Fertilidade masculina pode melhorar após evento estressante
Durante muito tempo o estresse foi considerado um vilão para a fertilidade masculina. Porém, em estudos recentes mostram uma visão diferente sobre o assunto. Entenda!
Por muito tempo, o estresse foi visto como um verdadeiro inimigo da fertilidade masculina. É um consenso que o estresse causa processos fisiológicos que podem interferir na produção de hormônios reprodutivos importantes, além de, no homem, favorecer o surgimento de proteínas inflamatórias que prejudicam a qualidade do esperma. Mas novas pesquisas estão trazendo uma visão diferente: um estudo publicado recentemente na revista Nature descobriu que, após o estresse, a motilidade e a respiração dos espermatozoides melhoram. E isso muda completamente a forma como entendemos essa relação.
Segundo o Dr. Fernando Prado, especialista em Reprodução Humana, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE) e diretor clínico da Neo Vita, o estresse não deixou de ser um vilão, mas o que esse estudo mostra é que, no período de modulação do estresse, com maior controle sobre o evento estressante, as células germinativas conseguiram se adaptar para melhorar suas funções. Por isso, o estudo concluiu que o estresse influencia a aptidão reprodutiva de longo prazo. Mas isso não significa que devemos induzir eventos estressantes e, sim, que precisamos sair deles.
O estudo mostrou que o estresse aumenta a motilidade do esperma em humanos após dois a três meses. “Em camundongos, o estresse induz regulação genética diferencial e altera a composição da vesícula extracelular (EV), o que subsequentemente leva à atividade mitocondrial e à motilidade alteradas do esperma”, diz o médico. “As evidências sugerem que o estresse prolongado induz alostase, um processo em que as mudanças induzidas pelo estresse na função celular persistem após o seu término. Células epiteliais epididimárias em machos secretam fatores e vesícula extracelular de transporte de carga, que são essenciais para a maturação do esperma”, explica o médico Dr. Fernando.
No estudo, um total de 34 homens saudáveis entre 18 e 35 anos de idade foram recrutados da University of Colorado e da área metropolitana de Denver usando mídias sociais e folhetos. Os participantes do estudo foram examinados quanto ao histórico médico e excluídos com base em critérios específicos, incluindo uso de medicamentos psicotrópicos, abuso de substâncias e anormalidades no esperma. Todos os participantes completaram avaliações, incluindo a escala de estresse percebido e forneceram amostras de sêmen após um período de abstinência de dois dias. Nos experimentos in vitro, foram utilizadas células epiteliais epididimárias distais de camundongo.
Os autores descobriram que o mecanismo de melhora envolve a alteração da dinâmica mitocondrial e o aumento da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs), que, paradoxalmente, podem estimular a atividade dos espermatozoides. “Embora isso possa melhorar a motilidade, também pode ser prejudicial a longo prazo devido ao estresse oxidativo. Enquanto o aumento da motilidade pode parecer benéfico, o estresse crônico tem outros efeitos adversos que podem comprometer a qualidade do esperma e a saúde reprodutiva geral. Essa formação de espécies reativas de oxigênio de maneira crônica pode causar o que chamamos de estresse oxidativo. É uma faca de dois gumes, em que os efeitos imediatos de aumento da motilidade não compensam os danos potenciais causados pelo estresse contínuo”, completa. “Na verdade, o que o estudo mostra é como as células germinativas sofrem um processo de mudança adaptativa chamado alostase, particularmente mudanças mitocondriais e epigenéticas desencadeadas pelo estresse. É uma reação após a volta à normalidade. Então, essas observações sugerem que o gerenciamento do estresse pode ser um componente crucial para melhorar os resultados reprodutivos em homens, enfatizando assim a necessidade de uma abordagem holística nas avaliações e tratamentos de fertilidade”, finaliza o Dr. Fernando Prado.