Luka Peroš: Conversamos com o ator de La Casa de Papel
O ator croata Luka Peroš, literalmente, roubou a cena na série A Casa de Papel. Na pele de Marselha, ele cativou os espectadores com seu ar enigmático e cheio de estilo
Ele é pontualíssimo. Exatamente às 7h de uma manhã gelada – sábado, Dia dos Pais na Espanha – lá estava ele. Visivelmente tímido, chegou escondido sob a aba do chapéu à Indiana Jones, sobretudo e cachecol, mas não demorou até que o seu lado curioso viesse à tona. Croata radicado em Barcelona – e que residiu em diversas capitais do mundo –, casado com a estilista brasileira Paula Feferbaum há mais de uma década, com quem tem um filho, David Luis, de 9 anos (ele tem mais duas filhas, Ava, 17 anos, e Luna, 23 anos), Luka Peroš ganhou fama do lado de cá do Atlântico graças a Marselha, seu personagem na série “A Casa de Papel”.
O roteiro que lançou holofotes na dramaturgia hispânica além de Almodóvar narra a história de um grupo que resolve assaltar a Casa da Moeda e o Banco da Espanha. O sucesso foi tão avassalador que até as locações usadas no enredo da trama tornaram-se cartões-postais do naipe do Museu do Prado (acredite, existem filas de turistas dispostos a clicar as fachadas dos prédios e arrematar souvenirs). Marselha, um cara de poucas palavras e de muita ação, foi criado para ser uma espécie de curinga para que o plano arquitetado por Berlim (Pedro Alonso) e pelo professor Sergio Marquina (Álvaro Morte) desse certo. “A ideia inicial era fazer uma participação rápida, em que Marselha deveria eliminar o investigador Ángel (Fernando Soto) e depois ser morto. Mas Álex Pina e os outros escritores optaram por mudar o destino dele”, pontua. Talvez a escolha dos autores tenha a ver com o rápido magnetismo do público, que caiu de amores pelo sujeito misterioso e com pinta de James Bond (há quem insista em confundi-lo com Belchior) interpretado por Luka.
Peroš conta que havia feito o teste para dar vida a Bogotá (que ficou com Hovik Keuhkerian), e que foi avisado seis semanas depois que teria outro papel. “Não entendia bem o Marselha e nem a importância que ele teria no decorrer dos capítulos. Confesso que até hoje tenho perguntas a fazer sobre ele”, diz entre gargalhadas.
As cinco temporadas exibidas pela Netflix ficaram no topo das mais vistas no Brasil – e muito disso se deve à escolha certeira do elenco e a narrativa bem costurada (coisa rara no streaming fast food dos dias atuais). Luka despediu-se de Marselha com uma ponta de quero mais – e pode até ser que o grandalhão de quase 2 metros de altura volte ao set no possível sequenciamento não linear que será protagonizado por Berlim. Enquanto isso não é divulgado oficialmente, o ator, que fala oito idiomas fluentemente, incluindo o português, aproveita para mostrar o seu talento em outros filmes. Há poucas semanas, ele estava gravando “Lost Princess”, no Marrocos (ainda sem previsão de lançamento).
“Entendo que a vida é preciosa e importante, por isso é fundamental respeitar as diferenças, sejam elas quais forem. Precisamos deixar de lado os sentimentos de incompreensão. E só vamos mudar a realidade quando aprendermos a eleger pessoas decentes e boas”
Em nome da paz
Dono de um sotaque meio carioca – culpa da esposa, que exala charme fluminense –, Luka entrega que o fascínio pelo Brasil começou muito antes de ter se apaixonado por Paula. Louco por futebol e por corridas de F-1, com grande admiração pelos atletas do escrete canarinho, ele também curte o cinema feito por aqui. “O futebol brasileiro tem algo especial, é mágico. Já sobre as produções brasileiras fui apresentado pela minha avó. Depois disso, tomei gosto e passei a ver filmes, como ‘Tropa de Elite’ e ‘Cidade de Deus’, que, na minha opinião, mostram a dura realidade social brasileira. Aprendi muito sobre as diferenças sociais e a corrupção no País. Só lamento que o Brasil não faça mais filmes e não tenha investimentos governamentais.” Por sinal, Luka é extremamente politizado e, como não poderia deixar de ser, é crítico de todos os governos alienados e dos ditadores que controlam e censuram os seus povos.
Aos 45 anos, ele tem um discurso bastante coerente para descrever o repúdio sobre os conflitos em curso. Em 1991, quando a Croácia declarou a sua independência da Iugoslávia, ele, então com 15 anos, viu de perto os horrores causados por uma guerra. “Não gosto de falar sobre isso. É um trauma que se carrega por toda a vida. Lamento muito pelo o que está ocorrendo entre Rússia e Ucrânia, pois nunca há um vencedor no combate. Todos sempre saem derrotados. Gosto de dizer que sou um liberal pacifista, na verdade, sou um anarquista pacífico que jamais tocaria numa arma. Não entendo o ódio e o desrespeito. Sinto-me incapaz de compreender a maldade humana.”
Texto: Patrícia Favalle
Fotografia: Daniel Brull
Edição De Moda: Alba Vicario
Beleza: Alicia Ogilvie
Assistente de Moda: Jenny Arango
Edição Executiva: Fernanda Russo/Betwyou
Locação: Isabella’s House