Renascer para definitivamente sobreviver
Renascer para tudo aquilo que fomos ou a morte de tudo que somos
Em meio à Revolução Industrial nasceu o Romantismo, um movimento artístico e cultural que priorizava os sentimentos, a intuição e a natureza. Os românticos veneravam a espontaneidade e a originalidade humanas contrapondo o surgimento das máquinas.
A “Era Digital” ou “Revolução Tecnológica” traz um cenário (bem) próximo ao do século XVIII, trazendo as formas de Inteligência Artificial como protagonistas. Subvertendo as expectativas, as IAs e o Romantismo podem estar mais ligados do que imaginamos.
Entre algoritmos e sonhos, reside um espaço onde a humanidade luta para entender sua própria essência e seus anseios. Nesse campo de batalha existencial o Romantismo surge como um fenômeno que tanto ilustra nossa busca por significado na vida quanto expõe nossas mais profundas contradições.
Sempre fez parte do nosso imaginário que a "Ascensão Digital" faria com que tivéssemos também uma vida mais plena e facilitada - acontece que com o avanço dos dados e da informação também tivemos proporcionalmente um aumento patológico e sintomático enquanto sociedade: O uso da tecnologia desafia os limites entre utilidade e dependência. Uma vez que todas as respostas se encontram em nossos gadgets, não existem sinapses feitas de maneira autônoma, no sentido de busca e dedicação, mas sim um fluxo de procura por respostas imediatas que geram uma gratificação imediata desencadeada por uma reação química.
Nos tornamos menos confiantes no processo. Ao passo que a produção e o consumo do conhecimento muda, deixamos de lado a prática da experiência e da intuição, redimensionado nosso significado de Tempo.
Em um mundo cada vez mais medido e analisado, o comportamento humano segue como um enigma a ser desvendado através das lentes do inconsciente. Há quem diga que essa compreensão pode ser alcançada através de padrões algorítmicos. Uma vez que a IA é moldada por nós, corremos o risco de nos perdermos no reflexo? Estamos renascendo através da IA ou assistindo à morte da nossa singularidade? Assim como os românticos buscavam autenticidade em um mundo industrializado, devemos buscar nossa verdadeira identidade na vida e, consequentemente, no meio digital.
Conforme nos adaptamos a este novo cenário, enfrentamos um dilema: ou reaprendemos a valorizar a complexidade das relações, fortalecendo nosso conceito de amor e restabelecendo prioridades (renascer para tudo aquilo que fomos), ou nos rendemos ao conforto enganoso dos algoritmos e perdemos aspectos essenciais da nossa humanidade (a morte de tudo aquilo que somos).
O uso da IA não é apenas uma ferramenta; é um espelho que reflete nossas próprias complexidades e desejos. Enquanto os algoritmos de aplicativos de namoro podem fornecer uma ilusão de compatibilidade, eles também podem acentuar nossas inseguranças. Por exemplo: a constante busca pela "pessoa perfeita" pode ser uma projeção de nossas próprias falhas e desejos não atendidos. O conceito romântico de "alma gêmea" já é nebuloso o suficiente sem a intervenção da tecnologia. A IA, com seus critérios muitas vezes reducionistas, pode realmente entender a complexidade das emoções? A espontaneidade, a incerteza e a profundidade do amor podem ser codificadas?
A imperfeição é algo intrinsecamente humano e um componente essencial da existência que nenhuma máquina conseguirá replicar. Talvez abraçar o caos e o mistério seja a melhor forma de encontrar qualquer expressão de significado verdadeiro.
FELIPE RIBEIRO - @ffelipe.ribeiro