Victor Collor e Wendy Andrade: uma visão de vida com propósitos
Com visão de vida cheia de propósitos e permeando novos horizontes, Victor Collor e Wendy Andrade fazem parte de um time jovem, que valoriza os universos da leitura e da escrita – pilares fundamentais para um futuro mais inclusivo.
Para os apaixonados pela literatura, a presença em uma biblioteca é mais que uma simples visitação a um espaço público – é sentir-se em casa, transitar por diferentes épocas e contextos, encontrar- -se com o sagrado. O silêncio exigido convoca à contemplação do conhecimento ali reunido em obras que se consagraram ao longo dos séculos. O ato da leitura promove diálogos enriquecedores, possibilitando interconexões com personagens e enredos de diferentes realidades. Os primeiros lugares destinados à reunião de livros remetem à Biblioteca de Alexandria, a mais famosa de todos os tempos, que foi responsável por determinar o modelo de organização que perdura até a atualidade.
Com o expansionismo, os desbravadores atravessaram fronteiras e levaram consigo as coletâneas arranjadas em espaços que se destinavam à conservação da cultura escrita. Na contemporaneidade, desde 1906, a Montblanc, grife referência em instrumentos de escrita, incentiva as artes e preserva aquilo que a produção intelectual faz de melhor: o pensar. Nessa vibe que contempla o passado e foca no amanhã, a empresa alemã aposta em boas narrativas e em gente antenada – a exemplo dos multifacetados Victor Collor e de Wendy Andrade –, para transformar o mundo num lugar mais acolhedor e sensível. Por essa razão, nenhum outro espaço seria mais adequado para receber a dupla de criativos que a centenária Biblioteca George Alexander, fundada em 1886, no então pátio do Mackenzie College (atual Universidade Mackenzie).
@victorcollor e @_wendyandrade usam relógios, bolsas e acessórios @montblanc
Fotografia PEDRITA JUNCKES
Edição de moda THIAGO BIAGI
Beleza RICARDO DOS ANJOS
Texto PEDRO BUZZATTO
VIVENTE DAS ALAGOAS
Victor Collor reescreve diariamente a própria história. Fotógrafo, autor de um jornal, sócio de restaurante e filantropo, o jovem luta por causas justas. Durante a pandemia, ele destinou 100%
do lucro da venda da série de imagens “Primeiros Brasileiros” aos indígenas da etnia Kuikuro, do Alto Xingu. Apaixonado confesso pelos sistemas manuais de produção e por técnicas antigas que já não se empregam mais no cotidiano, o alagoano radicado em solo paulistano busca por interações entre o passado, o presente e o futuro.
Em seu estilo, Victor também se (re)conecta às memórias afetivas, trazendo para o closet alguns garimpos que faz por suas andanças pelo globo. Com tanto para dizer, qual seria o melhor espaço para cravar os seus interesses? Para ele, a resposta reside na simplicidade de uma estante recheada de livros. “Adentrar uma biblioteca, seja ela majestosa ou apenas uma estante de casa, cujos suportes aguentam textos e fotografias de outros tempos, é como embarcar no curso de fábulas, fatos e ficções de mentes incríveis”, pondera. Conterrâneo de parte da nata da literatura brasileira, a exemplo de Graciliano Ramos, Lêdo Ivo, Aurélio Buarque de Holanda e Anilda Leão, Victor enfatiza o papel dos livros em sua vida, atuando como marcos temporais, que remetem a momentos importantes na construção da sua personalidade. Entre os seus favoritos, ele destaca “Passando a Limpo. A Trajetória de um Farsante”, escrito por seu pai. O livro relata fatos ocorridos na pós-redemocratização do País, e que contribuem para a reflexão sobre ética e coerência.
Foi na fotografia, um espaço de expressão similar ao literário, que Victor se encontrou com a arte. Para ele, tanto a imagem quanto o texto ocupam-se de documentar os acontecimentos, e seria um sonho registrar as suas jornadas por lugares remotos em um best-seller. Certamente, essa é uma forma de manter o olhar atento e de prolongar um momento inesquecível, pausando o ritmo acelerado que faz quase todo mundo se dobrar ao tempo. @VICTORCOLLOR
CONTO FLUMINENSE
Os registros das lentes do fotógrafo e escritor Wendy Andrade revelam a sua delicadeza diante de um cotidiano nem sempre afável. Mas é justamente no contraditório que o seu potencial inventivo se manifesta de forma íntima, autoral e humana. Não é à toa que Andrade foi apontado como uma das 50 pessoas mais criativas do Brasil pela “Revista Wired”. Para além das premiações, Wendy Andrade vence ao conquistar espaços pouco receptivos àqueles que, como ele, são pretos e nasceram e foram criados em uma favela do Rio de Janeiro.
Se o racismo estrutural tece barreiras, a sensibilidade constrói pontes por meio de múltiplas realidades. É dessa dinâmica que a sua obra une reflexão e racionalidade. Desde a infância, ele estabeleceu uma relação carinhosa com a cena literária, graças à sua mãe, para quem os livros atuavam como “um canal de possibilidades e de sonhos”. A exemplo do impacto da leitura em sua formação, ele destaca o livro “Um Defeito de Cor”, de Ana Maria Gonçalves. Essencial para o entendimento do Brasil, o roteiro conta a trajetória de Kehinde, uma mulher negra, capturada criança e trazida como escrava para a Ilha de Itaparica, na Bahia, após ser sequestrada no Reino do Daomé.
Wendy estabelece semelhanças entre o percurso de Kehinde e o dele, que passa a se entender melhor como um homem negro. “Tinha alguns momentos em que precisava parar de lê-lo, porque era intenso demais e me machucava. Embora eu soubesse o que é o racismo, eu não o entendia enquanto uma pessoa negra. Não tinha repertório, não tinha conhecimento de muita coisa.” Andrade também reflete sobre o poder transformador da leitura. Depois de finalizar a obra assinada por Ana Maria, ele deu start ao projeto “Retrato Negro”, trabalho que durou um ano e que registrou – e revelou a potencialidade –, de 366 pessoas negras. Impulsionado pelo sucesso da iniciativa, Wendy sacou da memória a época em que aguardava o tio na biblioteca da escola em que o parente trabalhava. Os dois praticavam um exercício de conversar sobre as leituras que o tio sugeria. Isso fez com que Wendy despertasse o interesse pelo campo da ficção. “Hoje eu escrevo por esse período em que passei na biblioteca; escrevo para lembrar o quanto as coisas são boas e o quanto ter uma trajetória bem construída é importante.” @_WENDYANDRADE