Joias

Bulgari e Cartier: table books contam trajetórias das joalherias

As trajetórias das joalherias Bulgari e Cartier por meio de peças que contribuíram para a construção de suas identidades

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Bulgari: Beyond Time, 280 páginas, 250 dólares. Cartier: The Impossible Collection, 224 páginas, 1.200 dólares.

Dois table books contam as trajetórias das joalherias Bulgari e Cartier por meio de peças que contribuíram para a construção de suas identidades.

Trajetórias de marcas icônicas são sempre empolgantes, principalmente quando são contadas com recortes singulares. De olho nesse nicho, a editora Assouline está lançando livros de duas joalherias que dispensam apresentação: a italiana Bulgari e a francesa Cartier. Para a primeira, o viés são os relógios; na segunda, 100 peças espetaculares. São marcas que remontam ao século 19 e que possuem DNA talhado sobre produtos que se tornaram referência.

 

Bulgari: Beyond Time fala da junção do design italiano com o talento artesanal suíço na criação de seus relógios, que também flertam com a joalheria e alta joalheria. A linha Serpenti mereceu um capítulo especial, com direito à artista Marina Abramović relembrando experiências com cobras e mitologia. Os modelos Bvlgari Bvlgari, Octo e Grandes Complicações também ganharam espaços especiais. É um table book perfeito para amantes de relógios e, mais ainda, para fãs da marca.

 

Cartier: The Impossible Collection, escrito pelo jornalista Hervé Dewintre, que durante dez anos foi editor-chefe de relógios e joias na edição francesa de L’Officiel, resgata a história da Maison e enumera 100 master pieces que também contribuem para contar momentos importantes dessa jornada preciosa. É uma publicação ricamente ilustrada com jóias, relógios e cenas que se tornaram parte da trajetória da Maison, que cativou nomes como Jean Cocteau, Alberto Santos-Dumont, Gloria Swanson e Elizabeth Taylor.

BULGARI: BEYOND TIME

Em 2022, a Bulgari brilhou no Grand Prix d’Horlogerie de Genebra com dois prêmios. O Serpenti Misteriosi, um relógio que também dialoga com a alta joalheria, ganhou o The Jewellery Watch Prize, enquanto o minimalista Octo Finissimo Ultra foi o vencedor na categoria Audacity. No ano anterior, a marca romana já havia faturado o importante troféu Aiguille d’Or. São reconhecimentos que dão a medida do trabalho primoroso por trás dos relógios da marca, que agora está sendo descortinado no livro Bulgari: Beyond Time.

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A serpente inspira um dos modelos mais famosos de relógios da Bulgari.

Nessa jornada, o table book feito sob medida para fãs da marca italiana escalou nomes importantes em áreas variadas para guiar os capítulos. O leiloeiro de joias da Christie’s, Rahul Kadakia, discute gemas; a artista Marina Abramović fala sobre serpentes; o ator, roteirista e diretor italiano Alessandro Gassmann reflete sobre Roma; o atleta e nove vezes medalhista de ouro olímpico Carl Lewis explica a arte de quebrar recordes; e o premiado maestro Lorenzo Viotti comenta sobre trilha sonora, enquanto o futurista Adam Steel dialoga com nomes como o designer industrial Fabrizio Buonamassa Stigliani, o diretor-gerente dos relógios Bulgari Antoine Pin e o CEO da marca, Jean-Christophe Babin, discorrem sobre como serão os relógios para as gerações futuras.

 

Para entender a evolução e a importância da relojoaria na Bulgari é preciso voltar no tempo até 1884, quando o negócio foi criado pelo artesão grego Sotirio Bulgari. A reputação de excelência não demorou para ser conquistada, graças à técnica requintada, qualidade e estética das criações. Ao longo das décadas, foi se consolidando um estilo próprio, cheio de combinações vibrantes de cores, volumes equilibrados e motivos que prestam tributo às raízes romanas da Maison. Do olhar afiado veio a ideia de transformar a serpente em relógio. Nos modelos estilizados do fim dos anos 1940, o corpo maleável era de ouro amarelo polido, em Tubogas – uma faixa flexível com contornos arredondados produzida sem solda – ou em malha de ouro. Depois disso, as versões da serpente exploraram vários formatos de caixa e mostrador em materiais que iam do ouro ao aço. Na década de 1960, os diversos elementos separados simulavam as escamas do réptil, enquanto a caixa do relógio ficava escondida em sua cabeça. Dez anos mais tarde, a técnica Tubogas dava aos relógios serpente um visual de vanguarda e virou uma das marcas registradas da empresa.

