Diamante: tecnologia a oportunidade de inovação sustentável
Clones de diamante! A pedra preciosa que representa ao mesmo tempo o amor eterno e a destruição de comunidades vulneráveis encontra por meio da tecnologia a oportunidade de inovação sustentável que promete revitalizar uma indústria milenar.
A tecnologia que permite cultivar diamantes em laboratório existe desde 1953 – mesmo ano em que foi lançado o filme Os Homens Preferem as Loiras, no qual Marilyn Monroe cantava que os diamantes (naturais) eram os melhores amigos das mulheres. Considerada uma alternativa mais barata e mais sustentável para uma indústria milenar com longo histórico de crimes ambientais e sociais em torno de sua extração, a aplicação dos diamantes de laboratório ficou limitada apenas ao uso industrial por muitas décadas.
Um pouco antes disso, em 1947, a empresa mineradora DeBeers lançava um dos slogans mais bem-sucedidos da história da publicidade: “Um diamante é para sempre”. Desde então, essa pedra especial passou a fazer parte do imaginário do romance de cinema, como item obrigatório nos anéis de noivado. A mesma frase seria usada posteriormente no filme de James Bond de 1971, traduzida para o português como Os Diamantes São Eternos. Porém é outro filme, Diamantes de Sangue (2006), que conta a verdadei- ra história por trás das pedras vendidas durante a Guerra Civil de Serra Leoa nos anos 1990 para financiar conflitos armados: más condições de trabalho, exploração infantil, baixos salários e violações dos direitos humanos.
Para piorar, para sua extração são deslocadas grandes quantidades de terra e rochas próximas de rios, com alto custo ambiental, causando erosão do solo, desmatamento, movimentação de comunidades e destruição do ecossistema. Por conta disso, algumas das principais marcas de joias, como Cartier, Boucheron, Chopard e Tiffany’s, trabalham hoje somente com matérias-primas com certificados de responsabilidade social e ambiental. Porém ainda oriundas da mineração.
Criados em laboratório
A receita para um diamante natural é simples: átomos de carbono puro cristalizados por meio de altíssimas temperaturas e muita pressão. É a única das pedras preciosas feita com base em apenas um material. Foram criados nas profundezas (mais de 120 quilômetros abaixo da superfície), na ocasião da formação da Terra, há bilhões de anos. As gemas sintéticas são como se fossem clones, ou cópias feitas em ambiente controlado como câmaras vedadas e, atestadamente, indistinguíveis das naturais. Possuem as mesmas propriedades físicas, ópticas e químicas das originais, resultando nos mesmos padrões de qualidade de corte, clareza, cor e quilate. São diferentes das gemas artificiais, que são feitas de elementos diversos daqueles que se quer representar, como as zircônias cúbicas produzidas para imitar o diamante, mas criadas a partir do óxido de zircônio e não do carbono. A vantagem da versão sintética, portanto, é que pode ser produzida em muito menos tempo, em poucas semanas, porém com a mesmíssima qualidade.
Apesar das vantagens evidentes na produção dos dia- mantes de laboratório e das possibilidades econômicas e criativas para o segmento de joalherias, eles ainda enfrentam certa resistência por alguns setores mais conservadores do mercado de luxo. A justificativa é que o valor de um diamante vem de sua raridade e preciosidade, o que não se aplicaria a essa versão fabricada e mais barata.
Curiosamente, o mesmo conglomerado DeBeers, que detém grande controle sobre a produção e comercialização em todo o mundo, foi cobrado por métodos mais limpos de exploração de diamantes. Passou então a ser responsável pela popularização do material em anos recentes. Desde 2019, começou a investir na pesquisa e no desenvolvimento como estratégia para revitalizar essa indústria.
Esse movimento funcionou como chancela para esse tipo de produto nas vitrines, gerando preços ainda mais competitivos, ao mesmo tempo que reforça a diferença entre as duas peças, garantindo o valor do produto original. “Por ser um produto novo e supertecnológico, o diamante de laboratório vem para quebrar paradigmas sobre o que as pessoas pensam a respeito de diamantes”, avalia Luna Nigro, da Gaem, pioneira no país na criação de joias com diamantes de laboratório. Ela lançou a marca em 2021, com a sócia Julia Blini. “As pessoas veem a linda peça na vitrine mas não sabem a história que está por trás...” Apesar da incerteza de trabalhar com algo tão inédito, a recepção do público foi muito boa. “Quando existe um produto idêntico, sem fazer mal para ambiente ou comunidades vulneráveis e ainda com preço competitivo, por que gastar mais pela mesma coisa?”, questiona Julia. Para a dupla, esse recurso deve tornar mais acessível o uso de diamantes para outros públicos. “A gente não queria ser uma marca pretensiosa ou intimidadora, a Gaem não faz uma joia para ser guardada no cofre. É para fazer parte do seu dia a dia, usar até com jeans e camiseta”, recomenda Luna Nigro.
Algumas marcas de luxo internacionais também passaram a apostar no setor dos diamantes de laboratório para reforçar um maior compromisso com as bandeiras de sustentabilidade e inovação. É o caso do conglomerado de luxo francês LVMH, o maior do mundo, que investiu 90 milhões de dólares na startup israelense de diamantes cultivados em laboratório Lusix. A marca de cronógrafos Tag Heuer, que faz parte do grupo, lançou em 2024 o primeiro relógio com diamantes de laboratório: uma versão do modelo Carrera Plasma. Custando cerca de 2 milhões de reais, leva 124 diamantes de 15,5 quilates. Não vai servir como um substituto das peças convencionais, mas é uma opção dentro do catálogo, pensado para um cliente que tenha em mente esses valores como fator de decisão de compra.
Já a Pandora, uma das maiores marcas de joalheria do mundo, trocou definitivamente os diamantes oriundos de mineração em 2021. A pegada de carbono de um diamante cultivado em laboratório nesse caso chega a ser 95% menor do que se tivesse sido extraído de uma mina. “Queremos que mais pessoas experimentem o poder e a beleza dos diamantes cultivados em laboratório todos os dias, em formatos clássicos e inesperados”, comenta Francesco Terzo, diretor criativo da marca, sobre a coleção Diamonds by Pandora, tão exclusiva que apenas cinco países receberão as joias, sendo o Brasil um deles.
É uma estratégia diferente da Swarovski, que tradicionalmente sempre fez bijuterias, porém com a coleção Created Diamonds, lançada em 2016, criou uma nova categoria de produtos em sua oferta, com o apelo também do custo reduzido como benefício. As pedras são certificadas pelo Instituto Gemológico Internacional (IGI) como um diamante convencional. “Os diamantes cultivados em laboratório desempenham papel significativo no futuro do setor de diamantes e representam uma categoria de crescimento estratégico para a Swarovski. Nossa parceria com a IGI garante a qualidade de cada pedra e aumenta a confiança do consumidor,” afirma Alexis Nasard, CEO da marca.
Entre a ancestralidade, a raridade e a história do diamante natural e a inovação, a agilidade e a sustentabilidade do diamante de laboratório, o futuro reserva espaço para ambos. Até a eternidade...