescentes moradoras de favelas, que te vêem na TV e se identificam com a sua história, qual conselho você daria para elas?
BABU: Vocês, jovens, crianças, moradores… Cara, que bom que eu possa ser e estou aqui lutando para que eu continue sendo uma boa referência, e vocês têm que ser muito melhores do que eu, muito melhores! Para tanto, estudem! Eu sei que não é uma tarefa fácil para quem mora na favela, para quem depende de colégio público, porém vocês têm que estudar para mudar a realidade da vida de vocês. O conselho que eu dou é estudem, se dediquem e respeitem pai e mãe. A luta é árdua, mas é necessária, então estudem.