 

Já o modelo Bvlgari Bvlgari foi lançado em 1977 na esteira de um relógio digital de edição limitada com a inscrição “Bvlgari Roma” enviado aos 100 principais clientes no Natal de dois anos antes. A inspiração veio das antigas moedas romanas, nas quais a efígie do imperador era cercada de inscrições de poder e prestígio. Da mesma maneira, sua caixa cilíndrica foi inspirada pelas colunas dos templos romanos – uma característica aparentemente simples que é, na realidade, resultado de um meticuloso estudo arquitetônico, marcando o começo de uma nova era de design e experimentação, que ganhou força nos anos 1990 com o lançamento do relógio de mergulho Diagono Scuba, feito de cerâmica e alumínio, além de ser um dos primeiros modelos de luxo a exibir uma pulseira de borracha. 

 

Futurista e considerado o relógio mais fino do mundo até o seu lançamento no ano passado, o Octo Finissimo Ultra comemora os dez anos de lançamento do Octo. O modelo Octo Finissimo veio em 2014. Com espessura de apenas 1,80 mm e um QR code visível que redireciona a uma obra de arte em NFT – uma espécie de autenticação de originalidade –, o modelo é destaque em um capítulo próprio e no último, que fala sobre possibilidades para o amanhã.

CARTIER: THE IMPOSSIBLE COLLECTION

Um head piece em curvas simétricas feito de platina e diamantes, vendido para a socialite Lila Vanderbilt em 1902, e usado por Stella McCartney no The Met Gala em 2011, abre a seleção de 100 peças icônicas reunidas no livro Cartier: The Impossible Collection. Há, ainda, um relógio Santos, batizado em homenagem ao piloto brasileiro Alberto Santos-Dumont, que havia comentado com o amigo, Louis Cartier, a dificuldade em ler as horas em um modelo de bolso durante um voo. E, também, a tiara Halo, usada por Kate Middleton no casamento com o príncipe William em 2011. São itens que ajudam a contar a trajetória da joalheria francesa.

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© CARTIER / DIVULGAÇÃO.

É uma história que começa em 1847, quando Louis -François Cartier assumiu o controle da pequena oficina de jóias de seu mestre, Adolphe Picard, em Paris. Quatro anos depois, quando Napoleão III ascendeu ao poder, o jovem Cartier tornou-se fornecedor da Corte Real através da influência da Condessa Nieuwerkerke. Em 1859, passou para um imóvel no Boulevard des Italiens, onde ficaria por 40 anos e conquistaria uma clientela mais ampla, como as damas da alta sociedade que passavam por ali a caminho do Jardin des Tuileries. Leves e belas, as jóias da Cartier sobressaiam. E não somente. A Maison ganhou prestígio junto à imperatriz Eugénie por meio de um conjunto de chá de prata que ela encomendou.

 

A partir de 1873, os filhos de Louis-François passaram a fazer parte do negócio. Primeiro Alfred; depois, Louis, abrindo espaço para outros produtos. Em 1899, a Cartier mudou de endereço, indo para o número 13 na Rue de La Paix, até hoje espaço icônico da joalheria. Em 1904, Louis deu forma ao primeiro relógio de pulso com pulseira de couro, especialmente para Santos-Dumont. Foi ele quem, também, situou a empresa no nicho do estilo Garland, de joias em platina e diamantes que, em 1909, cedeu espaço para a estética art déco. Nessa época, já com lojas em Paris e Londres, a Cartier abriu o primeiro endereço em Nova York, na 5ª Avenida. A partir do ano seguinte, a expansão internacional ganharia ainda mais força.

 

Reza a lenda que Jeanne Toussaint, diretora do departamento de jóias de luxo da Cartier, gritou “esmeraldas, ônix, diamantes, um broche!” quando viu uma pantera durante um safári em companhia de Louis-François Cartier, que já havia dado a ela o apelido The Panthère. Mas a primeira vez que o felino foi introduzido nas coleções Cartier foi em 1914, num relógio de pulso feminino em ônix e diamantes. Foi nessa mesma época que o desenhista George Barbier criou a famosa ilustração de uma mulher acompanhada por uma pantera, que serviria como convite para uma exposição de jóias. A primeira joia com o tema, entretanto, só foi produzida em 1948, encomendada por Eduardo VIII, Duque de Windsor, para a sua mulher, Wallis. O broche foi criado a partir de uma esmeralda de 116.74 quilates da coleção pessoal do nobre. No ano seguinte, o casal encomendou outra joia com a pantera. Legado de Toussaint, o animal virou símbolo da Cartier, tendo como ponto máximo a extensa coleção Panthère.

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Ilustração famosa de George Barbier, do início do século 20, traz a pantera.

© BULGARI / DIVULGAÇÃO. © CARTIER / DIVULGAÇÃO

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