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Júlio Vieira: entre as boas-novas do mundo das artes visuais

Avessos conectados! Ex-designer e com expertise no circuito da moda, Júlio Vieira brinca com as cores e emplaca as suas telas entre as boas-novas do mundo das artes visuais

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Fotos: Alex Batista/Divulgação

Os primeiros passos profissionais de Júlio Vieira foram na publicidade, contudo, foi na arte que ele encontrou um campo de expressão equipado com os instrumentos necessários para navegar por uma simbologia que tem gênese na própria cultura, nas memórias e nas referências urbanas. No que ele chama de arte autoral, descobriu um repertório muito gráfico, ainda que ancorado na pintura, e uma liberdade manejada por universo ora pictórico, ora abstrato. Júlio fez as primeiras incursões na arte em 2016. Antes, trabalhou com moda e design e foi diretor de arte em uma agência de propaganda. Quando foi demitido, em 2017, decidiu mergulhar de vez no mundo das artes visuais. Grupos de estudo e formações com nomes como o do artista Walter Nomura e do curador Saulo di Tarso ajudaram a dar um norte ao seu portfólio, mas foi o curso “O Processo Criativo”, com Charles Watson, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de Janeiro, que funcionou como divisor de águas. Ali, Júlio começou a entender o próprio processo e a ver com clareza os caminhos estéticos a serem seguidos. “Fez-me entender mais sobre o meu próprio trabalho, que se dá através da prática. É no dia a dia que vou me relacionando e entendendo mais sobre aquilo que quero”, explica.

Fotos: Alex Batista/Divulgação

A cor e a ideia de opostos complementares são dois componentes fundamentais do seu métier. Por sinal, desde os tempos como designer, a cor já aparecia como ponto de partida. Com a pintura, ela tornou-se motivo, tema e propósito. “Isso sempre esteve presente na minha pesquisa. Perceber como guiar o olhar do espectador através da cor é fascinante. Começou de maneira mais suave e o contraste foi crescendo conforme a pesquisa se ampliou”, conta. Hoje, ele entende as tonalidades como um ponto central para outra ideia constituinte do conceito da pesquisa – a de opostos complementares. “A cor serve como instrumento para guiar o espectador”, avisa. Passado um período, Júlio começou a usar materiais que ajudassem a expandir essa gama, como a tinta a óleo, que tem elasticidade capaz de idealizar um certo “efeito mágico”. “Pictoricamente falando, é uma coisa que também me instiga porque a arte vista ao vivo causa outro efeito no espectador. Os efeitos com pincel vêm através das cores e isso vibra, é diferente quando visto ‘in loco’. Atrai-me muito essa ideia de instigar experiências para o espectador”, diz.

Fotos: Alex Batista/Divulgação

A paisagem é um dos temas centrais da sua pesquisa. É ali que ele se depara constantemente com os antagonismos. “São lugares que visito ou pelos quais transito. E esses opostos aparecem, seja falando de arquitetura, seja falando de vegetação. Na própria pintura tem uma coisa da matéria, com áreas bem carregadas de tinta ou áreas bem diluídas. E aí vêm as cores complementares. Uma coisa fundamental da minha investigação é pegar algo muito rotineiro, banal, e fazer um cruzamento com algo ligado ao campo das artes”, explica. É quase uma natureza morta, porém vibrante e exuberante. Júlio apoia-se em trabalhos de outros artistas e, nessa busca por referências, Frans Krajcberg, falecido em novembro de 2017, é um norte. “Ele pegava a natureza que morreu e a transformava em obra de arte para falar daquilo que estava acontecendo. Uma vez que você usa a vegetação e a natureza como narrativas, é inevitável dialogar com a morte delas também. São os opostos complementares”, acredita ele, que investe em grandes formatos, com pinturas que garantem resultados pulsantes. “Assim, o espectador parece que pode entrar dentro da tela.”

Parte deste trabalho pode ser apreciado em uma coletiva no Museu de Arte do Espírito Santo, onde há uma obra de Júlio pertencente ao acervo da instituição. Em outra coletiva, intitulada “As Vidas da Natureza Morta”, em cartaz no Museu Afro Brasil, é possível contemplar algumas pinturas do artista. E, desde setembro, ele está com a sua produção recente numa individual no Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro.

Fotos: Alex Batista/Divulgação
Fotos: Alex Batista/Divulgação

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