Rodrigo Santoro revela o segredo de atuações "À Flor da Pele"
Rodrigo Santoro, mesmo com a agenda atribulada em gravações de série espanhola Sem Limites, reservou um tempo para posar "À Flor da Pele"
Rodrigo Santoro declara: “Enquanto homem, tenho buscado rever o meu lugar. É importante romper com as estruturas arcaicas que formaram os homens que somos hoje. Essa desconstrução do machismo é um processo coletivo, a começar por escutar o que as mulheres estão falando. Fomos criados em molduras muito rígidas do patriarcado o homem forte, destemido, que não pode demonstrar fragilidade... O que, de maneira nenhuma, justifica atitudes machistas.”
Em entrevista à L’Officiel Hommes Brasil, aos 46 anos e pai de uma garota de cinco anos, ele avisa que a paternidade é o maior papel que já viveu e para o qual nunca teve ensaio. Construir uma relação de confiança com a filha, num processo de escuta mútua e de acolhimento, é a aposta para se tornar uma figura de referência para a pequena. Daí, confrontar estruturas sociais e práticas arraigadas, ao mesmo tempo em que amplia o espaço para questões sensíveis e subjetivas, é uma demanda obrigatória. “Quando um homem se dispõe a desconstruir essa masculinidade, que pode ser tóxica, tem que desconstruir a si mesmo. É desafiador, mas absoluta- mente necessário”, diz.
Estruturas do passado também estão no centro do trabalho mais recente do ator. Das aulas de história, as suas favoritas na época de escola, ele estreia agora na pele do navegador português Fernão de Magalhães, na série espanhola Sem Limites. “Lembrava que ele tinha descoberto o Estreito de Magalhães e que tinha relação com as especiarias.” De fato, a busca por rotas para a troca de produtos entre a Península Ibérica e o Sudeste asiático era um dos objetivos das expedições protagonizadas pelos exploradores europeus. Foi no começo do século 16 que Fernão liderou a primeira viagem para dar a volta ao mundo, numa empreitada em que apenas 18 dos 239 tripulantes sobreviveram. É o feito que inspira o roteiro conduzido pelo diretor Simon West, exibido pela Amazon Prime Video.
Se na sala de aula Santoro gostava de história por possibilitar que viajasse sem sair do lugar, trabalhar em projetos pelo mundo permite mergulhar em culturas e povos diferentes, em outras maneiras de se viver. Seja trabalhando para interpretar um navegador português do século 16, seja aprendendo noções básicas de russo para atuar em um filme como “O Tradutor” ou se aprofundando na Grécia Antiga para um blockbuster como “300”, a busca por compreender a complexidade do ser humano é o que guia a sua carreira.
“O respeito está na base de tudo o que faço. O respeito pela cultura, pelo que o outro pensa, pela individualidade do outro.” Assim, se ele tem a oportunidade de dar uma escapada das gravações, dispensa os pontos turísticos e tenta se misturar aos habitantes das cidades. “Prefiro ir ao bar da esquina, ao restaurante e conversar com os frequentadores habitués. Interesso-me genuinamente por isso”, revela. “Quando comecei a viajar por conta do meu trabalho, o meu olhar expandiu. Foi muito bom como artista, mas também como ser humano. Ajuda a colocar as coisas em perspectiva, a romper preconceitos.”
“QUANDO um HOMEM se DISPÕE a DESCONSTRUIR essa MASCULINIDADE, que PODE SER TÓXICA, tem que DESCONSTRUIR a SI MESMO. É DESAFIADOR, mas ABSOLUTAMENTE NECESSÁRIO”
Arte e Cultura
Natural de Petrópolis, na serra fluminense, com uma carreira que começou na década de 1980 e estourou após o sucesso de “Bicho de Sete Cabeças”, filme de 2000, Rodrigo já atuou em quase 80 produções e se estabeleceu como um dos artistas brasileiros mais respeitados da atualidade. Ao longo dessa caminhada, ele passou a entender a arte como um meio para buscar por novas versões de si mesmo. “A arte é como eu me coloco, como eu me expresso. É o caminho que encontrei para investigar, refletir, amadurecer.”
Entre boas interpretações e oportunidades abraçadas, a carreira de Rodrigo Santoro se encaminhou para os Estados Unidos. Estar numa das indústrias cinematográficas mais poderosas do planeta foi fundamental para projetar o seu nome globalmente. Hoje, não surpreenderia se um artista na mesma posição optasse por seguir com filmes hollywoodianos ou privilegiasse narrativas em inglês, mas daí voltamos ao interesse cultural. “Sempre tive vontade de trabalhar no cinema espanhol, português, colombiano... Todo cinema latino-americano”, fala, recordando-se das inúmeras possibilidades e visões de mundo que passa a ter quem não se limita à arte feita apenas em um país. É nesse sentido que lamenta a situação em que a cultura brasileira se encontra.
“Vivemos um momento muito difícil. O que vem acontecendo é mesmo um desmonte das políticas culturais”, reflete o ator ao enfatizar que a cultura não se limita ao mero entretenimento. “A cultura forma a identidade do país. Ajuda a tecer a sociedade. Representa uma infinidade de questões humanas. É através da cultura que a gente começa a ver o outro. Sem a cultura não há a reflexão.” E sem reflexões, sabemos, nada nem ninguém muda.
Fotografia: MARCUS SABAH
Edição de moda: LUCAS MAGNO
Beleza: GABRIEL GOMEZ
Set designer: BÁRBARA ALBA
Assistente de cenário: LUÍSA CRUZ
Assistente de fotografia: DANIEL SULIMA
Produção de moda: MARIANA FIOCCO
Assistente de moda: MARI BRUXA
Vídeo/ captação: GABRIEL SOLANO
Assistente de vídeo: DAIANY ASSIS
Edição de vídeo: CAROL MARINO
Flores: @FLOR.IDAS
Locação: BELMOND COPACABANA PALACE