Exposição abre discussão sobre imagem X acontecimento
O ensaio do artista visual e fotógrafo Jaques Faing, presente no acervo do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, explora a interação entre imagem e objeto imagético.
Durante uma pausa entre os desfiles de moda em Nova York, há 26 anos, Jaques Faing, artista visual e fotógrafo, capturou a primeira imagem que, em 2003, passou a integrar o acervo do Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo. A obra intitulada “New York, 1998, Café I” retrata um senhor em uma cafeteria, imerso na leitura de um jornal.
Para Faing, o tabloide não é apenas um objeto aleatório, mas, sim, o elemento central e significativo da composição imagética, assim como os quadros e o caminhão que aparecem, respectivamente, em “Paris, 1993, Pintor” e “Paris, 1993, Caminhão”. Esses itens são portadores de significados que podem ser organizados de forma consciente ou não, possuindo valores artísticos. Ele afirma que se trata de eventos do cotidiano, que representam uma determinada época.
Formado em Engenharia, Jaques Faing tomou gosto pela fotografia de rua ao notar que até mesmo as cenas simples podem expor narrativas complexas. “Estou conectado aos acontecimentos corriqueiros, e acredito que as representações que capturo refletem isso por meio da relação de conversação entre o objeto imagético e o personagem”, diz.
A inspiração para eternizar o “acontecimento” é derivada da escola de Henri Cartier-Bresson. Ele baseava as suas fotografias em flagrantes diários, conhecidos como o “momento decisivo”. Este conceito ressalta a necessidade de reunir as condições ideais para o clique do momento em que a posição, a iluminação e a atitude dos elementos sejam esteticamente impactantes, considerando como fator decisivo apenas o insight. “Eu estava atento, sou uma pessoa atenta. Por isso, as imagens conseguiram refletir os acontecimentos daqueles instantes”, declara sobre as ilustrações mostradas nestas páginas.
O artista possui extensa carreira nas fotografias de moda e de entretenimento, tendo registrado desfiles, incluindo a New York Fashion Week, por mais de uma década. Algumas de suas fotos de passarela também integram o acervo do Museu de Arte Moderna. Entre as fotografias que compõem o conjunto, dez foram selecionadas por Tadeu Chiarelli, curador-chefe do MAM, de 1996 a 2000, enquanto um retrato foi escolhido por Eder Chiodetto, curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM.
Atualmente, Jaques pesquisa a interseção entre fotografia, desenho e escultura, explorando o ato fotográfico como performance. Quando questionado sobre seu trabalho mais impactante, o artista citou a coleção “Giracorpogira”, que explora como a imagem pode ser transposta para suportes tridimensionais. “Eu provoco o movimento nas três camadas [objeto, câmera e fotógrafo] e isso cria um acaso, um resultado que nunca sei exatamente o que vai ser. Agora não sou mais submisso ao real. Esse caminho marcou a passagem da figuração para a abstração do meu portfólio, pro- vocando algo inesperado, que me emocionou.” A série foi exposta na Pinacoteca e no Museu Afro Brasil, ambos localizados em São Paulo, e agora faz parte dos acervos do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA-RJ) e do Museu de Arte do Rio (MAR-RJ). Faing também deu destaque à coletânea “Life Box” ou “Pedaços de Vida”, um objeto modulável composto por cinco caixas de luz, nas quais estão instaladas fotografias. Estes enredos estáticos, extraídos de nuances urbanas, exibem recortes de frases estampadas em camisetas. A coleção está em exposição na Carbono Galeria, na capital paulista. Além disso, “Eyedada”, que apresenta fotografias de olhos sob a perspectiva dadaísta, está em cartaz na Casa Rosa Amarela, também em São Paulo.