John Drops: moda e ativismo!
John Drops faz parte de um movimento que traz de volta a criatividade e o magnetismo dos tropicalistas – e consolida-se como um dos nomes mais significativos da moda nacional por conta do trabalho pautado em referências autorais do ativismo necessário.
Apenas seis anos separam João Paulo Anjos França de John Drops. O publicitário apaixonado por moda, que não tinha dinheiro para fazer grandes aparições nas mídias sociais, resolveu parodiar as celebridades com looks feitos de papel (ou de qualquer outra matéria-prima, caso dos rolos de fita isolante, da cartolina e dos sacos de lixo). De Kim Kardashian a Anitta, John desfila interpretações bem-humoradas, com direito a likes das próprias famosas. Foi Kendall Jenner a primeira a dar o joinha na versão “dropada” da irmã mais velha. O modelito Balmain usado por Kim numa premiação, em 2014, acabou alçando a tapeçaria de John ao posto de item da nova alta-costura soteropolitana.
Mas o reconhecimento só rolou dois anos mais tarde, quando o artista passou a viver na ponte-aérea entre Salvador e a capital paulista. Hoje, com endereço fixo em São Paulo, o instagramer segue com as antenas ligadas nos red carpets e em todos os lançamentos bombados do universo glam. No espaçoso apê localizado num bairro descolado da cidade – que divide com o alter ego Kimberly –, ele avisa que gosta mesmo é de receber os amigos para longos bate-papos e verdadeiras orgias gastronômicas. “Só não espere encontrar uma casa arrumadinha. Organização não é o meu forte... Sou um escorpiano típico, e ainda tenho ascendente em touro”, diz entre gargalhadas.
O décor da sala pode ser descrito como algo no estilo “minimalista com personalidade”. O sofá grandalhão é convidativo e fica estrategicamente posicionado de frente para o televisor – fonte de inspiração para John, que aproveita a temporada de reality show para destilar comentários engraçados sobre os participantes. Enquanto rola o som de Dua Lipa, ele confessa que é um colecionador compulsivo. “Tenho paixão por bonecos, coisinhas de papelaria e, claro, acessórios fashion.” Ali mesmo, sobre o aparador, o casal do cinema trash Chucky e Tiffany divide espaço com funkos (miniaturas de personagens geeks), livros, porta-joias de prata, megafone retrô e pelúcia do E.T. No hall, o destaque são os desenhos emoldurados, um deles também tatuado no antebraço do artista. Mais adiante, no corredor de acesso que leva aos quartos, cinco prateleiras exibem pares de tênis de marcas famosas.
No ateliê improvisado, ele guarda pilhas de manuscritos, croquis e alguns exemplares babadeiros que foram usados em posts – têm botas e paletó Balenciaga, tote Fendi metalizada, Birkin de papel craft, Chanel de cartolina cor-de-rosa e Prada confeccionada com máscaras cirúrgicas. Entretanto, o seu maior fetiche são as bolsas grifadas – com acervo que conta com Hermès, Jacquemus, Gucci, Dior, Moschino e Louis Vuitton superexibidas. “O estilo de cada pessoa fala muito sobre quem ela é, por isso acredito que a moda é um estado democrático. Ela não é apenas ‘aquela loja’; ela é uma referência que pode (e deve) ser levada para a sua realidade. É por meio da moda que quero influenciar as pessoas corretamente. Estou vivendo um momento em que percebo o meu lado publicitário ferver – e preciso explorar esta fase que chamo de ‘nova Rihanna’, que vai muito além dos 15 minutos de fama.” Sem fugir das polêmicas, John – que sonha em abrir a própria marca e ainda ser pai de dois meninos – acredita que hoje é mais fácil abordar assuntos preconceituosos. “A pauta permite que a gente fale sobre iss o e quem não está a fim de se desconstruir, vai ficar isolado. Sou preto, gordo, nordestino, LGBTQia+ e trabalho na internet com mais de um milhão de seguidores. Rompi um padrão. É isso que quero passar para as pessoas, a história do rapaz que sempre amou a moda e que agora é amado por ela.”
Créditos:
Entrevista: Pedro Buzzatto
Fotos: Rômulo Fialdini
